O ministro Augusto Nardes, do Tribunal de Contas da União (TCU), deu andamento a uma representação contra o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) após a Câmara reembolsar uma passagem aérea do parlamentar para Washington. O filho “Zero Três” do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi à capital americana em março, com dinheiro público, para encontrar políticos de direita e expor sua tese de que o Brasil “não é mais uma democracia”. Em um despacho que surpreendeu agentes políticos, Nardes oficiou a terceira-secretaria da Câmara a explicar se autorizou ou não esse reembolso.
A ação contra Eduardo Bolsonaro foi protocolada pela deputada federal Luciene Cavalcante (PSOL-SP), pelo estadual Carlos Giannazi (PSOL-SP) e pelo vereador da capital paulista Celso Giannazi (PSOL). Tradicionalmente, o TCU não dá andamento a representações de deputados contra colegas sobre assuntos dos mandatos. Além disso, Nardes é próximo ao ex-presidente. De acordo com um interlocutor, ele está se distanciando da família Bolsonaro e quis mostrar o “poder da caneta”. Procurado, o magistrado não quis comentar. Eduardo não retornou.
Para a deputada Luciene, autora do requerimento, a viagem do parlamentar aos Estados Unidos, paga com verbas públicas, é “um verdadeiro absurdo”. “Se for comprovado que ele não recebeu autorização para o reembolso desse gasto, cabe ao TCU condenar o deputado a devolver o dinheiro”, declarou à Coluna do Estadão.
De acordo com o despacho de Augusto Nardes, a terceira-secretaria deve prestar esclarecimentos sobre a autorização do reembolso antes que se decida se uma apuração deve ser instalada ou não. O terceiro-secretário da Casa, deputado Júlio César (PSD-PI), informou à Coluna via assessoria de imprensa que ainda não foi notificado. O órgão é responsável por avalizar os reembolsos a parlamentares. Procurada, a presidência da Câmara não comentou.
Augusto Nardes tem histórico de proximidade com o bolsonarismo
Nardes teve um áudio vazado, em 2022, citando uma suposta conversa com Bolsonaro e dando a entender que os militares se preparavam para impedir a posse do então presidente eleito presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ele chegou a se afastar temporariamente da Corte.
Em 2015, Nardes foi o ministro do TCU responsável pela análise das contas da ex-presidente Dilma, quando foram relatadas as pedaladas fiscais que levaram ao impedimento de Dilma. Na ocasião, Nardes afirmou que as pedaladas “distorceram a realidade fiscal” e que a responsabilidade de Dilma era “direta”.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.