Quebrando a cabeça para encaixar o Centrão no governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sinalizou disposição de, na reforma ministerial, preservar aliados que não têm outro cargo público para assumir caso deixem o governo.
A mensagem é um alento para o ministro de Portos e Aeroportos, Márcio França, que perdeu a disputa para o Senado, e para a ministra de Ciência e Tecnologia, Luciana Santos, que foi vice de Paulo Câmara (PSB) nas últimas eleições, candidato derrotado na disputa pelo governo de Pernambuco. Os dois são citados como peças que podem ser mexidas na reforma ministerial, embora tendam a permanecer na Esplanada.
Outro ministro sem cargo na manga que será mantido no casamento do Palácio do Planalto com o Centrão é o chefe da Casa Civil, Rui Costa, que no primeiro semestre foi alvo da artilharia do Congresso e agora tem construído relações com os parlamentares. O ex-governador da Bahia abriu mão de disputar o Senado para manter a aliança do PT com o PSD no Estado, o que viabilizou a chapa vitoriosa Jerônimo Rodrigues (PT) para o governo e Otto Alencar (PSD) para o Senado.
Sem renunciar ao cargo, Rui Costa ainda impediu que o ex-vice-governador João Leão (PP), que pulou para a aliança de ACM Neto (União Brasil) na disputa pelo governo, assumisse o comando da Bahia. Para completar, Lula está satisfeito com o trabalho da Casa Civil.
A ministra do Planejamento, Simone Tebet, que em 2022 tentou a Presidência e agora não tem mandato, também está fora da lista de demissíveis. Mas sua manutenção é explicada por outro motivo: o governo não tem interesse em desalojar a emedebista neste momento, a tanto tempo da próxima corrida eleitoral, e dar espaço para ela voltar a pensar em uma “terceira via”, ainda mais com o ex-presidente Jair Bolsonaro inelegível.
Contraponto
Se França, Luciana e Rui podem respirar mais aliviados com a mensagem de Lula nos bastidores, o recado é um alerta para o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, senador licenciado pelo Piauí. Embora Lula já tenha blindado o Desenvolvimento Social, prometendo que a Pasta não sai do PT, aliados afirmam que o presidente não está satisfeito com o trabalho do ex-governador piauiense. (Leia mais aqui)
Outros ministros são senadores licenciados: Flávio Dino (Justiça, PSB-MA), Camilo Santana (PT-CE), Renan Filho (MDB-PE) e Carlos Fávaro (PSD-MT). Nenhum deles, porém, desagrada ao presidente em termos de entrega.
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