EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Coluna do Estadão

| Por Roseann Kennedy

Roseann Kennedy traz os bastidores da política e da economia

Novo ministro defende mudar lei para reduzir ações e baratear passagens aéreas

Silvio Costa Filho quer negociar com Congresso para dar segurança jurídica às companhias aéreas, apostando em impacto no valor dos bilhetes

PUBLICIDADE

Foto do author Roseann Kennedy
Foto do author Weslley Galzo
Atualização:

Alçado à Esplanada na reforma ministerial que selou o casamento do governo Lula com o Centrão, o novo ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, tem sua proposta para a redução do preço das passagens aéreas no País, uma determinação do presidente Lula. Para além de ofertar bilhetes mais acessíveis à população (inclusive internacionais) por meio do Voa Brasil, programa em gestação na pasta, o ministro quer negociar o valor do querosene de aviação e, ainda, mudar a legislação para desatar o que chama de “indústria da judicialização” contra as empresas do setor.

“Hoje, 80% das ações contra as companhias aéreas no mundo são aqui no Brasil. Então, no Brasil, nesses últimos anos, foi criada a indústria da judicialização em relação às companhias aéreas. Já iniciamos uma discussão com as próprias companhias aéreas para construir com o Congresso Nacional e com os órgãos de controle uma lei que possa dar mais segurança jurídica a essas companhias aéreas. Porque isso termina impactando também nos custos das passagens”, afirma Silvio Costa Filho, em entrevista à Coluna.

O novo ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho. Foto: Gabriela Biló/Estadão

PUBLICIDADE

Chamado por Lula de “Silvinho”, o filho do ex-deputado Silvio Costa promete uma conversa com sindicatos na próxima semana para evitar as costumeiras greves em aeroportos nos períodos de alta demanda, como as férias escolares. Também sinaliza com a possibilidade de incluir alunos do Prouni no Voa Brasil, assim como esportistas.

A seguir, os principais trechos da entrevista:

Qual foi o pedido imediato que o presidente Lula fez quando o senhor assumiu o cargo?

Publicidade

O presidente Lula pediu para colocarmos na ordem do dia a agenda nacional do desenvolvimento do País, a agenda dos portos, aeroportos e hidrovias. Sem dúvida alguma, esse é um setor fundamental para a economia brasileira, tendo em vista que 98% das nossas exportações e importações passam pelos portos e aeroportos. Sendo 95% pelos portos e 3% pelos nossos aeroportos. O presidente nos delegou a responsabilidade de ampliar o diálogo com o setor produtivo, com o Congresso Nacional e de maneira transversal juntar a agenda dos Ministérios da Economia, da Infraestrutura, do Transporte, do Desenvolvimento Econômico, do Planejamento e da Casa Civil, para pensar ações integradas no fortalecimento do setor.

Qual é o principal desafio?

Hoje temos R$ 70 bilhões, que é o nosso PAC. E temos a maior obra do PAC, que é o túnel submerso que é o Santos-Guarujá. É um túnel importante, com investimentos na ordem de mais de R$ 6 bilhões. Vamos priorizar a agenda de dar celeridade às novas operações portuárias no Brasil. Nós temos 255 portos no País, desses 18 são delegados, ou seja, de responsabilidade do Estado ou do município e seis doados. Além disso, nós teremos mais 65 novos terminais de uso privado e faremos concessões para que a gente possa trazer o setor produtivo para investir nessa agenda portuária nacional. E, além de buscar parceria público-privada nesses terminais, estamos falando de investimentos de mais de R$ 50 bilhões nos próximos quatro anos.

Tem alguma concessão nova ou já estão todas em andamento?

Tem muitas concessões novas. A gente tem o STS10 que é lá em Santos; nós temos o porto do Itajaí, que está no processo de análise jurídica de propostas de preços; e tem um conjunto de novos terminais que serão concedidos para estados e municípios.

Publicidade

Há portos que estão com diretorias vazias. O senhor já tem esse mapeamento e quando pretende preencher as vagas?

PUBLICIDADE

A gente está trabalhando para poder organizar as diretorias nos estados, dialogando com o ministro (Alexandre) Padilha. É uma construção coletiva. A partir daí, queremos fortalecer a agenda portuária em três frentes. Buscar a parceria público-privada, melhorar a governança dos portos e, terceiro, fazer um grande plano nacional de segurança pública de portos e aeroportos, que a gente vai lançar nos próximos 30 dias com o ministro Flávio Dino (Justiça), no combate ao tráfico de drogas e de armas no Brasil. É o primeiro plano nacional construído com o Ministério da Justiça, que a gente vai apresentar para combater o tráfico de drogas no Brasil. Então é um desafio grande, mas eu estou muito estimulado que a gente avance.

Por que vocês chegaram à ideia de fazer esse plano agora? Qual foi o dado que chegou para vocês que gerou essa necessidade?

O Brasil tem um volume de mais de R$ 6 bilhões de drogas e armas apreendidas ao longo do ano. Isso só em portos e aeroportos, sem contar rodovias. Diariamente em Viracopos, diariamente em Congonhas e em outros portos, infelizmente. A gente quer construir de maneira integrada - ministérios, Polícia Federal, Receita Federal, entre outros agentes que podem nos ajudar no combate a esse tipo de operação que prejudica muito o Brasil.

Quais são os portos mais visados?

Publicidade

Hoje você tem o porto do Rio, o porto de Santos que os mais visados e os números apontam sobre isso. E os aeroportos são os maiores que têm, sobretudo, voos internacionais, que são detectados o maior número de apreensões pela Receita Federal.

De que forma o senhor vai tocar o programa Voa Brasil?

A gente está trabalhando para fortalecer a aviação nacional em três linhas. A primeira linha é ampliar o número de voos internacionais dialogando com a Embratur, trazendo voos e ligando o Brasil a novos continentes para trazer mais turistas para o Brasil. O segundo ponto é a aviação regional. Sabemos as dificuldades hoje de voos do Nordeste, do Norte, do Centro-Oeste. Então, a gente vai trabalhar nesses próximos dois anos para ter 50 novos destinos e ampliar a malha aérea em mais de 100 novos voos.

Dentro disso, a gente agrega a questão de novos aeroportos. No PAC que estamos desenhando, que é desde PPPs com a Infraero, a gente quer fazer na ordem de mais de 100 novos aeroportos, nos quatro anos do mandato do presidente. Então, essa é uma meta nossa a ser perseguida. O terceiro eixo é em relação à aviação de cargas. O Brasil tem um grande potencial de ampliar cada vez mais a aviação de cargas, como eletrônicos, medicamentos, equipamentos de maior fragilidade, como também fruticultura, pescado, entre outros. Isso é mais recurso, ajuda no crescimento das exportações, e também ajuda a tentar diminuir o valor do custo das passagens.

Quando será apresentado o Voa Brasil remodelado?

Publicidade

A gente está remodelando o Voa Brasil para criar uma agenda que seja construída com as empresas aéreas. E queremos apresentar ao presidente Lula, até o dia 30 de novembro, para poder lançar. Já tivemos reuniões com os presidentes das três principais companhias (Latam, Gol e Azul),que representam 98% do mercado brasileiro, para discutir a questão do preço da passagem, novos voos regionais, para saber como a gente pode criar mais segurança jurídica para o setor, e como a gente pode linkar novos voos com o turismo, através da campanha que nós lançamos com o Ministério do Turismo, que é Brasil Conhece Brasil, para estimular que o brasileiro viaje mais.

Nessa remodelagem, quais são os principais pontos?

Por exemplo, alunos do Prouni, que muitas vezes querem fazer um concurso público ou um em outro estado. A gente quer ver se coloca esse aluno no programa. Estamos avaliando a possibilidade de incluir esportistas e desportistas, que querem participar de alguns torneios. Eu estou avaliando com o governo a possibilidade de a gente criar também o Voa Brasil Internacional, para alunos da rede pública, que às vezes conseguem um curso em Cambridge, em Harvard. São leituras que a gente está ainda fazendo o diagnóstico, para na hora certa poder apresentar.

E isso por meio dos subsídios às empresas, para poder baratear esse custo?

