O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu anular o leilão de arroz por “fragilidade financeira” e autorizar a demissão do secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller. Como revelou a Coluna do Estadão, o ex-deputado entrou na mira do Palácio do Planalto após o fracasso do leilão de arroz, que foi anulado frente às suspeitas de fraude.
Ex-ministro da Agricultura de Dilma Rousseff, Geller foi uma ponte entre Lula e o agronegócio durante a campanha eleitoral, o que deu a ele acesso ao entorno do petista, em especial à presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Pelo histórico de Neri Geller, só Lula poderia dar aval à demissão do secretário, dizem aliados. O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, transmitiu ao auxiliar que ele seria exonerado.
Sem informar na agenda oficial, Lula convocou pela manhã uma reunião de emergência com os ministros Fávaro e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário). Ainda na segunda-feira, durante a reunião de coordenação política, o presidente havia externado sua irritação com o leilão de arroz, que deu munição à oposição para criticar o governo após empresas sem relação com o setor terem saído vitoriosas do certame. Como revelou o Estadão, a operação foi vencida por mercearia de bairro, fabricante de sorvetes e locadora de carros.
O caso já chegou ao Tribunal de Contas da União (TCU). Na avaliação do presidente, o melhor seria cancelar o certamente, arcar com o ônus político, e promover um novo leilão.
Neri Geller acabou responsabilizado pelos problemas do leilão porque o diretor de Abastecimento da Conab, Thiago dos Santos, responsável pelo certame, era sua indicação direta. Além disso, a FOCO Corretora de Grãos, principal corretora do leilão, é do empresário Robson Almeida de França. Ele foi assessor parlamentar de Geller na Câmara e é sócio de Marcello Geller, filho do secretário, em outras empresas.
Ex-deputado, Neri Geller foi candidato ao Senado em 2022, mas teve a candidatura barrada pela Justiça Eleitoral após ser cassado por suposto abuso de poder econômico. Em dezembro do ano passado, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) reverteu a cassação e devolveu os direitos políticos de Geller, que só então pode integrar o governo Lula. Ao longo de 2023, ele despachou informalmente no Ministério da Agricultura.
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