A declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que comparou a ação israelense em Gaza com o Holocausto, esgarçou ainda mais a relação entre o atual governo brasileiro com Israel, mas o Ministério das Relações Exteriores avalia não haver razão para escalar a crise entre os dois países e vai agir para conter a tensão. Segundo apurou a Coluna do Estadão, a estratégia do ministro Mauro Vieira será usar o tempo elástico da diplomacia para contornar a situação.
Interlocutores afirmam que o chanceler vai aguardar a conversa do embaixador brasileiro em Israel, Frederico Meyer, com o ministro das Relações Exteriores israelenses, Israel Katz. Somente após receber um relato do encontro, souber do tom e das cobranças feitas pelo governo do primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, decidirá os passos seguintes para manutenção do diálogo entre as duas nações.
Nos bastidores, a diplomacia brasileira minimiza a gravidade da convocação e relata que o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, também já foi chamado pelo Itamaraty para esclarecer, por exemplo, o encontro dele com o ex-presidente Jair Bolsonaro, num evento na Câmara, causando desconforto com o governo Lula. Os diplomatas não fazem comparação do mérito dos assuntos que geraram o chamado para esclarecimentos, mas observam que é uma possibilidade técnica em diversas situações.
Há quatro níveis para mostrar o tamanho do inconveniente diplomático até um eventual rompimento entre países. O Brasil avançou o primeiro agora quando a chancelaria israelense chamou o embaixador brasileiro para dar explicações. Os seguintes seriam Israel chamar o seu embaixador para consulta em Tel-Aviv; a expulsão do embaixador brasileiro de Israel ou retirada do embaixador israelense do Brasil; e, por fim, o rompimento.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.