Já há a solidariedade das companhias aéreas, porque hoje a gente tem em média 21% de ociosidade nos voos no Brasil. Então, a ideia é criar esse programa para ocupar a totalidade e os voos saírem lotados.

Publicidade


Essas companhias reclamam que, no Brasil, enfrentam muita amarração jurídica que impede adotar tarifas tão baratas como oferecem lá fora. É preciso rever essa legislação?

Sem dúvida. Hoje, 80% das ações contra as companhias aéreas no mundo são aqui no Brasil. Então, no Brasil, nesses últimos anos, foi criada a indústria da judicialização em relação às companhias aéreas. Já iniciamos uma discussão com as próprias companhias aéreas para construir com o Congresso Nacional e com os órgãos de controle uma lei que possa dar mais segurança jurídica a essas companhias aéreas. Porque isso termina impactando também nos custos das passagens. Outra coisa que temos que olhar é o preço do querosene da aviação que custa 22% das operações de voo no mundo e, no Brasil, chega a 40%.

Como o senhor vai administrar os interesses políticos do governo Lula, do governador Tarcísio de Freitas e do seu partido? Há interesses comuns, mas alguns divergentes, como a privatização do Porto de Santos…

A privatização do porto de Santos, o próprio governador Tarcísio sabe que é decisão do governo e que a decisão é não privatizar. O que queremos fazer é ampliar, preservando a autoridade portuária, a agenda com o setor produtivo no porto de Santos, trazendo a iniciativa privada mais para perto, buscando parcerias com investimentos privados. Segundo, está na hora de pensar mais nas próximas gerações do que na agenda política-eleitoral. Temos que pensar no futuro. É um desejo do presidente Lula e do governador Tarcísio de ampliar as parcerias administrativas entre eles. Porque quem ganha com isso é o povo de São Paulo e o Brasil. Quando São Paulo vai bem, o Nordeste vai bem, o Norte vai bem. Eu tenho dedicado parte do nosso tempo a buscar parcerias administrativas entre Lula e Tarcísio.

E o seu partido como vai votar no Congresso?

Publicidade

Depende da pauta. Todas as pautas econômicas, de interesse do Brasil, o governo contará com a maioria do partido. No primeiro semestre, a bancada votou 87% com o governo, isso na pauta econômica. Nas pautas de costumes, são mais sensíveis, que têm que ser analisadas na hora certa. Mas quem faz a pauta não é o governo, são os presidentes da Câmara e do Senado. Estou confiante na orientação do nosso presidente do partido, Marcos Pereira, de votarmos sempre de maneira colaborativa com o Brasil.

Seu partido hoje é base do governo Lula?

Meu partido é independente. Mas o governo entendeu, desde o primeiro momento, a realidade interna do partido. Até porque teve gente que votou em Bolsonaro, teve gente que votou em Lula. Eu sempre votei no presidente Lula, desde que era do movimento estudantil. O partido democraticamente respeitou o convite do presidente Lula e eu pedi licença da executiva nacional para me dedicar ao ministério e ajudar o Brasil.

Incomoda quando as pessoas rotulam o senhor como uma pessoa do Centrão?

Acho que a gente tem que fazer a pedagogia do papel do centro no Brasil. Está na hora de mostrar ao País a importância do centro, intitulado Centrão por setores da sociedade e da imprensa. Se você pegar, nos últimos cinco anos, as pautas que foram de interesse da sociedade brasileira, todas elas contaram com o apoio do centro e só foram aprovadas porque votamos a favor. Então é importante que o próprio Congresso e os deputados de centro façam a pedagogia do papel do Centro para o Brasil.

Publicidade

De que forma?

Falando a verdade, mostrando o papel que o centro está tendo na aprovação da reforma tributária, na aprovação das reformas que já foram votadas nos últimos anos.

Como separar a imagem do Centrão com a associação de escândalos no País?

Penso que houve, nos últimos anos, uma contaminação da grande maioria das correntes ideológicas no Brasil. Acho que o debate não é esse. O debate é agir da forma correta e transparente e mostrar ao Brasil que o centro quer ajudar o país.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.