O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) visto nesta terça-feira, 23, no café da manhã com jornalistas — avesso a criticar a Lava Jato, sóbrio ao comentar a política venezuelana — é produto de uma série de reuniões com seus principais conselheiros políticos, incluindo o marqueteiro Sidônio Palmeira. Apesar de ter negado preocupação com a queda nas pesquisas, Lula se viu obrigado a se aproximar, novamente, do estilo mais ao centro que pautou a campanha de 2022. A roupagem, porém, foi abandonado quando a caneta chegou à mão, com uma inflexão à esquerda.
O diagnóstico repassado ao presidente é que o centro político que garantiu a vantagem estreita na eleição passada pode se desgarrar do PT em 2026, sobretudo porque o adversário não será o ex-presidente Jair Bolsonaro, inelegível até 2030. No segundo turno da última disputa presidencial, liberais como Simone Tebet (MDB) e Pérsio Arida se uniram à chapa com o ex-tucano Geraldo Alckmin na vice, com o discurso de frente ampla pela democracia.
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Ao longo das reuniões nas últimas semanas, Lula foi alertado que, diferentemente dos primeiros governos, ele não pode mais ter múltiplas facetas. Ou seja, ter um discurso à esquerda para falar com sindicalistas e centros acadêmicos, e outro ao centro para conversar com o mercado e a direita no Congresso. Agora, com a revolução digital, é preciso adotar uma postura única, já que qualquer corte de fala, necessariamente, vai repercutir nas redes sociais. Um interlocutor de Lula afirmou sob reserva ao Estadão que o presidente percebeu esse “novo momento” da conjuntura política e da comunicação.
O foco agora é destacar, mais do que nunca, as entregas do governo, e não dar holofotes ao seu antecessor com contraposições. A prova veio no café da manhã com jornalistas: Lula destacou os programas de crédito lançados no dia anterior, e a rápida menção a Bolsonaro foi feita sem citá-lo nominalmente. Defesa da Venezuela e menções ao Holocausto, que custaram popularidade ao presidente, também saíram de pauta.
Como mostrou Vera Rosa, colunista do Estadão, o figurino “Lulinha paz e amor” também é um aceno ao Centrão. Em um sinal de que deseja baixar a temperatura política, o petista estendeu a bandeira branca ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para frear a crise enfrentada no Congresso, que representa uma ameaça ao ajuste fiscal do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT).