O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, se reuniu nesta sexta-feira, 3, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na Granja do Torto, e levou com ele o comandante da Marinha, Marcos Sampaio Olsen. O motivo do encontro foi o vídeo publicado pela Marinha nas redes sociais, em 1.º de dezembro, que rebatia acusações de privilégios militares, em tom irônico, no momento em que o governo discutia o pacote do corte de gastos.
Lula reclamou, mais uma vez, do vídeo de 1 minuto e 16 segundos. Em dezembro, ele havia ficado tão irritado com o que viu que queria demitir Olsen. Foi demovido da ideia por Múcio, mas exigiu que a peça fosse apagada das redes, o que ocorreu no dia 17 de dezembro.
Após a conversa desta sexta, o presidente deu o caso por encerrado e as relações foram apaziguadas, de acordo com seus interlocutores. De qualquer forma, Lula está convencido de que, nas Forças Armadas, a Marinha é a que abriga mais integrantes resistentes ao PT e a seu governo.
Olsen afirmou que o vídeo havia sido postado nas redes sociais em homenagem ao Dia do Marinheiro, comemorado em 13 de dezembro. O almirante justificou a peça com o argumento de que a Força precisava mostrar o seu trabalho diante das acusações de mordomia, mas admitiu o erro.
O que mais contrariou Lula foi o fato de a Marinha ter provocado o governo e, sobretudo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O vídeo apresentava até mesmo um sósia de Haddad rastejando na lama. “Vocês terão que se acostumar com uma vida de sacrifícios”, dizia a voz em off de um capitão.
A peça exibia o contraste entre a vida de civis – que apareciam em festas, praias e viagens – e de marinheiros, sempre em operações de salvamento e treinamentos exaustivos. “Privilégios? Vem pra Marinha”, afirmava uma jovem no fim da gravação.
Além de ter sido divulgado justamente na época das mudanças na aposentadoria dos militares, criticadas pela caserna, o vídeo praticamente coincidiu com a chegada dos dois anos dos atos golpistas do 8 de Janeiro.
O almirante Almir Garnier, que comandou a Marinha no governo Bolsonaro, é um dos indiciados no inquérito da Polícia Federal por tentativa de golpe. Na prática, embora Lula tenha dado o caso por encerrado, o episódio deixou uma desconfiança no ambiente.
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