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Coluna do Estadão

| Por Roseann Kennedy

Roseann Kennedy traz os bastidores da política e da economia, com Eduardo Gayer e Augusto Tenório

Genoino volta à cena política com dois livros na praça e estilo radical, mas ‘sem revanchismo’

Ex-deputado fala sobre guerrilha do Araguaia, acordos fechados na Constituinte de 88, mensalão, impeachment e Forças Armadas

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Foto do author Vera Rosa

De volta à cena política, mas ainda longe dos holofotes, o ex-deputado José Genoino vai lançar dois livros até o fim do ano. Um deles, intitulado Constituinte – Avanços, Heranças e Crises Institucionais, lembrará passagens vividas por ele durante as discussões no Congresso para a elaboração da nova Constituição, que completará 35 anos em 5 de outubro.

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A outra publicação, Do Encantado eu vim, abordará a trajetória de Genoino desde 1967, quando entrou no PC do B, da guerrilha do Araguaia ao Congresso. Contará, ainda, tudo o que ele viveu durante o mensalão, escândalo que atingiu o primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, e seus dias no cárcere. A propósito, Encantado é o nome do povoado onde o petista nasceu, um distrito de Quixeramobim, no Ceará.

Ex-presidente do PT, Genoino foi condenado no processo do mensalão, em 2012, e chegou a ser preso. “Naquela época, tive um pesadelo violento: eu estava no pau de arara e quem me interrogava vestia toga preta”, contou.

Genoino diz ter sonhado com homens de toga que o interrogavam no pau de arara Foto: Alex Silva/ESTADÃO

Em maio deste ano, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli disse ter votado pela condenação de Genoino, mesmo sem acreditar que ele fosse culpado.

“Todos nós que conhecemos o José Genoíno sabemos que ele não tinha ideia do que estava se passando. Completamente ingênuo e inocente em tudo o que aconteceu”, afirmou Toffoli. “Todavia, ele havia assinado o contrato de financiamento (empréstimo no Banco de Minas Gerais – BMG). Portanto, acabei por optar em votar pela condenação.”

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Capa do livro 'Constituinte', de José Genoino e Andrea Caldas Foto: Divulgação

Questionado se perdoava Toffoli, que no passado foi assessor da liderança do PT na Câmara, Genoino desconversou. “Não é problema de perdão. É de reparação política”, respondeu. “Eu trabalho com o conceito de memória, sem revanchismo.”

Na época da Assembleia Nacional Constituinte, Genoino ajudou a costurar acordos, entre os quais um que tratava do artigo 142, usado recentemente por seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro para defender uma intervenção militar no País.

Rebelião

O dispositivo diz que as Forças Armadas se destinam “à defesa da Pátria, à garantia dos Poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem”. A expressão “lei e ordem” foi encaixada no anteprojeto da Constituinte, em 1987, e a tentativa de apagá-la do texto quase provocou uma rebelião militar.

Genoino queria trocar aqueles dizeres por “ordem constitucional”. Então líder do PMDB no Senado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso conseguiu negociar um meio-termo para que a atuação militar só ocorresse em caso de chamado de um dos Poderes.

O PT tentou, recentemente, emplacar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para acabar com operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Batizada de “PEC antigolpe”, a proposta não conseguiu apoio nem mesmo do governo Lula. “Estão querendo enterrar o que as Forças Armadas fizeram com o País”, criticou o ex-presidente do PT. “O Brasil precisa sair da teoria do esquecimento.”

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Em co-autoria com a pesquisadora Andrea Caldas, Genoino diz que Constituinte – Avanços, Heranças e Crises Institucionais tratará dos impasses enfrentados pelo País, principalmente após o impeachment de Dilma Rousseff, em 2006. E Do Encantado eu vim, escrito com o jornalista Roberto Benevides, mostrará capítulos da vida de um filho de agricultores que chegou a ser considerado o mais “tucano” dos petistas e hoje se aliou à extrema-esquerda do partido.

Na prática, o homem que já foi o deputado mais votado do Brasil está de volta à cena política, mas só atua nos bastidores. “Agora, quero me dedicar a escrever e a dar aulas”, diz ele.

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