O senador Fabiano Contarato (PT-ES), ex-líder do PT no Senado, criticou a forma como o governo Lula tem atuado nas pautas em discussão no Congresso, em especial em assuntos de segurança pública e de costumes. Para o senador petista, a decisão do Palácio do Planalto de não se envolver na articulação sobre esses temas é errada e dá espaço para a direita prevalecer no debate público. Fugir desses debates, disse Contarato em entrevista ao Broadcast/Coluna, acarretará “custo muito alto” para o governo em 2026.
A posição de Contarato contrasta com a que outros integrantes do PT adotam publicamente. Líderes do governo, como os senadores Randolfe Rodrigues (sem partido-AP) e Jaques Wagner (PT-BA), defendem que o Palácio do Planalto foque os esforços na pauta econômica do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Apesar de ter conquistado vitórias nessa agenda - como a aprovação do novo arcabouço fiscal e da reforma tributária -, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva colecionou, desde o início do mandato, algumas derrotas em temas de interesse da direita. A restrição das saídas temporárias foi um dos pontos em que o petista foi derrotado. O Congresso também fez avançar, desde o ano passado, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que criminaliza o porte de drogas. Outro projeto polêmico que teve andamento recentemente foi o que equipara o aborto ao crime de homicídio após as 22 semanas de gestação. Diante da ampla repercussão negativa, o governo decidiu se posicionar contra e atuar para travar o andamento da proposta na Casa Baixa do Congresso.
“Eu não concordo (com essa posição do governo). Se a gente não pautar temas como segurança pública, a direita pauta da pior forma que puder. A gente tem que avançar nessa pauta, exercer um protagonismo de forma responsável”, afirmou o ex-líder do PT no Senado.
Contarato sugeriu, por exemplo, que o PT apoie o enquadramento dos crimes contra a administração pública e contra o sistema financeiro como hediondos, uma pauta que teria grande apelo popular.
“Não vejo de forma positiva o comportamento dentro do governo de ter preocupação apenas com a pauta econômica. O governo tem que ter olhar em todos os segmentos”, declarou.
Para Contarato, a segurança pública adquiriu uma prioridade no debate nacional que, até poucos anos atrás, era do combate à corrupção. Segundo pesquisa Atlas/CNN divulgada em junho, o governo Lula tem a pior avaliação quando o quesito é a área da segurança pública. Contarato observa que o governo federal falha no debate desse setor e aponta quais são os prejuízos dessa postura.
“Esse é um tema que tem que entrar (no debate do governo), sob pena de ter um ônus a carregar. Eu não quero pagar por esse ônus, por isso tenho feito esse enfrentamento”, afirmou.
Ex-delegado da Polícia Civil e único senador declaradamente homossexual, Contarato foi eleito pela Rede Sustentabilidade e é filiado ao PT desde dezembro de 2021. É um dos senadores que se posicionam de forma mais firme nas pautas de costumes. Outro tema citado por ele, por exemplo, é a redução da maioridade penal e a castração química de estupradores.
“Sou contra a redução da maioridade penal, que é uma cláusula pétrea. Mas não acho razoável um adolescente em conflito com a lei que pratica um ato infracional com violência ou grave ameaça ou equiparado ao hediondo, como um exemplo no Espírito Santo, em que um adolescente entrou em uma escola e metralhou as pessoas, ele vai ficar no máximo três anos em internação. Por que a gente não inicia o debate?”, questionou o senador, citando a possibilidade de aumentar o período de internação dessas pessoas.
“O que era antes a corrupção, agora é a segurança pública. Essa é uma reflexão boa. Por que as pessoas, se você falar em castração química, aplaudem? Pena de morte, prisão perpétua? Fico estarrecido”, disse. “Porque ela (população) se vê vulnerável e se vê violentada na liberdade de ir e vir. Ela se agarra naquilo que acha que é o mecanismo mais imediatista”.
“Sou do PT e votei para derrubar o veto das saidinhas, por exemplo”, citou. Para Contarato, evitar o embate sobre segurança pública e outros assuntos da chamada “pauta de costumes” terá um “custo muito alto” para o governo em 2026.
O senador disse que suas ponderações sobre o assunto não encontram repercussão interna no partido e na bancada do PT no Senado. “Queria que tivesse mais a percepção de que é urgente. A população só adere a esse discurso populista porque está fragilizada”, afirmou.
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