Até aliados se surpreenderam com a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça-feira, 25, quando a Corte começou a analisar se vai tornar réus Bolsonaro e aliados por uma suposta tentativa de golpe. Em ato inédito, Bolsonaro se sentou na primeira fileira do auditório, ao lado dos advogados, a poucos metros dos ministros do Supremo que julgarão seu caso. De dentro do tribunal, o ex-presidente, que chegou a poucos minutos do início da sessão, também publicou uma crítica nas redes sociais ao relator do caso, Alexandre de Moraes.
O gesto do ex-presidente foi interpretado como um recado para tentar engajar o bolsonarismo e refutar as críticas de opositores de que Bolsonaro seria “fujão” ou “medroso”. Neste mês, o PT publicou nas redes sociais que Bolsonaro tinha “alto risco de fuga”, ao lado de uma foto do ex-presidente correndo.

Mas, passado o primeiro dia de julgamento, a escolha pode ter um efeito negativo. Advogados ressaltam que Bolsonaro, como todo investigado, tem direito a comparecer ao julgamento. Mas divergem sobre a atitude ser lida como respeito ou constrangimento.
O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que já defendeu ex-presidentes, diz que recomenda aos clientes não irem aos tribunais. “Sempre recomendo que meus clientes não estejam presentes. Pode parecer uma espécie de provocação. Em regra, nenhum advogado permite que o cliente esteja presente, como um gesto de respeito ao tribunal”, disse o criminalista, que ponderou: “O réu tem o direito de estar presente. Acho que não tem o direito de ficar sentado lá e criticar o STF nas redes”.
Marco Aurélio de Carvalho, coordenador do Prerrogativas, grupo de advogados ligados ao PT, afirmou que Bolsonaro foi “infeliz” e cometeu um erro de estratégia. “Ele fez um cálculo realmente muito equivocado. A presença dele legitimou um processo e um sistema contra os quais ele vem se insurgindo”.
Para a advogada Janaina Paschoal, contudo, a presença de Bolsonaro foi um sinal de “demonstração de respeito” ao Supremo. Opinou na mesma linha o advogado Miguel Reale Júnior, ex-ministro da Justiça: “Não há qualquer confronto”.