Com o mundo político de olho na tramitação da reforma tributária na Câmara, do outro lado do Congresso o ex-ministro Carlos França, que foi chefe do Itamaraty de Jair Bolsonaro, avançou casas para se tornar embaixador do presidente Lula no Canadá. Ele teve a indicação aprovada nesta quinta-feira pela Comissão de Relações Exteriores do Senado.
Segundo apurou a Coluna, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), quer pautar a votação em plenário já na semana que vem. A tendência é que a aprovação ocorra sem percalços. Hoje, Carlos França foi avalizado por unanimidade na CRE, presidida pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL), aliado do governo Lula e pai do ministro dos Transportes, Renan Filho.
Diplomata de carreira, França foi formalmente indicado para o cargo de embaixador há duas semanas, em 21 de junho, quase um mês depois de o Canadá conceder o aceite do diplomata, que também foi chefe da Assessoria Especial da Presidência de Jair Bolsonaro.
A sabatina de Carlos França só foi marcada na comissão do Senado após ele prestar depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Na oitiva, o ex-ministro das Relações Exteriores afirmou que a reunião com embaixadores - que levou Bolsonaro a ser condenado à inelegibilidade - foi um pedido da Presidência da República, e não iniciativa sua à frente do Itamaraty.
O governo gostou da postura, mas Carlos França nega relação com a soltura do nó da sabatina. A interlocutores, o ex-ministro afirma que seu depoimento ao TSE foi “técnico e isento”.
Sucessor do ultradireitista Ernesto Araújo no Itamaraty, o provável novo embaixador de Lula era considerado um quadro moderado no governo Bolsonaro até participar da reunião com embaixadores, quando o ex-presidente atacou sem provas as urnas eletrônicas brasileiras.
Justamente pela participação de Carlos França na reunião que levou Bolsonaro à inelegibilidade, o mundo diplomático reagiu negativamente à indicação do ex-ministro pelo governo Lula. Mas o Palácio do Planalto decidiu bancar o nome do diplomata, inclusive com apoio do ex-chanceler Celso Amorim, para evitar um clima de “caça às bruxas” dentro do Itamaraty.
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