O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deu uma bronca na ministra da Saúde, Nísia Trindade, durante a reunião ministerial desta segunda-feira, 18, pela situação precária dos hospitais públicos no Rio. Em seguida, porém, tratou de expressar sua confiança na ex-presidente da Fiocruz, na tentativa de protegê-la da fritura crescente alimentada pelo Centrão e pelo próprio PT.
Nísia Trindade fez uma fala inicial de aproximadamente 15 minutos e chegou a se emocionar em meio à pressão pela sua cadeira. Ela apresentou justificativas para aspectos da sua gestão que têm sido criticados: o combate à dengue, a crise da Terra Yanomami, a relação com o mundo político e, mais recentemente, os hospitais federais no Rio.
De acordo com relatos feitos à Coluna do Estadão, Lula reforçou sua confiança em Nísia mas disse que ela deve “trocar quem tiver de trocar” para resolver o problema na capital fluminense. No domingo, 17, o programa Fantástico, da TV Globo, exibiu uma reportagem sobre materiais vencidos e falta de atendimento nos hospitais federais do Rio, que foram alvo da intervenção do Ministério da Saúde na semana passada.
A decisão de centralizar os processos de compras dessas unidades deflagrou uma forte insatisfação no PT, que fez as indicações para os hospitais. Além disso, o Centrão quer a cabeça da ministra pela dificuldade no acesso a emendas da pasta.
Lula ainda afirmou que o Ministério da Saúde precisa deixar claro que “a dengue não é a covid”. Ou seja, é um problema nacional e não mundial, o que dificulta o interesse de outros países na produção de vacinas. Para o presidente, que chama o ex-presidente Jair Bolsonaro de “genocida” por sua atuação na pandemia, a pasta precisa comunicar melhor o que tem feito para evitar a proliferação da doença.
Mais cedo, o município de São Paulo — principal palco da polarização entre Lula e o ex-presidente Jair Bolsonaro nas eleições municipais deste ano — decretou estado de emergência em saúde pública diante da disparada dos casos de dengue. A capital paulista já registrou 49.721 casos e 11 óbitos.
A reunião ministerial desta segunda-feira aconteceu no Palácio do Planalto após pesquisas indicarem queda na aprovação do governo. Ministros foram proibidos de entrar com celulares.
A crise dos yanomami é outro ponto sensível para o governo: foram 363 mortes em 2023, mais do que as 343 em 2022, durante o governo Bolsonaro. Como informou a Coluna do Estadão, o Ministério dos Povos Indígenas (MPI) vai contratar por R$ 185 milhões, sem abertura de licitação, uma empresa de locação de aeronaves para transportar alimentos à Terra Indígena Yanomami.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.