O teor ideológico na campanha para a eleição do Conselho Federal de Medicina (CFM), que ocorre nesta terça e quarta-feira, é tamanha que até mesmo a disputa presidencial americana tem contaminado as discussões. O pleito definirá os novos integrantes do colegiado que fiscaliza e normatizar a prática médica no Brasil pelos próximos cinco anos.
Em um grupo de WhatsApp de médicos do litoral de São Paulo, em vez de discussão programática das chapas inscritas, os profissionais têm apelado para a identificação partidária dos candidatos — inclusive com menções a Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos e novamente candidato à Casa Branca este ano.
Um dos participantes comemorou nesta terça-feira a ideia de ir armado ao plantão de trabalho caso a chapa 02 seja eleita. Outro diz que a chapa vencedora tem de ser “de direita, armamentista e contra cubanos”, e “republicana trumpista”, completou. Uma médica comentou: “Make medicine great again”.
Os profissionais se referiam à chapa 02, “a única chapa de direita de verdade para o CFM 2024″, de acordo com um dos posts de campanha com a foto do candidato Francisco Cardoso, ao lado de figuras como o empresário Luciano Hang, o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) e o ex-ministro da Saúde Marcelo Queiroga.
A chapa 2, popular entre bolsonaristas, traz como proposta a “oposição firma ao programa Mais Médicos” e se refere à descriminalização do aborto como “cultura da morte” ao pregar a “defesa intransigente da resolução CFM que proíbe o feticídio”. A norma mencionada vetava a técnica necessária para a realização de abortos em gestações resultantes de estupro, suspensa pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
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