O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) manifestou a auxiliares uma profunda irritação com as trapalhadas em série de sua equipe. Mal passou a ressaca moral da derrubada do veto à saidinha, o governo caiu em mais três crises: a anulação do leilão de arroz por suspeita de irregularidade, a devolução da Medida Provisória (MP) que restringia créditos tributários, e o indiciamento do ministro Juscelino Filho (Comunicações) por suposta corrupção. Para Lula, esse novo “inferno astral” se deve a erros dos ministros, não à formação do Congresso, e ofusca índices positivos como a queda do desemprego e os anúncios para a reconstrução do Rio Grande do Sul.
E não há culpado único: as queixas, dentro do Palácio do Planalto e também nos corredores do Congresso vão do ministro Fernando Haddad (Fazenda), que fez aposta alta demais com a MP, ao ministro Carlos Fávaro (Agricultura), que fracassou no leilão. Ninguém, porém, deixará o governo. Não neste momento. Como já informou a Coluna do Estadão, reforma ministerial é assunto para 2025, depois que o presidente conhecer o xadrez eleitoral montado com as eleições municipais e a formação da Mesa diretora de Câmara e Senado.
Em 2016, a então presidente Dilma tentou nomear Lula ministro da Casa Civil para estancar a crise política. Hoje, nem ele tem aparado as arestas. Um senador governista lembrou ontem que Lula era conhecido como “encantador de serpentes”. “Agora, ele parece o encantado”, alfinetou, em anonimato.
É uma crítica ao escanteamento de auxiliares que, nos primeiros governos, tinham autonomia para divergir de Lula e criticá-lo sem meias-palavras, como Gilberto Carvalho, ex-chefe de gabinete, e Luiz Dulci, ex-secretário-geral. Em Brasília, há tempos circula a análise de que o presidente está mal assessorado e, por isso, errado mais que normalmente.
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