BRASÍLIA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seu colega norte-americano Joe Biden combinaram de conversar por telefone, nesta terça-feira, 30, sobre a crise na Venezuela. Os dois países estão preocupados com a escalada de tensões na América do Sul, após a ditadura chavista proclamar a reeleição de Nicolás Maduro sem apresentar as atas de urna, como pedem os observadores internacionais.
Segundo apurou a Coluna do Estadão, a ligação telefônica foi um pedido da Casa Branca, que tem o Brasil como seu principal interlocutor na América do Sul. A conversa deverá ocorrer às 15h30 desta terça-feira.
Escalado por Lula para acompanhar o processo eleitoral em Caracas, o assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, conversou nesta terça com Maduro e também com o candidato da oposição, Edmundo González. Ele cobrou a divulgação dos boletins de urna por parte do presidente da Venezuela.
Amorim retorna a Brasília nesta terça e, a depender do horário, pode acompanhar a conversa do presidente com Biden.
A expectativa é de que Lula se pronuncie sobre as eleições na Venezuela, marcadas por suspeitas de fraude, apenas depois de conversar com Amorim.
Posturas distintas marcam reações de EUA e Brasil diante da crise
Desde os primeiros movimentos após Maduro se autoproclamar vencedor, as posturas dos dois países registram comportamentos distintos. Imediatamente após a divulgação do resultado oficial dos números, sem que as atas sejam reveladas, o chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, expressou “grave preocupação” com a possibilidade de o resultado não refletir a vontade do povo venezuelano e pediu uma apuração “justa e transparente” dos votos.
Enquanto isso, o Brasil só se pronunciou nesta segunda-feira, 29, em tom bem mais ameno e sem críticas diretas ao regime Maduro e à falta de transparência no processo eleitoral. Por meio do Itamaraty, o País divulgou nota em que saudou o que chamou de “caráter pacífico” das eleições venezuelanas, e disse que “acompanha com atenção o processo de apuração”. O governo brasileiro também pediu a verificação imparcial os resultados, pedindo a publicação dos dados desagregados por mesa de votação, mas sem se posicionar sobre o fato de que o governo Maduro, aliado da atual gestão brasileira, ter se declarado vencedor sem que os dados fossem publicizados.
Ainda nesta segunda-feira, diplomatas disseram ao Estadão que o País pretende aguardar uma declaração conjunta, com México e Colômbia, para fazer a cobrança à Venezuela que disponibilize as atas ao Centro Carter, um dos poucos centros de observação eleitoral permitidos pela ditadura chavista a operar na Venezuela. A nota, no entanto, ainda não havia sido divulgada até a publicação deste texto.
O regime de Maduro decidiu expulsar diplomatas dos governos da Argentina, Chile, Costa Rica, Peru, Panamá, República Dominicana e Uruguai, sob o argumento de que esses países estão subordinados aos Estados Unidos e interferindo em assuntos de Caracas. A decisão se deu após esses Países condenarem a falta de transparência do processo eleitoral na Venezuela.
“O Governo Bolivariano enfrentará todas as ações que atentem contra o clima de paz e a convivência que exigiram tantos esforços do povo venezuelano, razão pela qual somos contrários a todos os pronunciamentos de ingerência e de assédio com os quais, de forma reiterada, tentam desconhecer a vontade do povo venezuelano”, diz nota divulgada pelo chanceler da Venezuela, Yvan Gil.
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