O jantar para comemorar a vitória de Hugo Motta (Republicanos-PB) na eleição para a presidência da Câmara varou a madrugada deste domingo, 2, e reuniu políticos de diversos matizes ideológicos, do PT ao PL, em um amplo salão de Brasília. Um petista próximo ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu, sob reserva, à Coluna do Estadão: “O Centrão sabe fazer festa.”
Eleito com 444 votos, em primeiro turno, Motta virou uma espécie de consenso na Câmara, apoiado por lulistas e bolsonaristas. Recebeu em sua confraternização ministros de Lula, a exemplo de Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Jader Filho (Cidades), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos) e André Fufuca (Esporte), e deputados bolsonaristas, como Caroline de Toni (PL-SC), Eduardo Pazuello (PL-RJ) e Alexandre Ramagem (PL-RJ).
Apostas sobre a tão esperada reforma ministerial e elogios ao discurso de Motta após vencer a disputa na Câmara marcaram a comemoração.
Petistas viram um aceno à esquerda quando o novo presidente da Casa fez menção ao filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, que narra a história do desaparecimento de Rubens Paiva (Selton Mello) durante a ditadura militar e a luta de sua mulher, Eunice (Fernanda Torres), pelo reconhecimento da morte do deputado. O longa foi indicado em três categorias do Oscar. A bancada do PSOL chegou a se levantar para aplaudir o pronunciamento de Motta.
“Ele mostrou que estamos virando a página do bolsonarismo”, resumiu o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira. “A luta contra a ditadura foi muito presente na vida da família Motta”, afirmou o novo líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ).
Figuras de destaque na Operação Lava Jato também bateram ponto na festa. O empresário Wesley Batista, de volta à política após um escândalo que culminou com sua prisão, em 2017, circulou animadamente pelo salão. Dono da holding J&F, ele chegou a dizer, brincando, que nem sabia como havia parado ali. Aos jornalistas que o abordavam, confessou estar “assustado” com o assédio da imprensa.
O prefeito de Maceió (AL), João Henrique Caldas (JHC), teve longa conversa com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann. O presidente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), Marcelo Andrade, e o vice-presidente sênior da BYD no Brasil, Alexandre Baldy, também compareceram, assim como Guilherme Derrite (PL-SP), secretário de Segurança do governo Tarcísio de Freitas.
No meio do salão, enfeitado com flores brancas ao centro das mesas, vários barmen faziam drinks autorais, que iam de Caipirosca de uvas verdes a Boulevardier, com Bourbon Jim Beam, Vermute Rosso APTK, Campari e slice de laranja Bahia. Garçons serviam espumante, whisky, vinhos branco e tinto. Havia mesas de antepastos com salada de camarão, ceviche e carpaccio. No cardápio principal, filé mignon, risoto de parmesão e purê de mandioquinha, entre outros pratos.
Após ter ido na noite de sexta-feira à festa de despedida do deputado Arthur Lira (PP-AL), que comandou a Câmara por dois mandatos, o ex-presidente da Casa Eduardo Cunha (Republicanos-RJ) também compareceu à homenagem a Motta, seu afilhado político. Responsável por dar o pontapé inicial no impeachment da então presidente Dilma Rousseff, em 2016, Cunha hoje conversa sem problemas com deputados do PT.
Embalada por sucessos atuais e antigos da música sertaneja – de “Boate Azul” a “Pense em Mim” –, a festa esquentou quando o cantor de forró Luan Estilizado, da Paraíba, subiu ao palco, que exibia no fundo imagens coloridas e psicodélicas. O ministro Padilha arrancou cumprimentos de colegas ao exibir habilidade na pista de dança.
Lira chegou à festa sorridente e garantiu que tinha plena confiança no sucessor. Cercado por repórteres que queriam saber se ele iria para algum ministério, o ex-presidente da Câmara desconversava: “Não recebi nenhum convite”. A mesma atitude era adotada por Gleisi. “Ninguém pode sentar na cadeira antes da hora”, dizia.
Longe de Lira, muitos de seus colegas observavam que ele estava mais feliz ainda com o triunfo de Motta porque o deputado não havia superado o seu placar. Motta obteve 444 votos, vinte a menos do que ele conquistara em 2023. “Estou é orgulhoso”, afirmou Lira, ao saber do comentário. Nesse ranking, Motta se tornou o segundo presidente mais votado da Câmara.
Naquele ambiente que reuniu importantes personagens da cena política de Brasília, da esquerda à extrema-direita, não parecia haver disputa entre governo e oposição. “Votei em você”, disse Gleisi para o deputado Altineu Côrtes, eleito primeiro-vice-presidente da Câmara. Côrtes é filiado ao PL de Bolsonaro.
Os presidentes do Republicanos, Marcos Pereira, fiador da candidatura de Motta; do União Brasil, Antonio de Rueda; do MDB, Baleia Rossi; e do PP, Ciro Nogueira, considerado o “padrinho” do novo presidente da Câmara, também foram prestigiar o deputado.

Eleito presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP) também promoveu um convescote que adentrou a madrugada, mas em estilo “petit comité”, com a presença de senadores como Efraim Filho (União Brasil-PB) e Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB), além do ministro Padilha. O articulador político do governo Lula já está sendo chamado na Praça dos Três Poderes de “arroz de festa”.
