Se hoje a Universal tem 11 deputados federais diretamente ligados à Igreja, em 1990 o bispo Edir Macedo sofria com a escassez de fiéis para lançar na política. Sofria ao ponto de precisar lançar na Bahia um deputado federal que nem sequer era evangélico, mas entendia de um assunto que seria muito importante para a Universal em Brasília: a legislação de rádio e TV. Era Luiz Moreira, ex-diretor do antigo Dentel (Departamento Nacional de Telecomunicações), médico que, ao chegar à Câmara, apresentou um projeto de lei para flexibilizar a legislação do aborto.
Esta e outras histórias sobre a religião na política são contadas em detalhes no livro “A bancada da Bíblia”, do jornalista André Ítalo Rocha. Publicada pela editora Todavia, a obra chegou às livrarias como uma mistura de reportagem e ensaio histórico sobre a trajetória política dos evangélicos — segmento que era proibido de se candidatar nos tempos do Império, quando o catolicismo era a religião oficial do Estado, e hoje é um dos mais influentes atores do poder. Procurada, a Universal não comentou o relato de Rocha.
Pelo projeto de Moreira, a gravidez poderia ser interrompida até a 24ª semana, desde que o feto apresentasse, sob prescrição médica, “graves e irresponsáveis anomalias físicas ou mentais.” O projeto, porém, não teve apoio para prosperar. Em 2024, a bancada evangélica tentou aprovar um projeto que proibia o aborto após as 22 semanas em qualquer circunstância, inclusive em casos de estupro. A interrupção da gravidez ficaria equiparada a estupro. A urgência para tramitação chegou a ser aprovada. Frente à repercussão negativa, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), engavetou a matéria.
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