O criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay, surpreendeu o ambiente político ao divulgar uma carta com críticas ao presidente Lula. Não pelo teor, mas pelo fato de ele – um petista de carteirinha – verbalizar uma queixa recorrente nos bastidores do governo e do Congresso. “Ministros e senadores me mandaram mensagem elogiando minha coragem. Evidentemente, não vou abrir quem mandou”, afirmou Kakay à Coluna do Estadão.
As reclamações ocorrem desde o início da gestão Lula 3 e têm aumentado à medida que a popularidade do governo despenca. Como mostrou a Coluna do Estadão, nos últimos dias, governistas da esquerda ao Centrão dizem que Lula “padece do mesmo mal de Jair Bolsonaro” ao só ouvir quem não tem coragem de falar o que precisa ser dito. Parlamentares apontam ainda que o presidente “esnoba” deputados e senadores. Nomes de peso no Congresso enviaram recados ao Planalto de que “não adianta chamar na eleição”.
Na carta, Kakay não citou nomes. Mas, em Brasília, políticos diziam não ter dúvidas de que a queixa sobre Lula estar isolado e capturado, por questões políticas e pessoais, tem destinatários: o ministro da Casa Civil, Rui Costa, e a primeira-dama, Janja da Silva. Procuradas, as assessorias de Janja e Rui não comentaram.
Apesar do tom elevado na carta pública, o advogado Kakay disse à Coluna que “mantém apoio incondicional” ao presidente Lula.

O advogado enviou a carta crítica inicialmente num grupo fechado de WhatsApp com apoiadores do governo. Segundo apurou a Coluna do Estadão, cinco ministros fazem parte: Fernando Haddad (Fazenda), Vinícius de Carvalho (CGU), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), Jorge Messias (AGU) e Anielle Franco (Igualdade Racial). Por lá, silêncio absoluto, e clima de constrangimento.
Procurados via assessoria, Haddad, Jorge Messias e Anielle Franco não responderam até o fechamento. Vinícius de Carvalho afirmou que não comentaria. E Paulo Teixeira disse que “tem trabalhado muito e não tem tido tempo para ler todas as mensagens que chegam nos grupos dos quais participa”.