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Coluna do Estadão

| Por Roseann Kennedy

Roseann Kennedy traz os bastidores da política e da economia. Com Eduardo Barretto e Iander Porcella

O encontro fortuito de Ciro Nogueira e o assessor investigado de Lira ao som de ‘Poderoso Chefão’

Noite de Brasília atraiu ex-ministros, parlamentares e governadora para o mesmo lugar. Avaliação sobre governo Lula, encontro romântico e vinho fizeram parte do cardápio

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Foto do author Daniel  Weterman
Foto do author Roseann Kennedy
Atualização:

BRASÍLIA - Passava das 22 horas da terça-feira, 15, quando o senador Ciro Nogueira (PP-PI) chegou ao restaurante na área central de Brasília. Nesse exato momento tocava a música principal do filme “O Poderoso Chefão”. O ex-ministro da Casa Civil do governo Jair Bolsonaro sentou-se numa das mesas reservadas para jantar à luz de velas com aliados do Centrão. Agora, é homem forte na oposição a Luiz Inácio Lula da Silva.

Quando se ouviam os últimos acordes da trilha sonora do mais famoso filme sobre mafiosos dos EUA, apareceu Luciano Cavalcante, ex-assessor do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). O pivô do escândalo dos kits de robótica investigado pela Polícia Federal andava sumido das rodas públicas desde que sofreu busca e apreensão em sua casa.

Ex-assessor de Lira e alvo de operação da PF, Luciano Cavalcante tem jantar romântico em restaurante que atraiu outros políticos na mesma noite. Foto: Estadão

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Luciano sentou-se à mesa, jantou acompanhado de uma mulher e, antes da sobremesa, ao ver o ex-ministro no fundo do restaurante foi a seu encontro. Ciro Nogueira estava com Fábio Faria, ex-ministro das Comunicações de Bolsonaro, e o deputado Hugo Motta (PB), líder do Republicanos. Os quatro conversaram rapidamente. Faria hoje trabalha para o BTG Pactual e Motta faz parte da tropa de choque de Lira.

De volta a sua mesa, o ex-assessor de Lira teve seu jantar romântico interrompido por diversas vezes pelos políticos que entraram e saíram do restaurante. Foi um “beija-mão” só reservado aos influentes em Brasília.

Luciano, afinal, não é apenas braço direito de Lira, mas também é presidente do União Brasil em Alagoas e tem parentes empregados na Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) de Maceió, controlada pelo poderoso presidente da Câmara. No site oficial do partido, é identificado erroneamente como “deputado federal”. No restaurante, foi o que pareceu mesmo.

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Ele também era até junho assessor da liderança do Progressistas da Câmara. Foi exonerado após ser acusado de operar o esquema de compra de kits de robótica superfaturados com dinheiro de emendas de Arthur Lira, que nega envolvimento. Luciano reaparece no momento em que o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), anulou as provas da investigação.

Tinha uma governadora no meio do caminho

No caminho até sua mesa, Ciro Nogueira cruzou com a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB). Parou para cumprimentar jornalistas que a rodeavam, mas ignorou a presença da tucana. Raquel sorriu com a gafe do senador - que é líder na Casa que representa os estados no Congresso.

Em meio a vinhos e massas, havia uma avaliação em comum sobre o governo Lula. Com muito dinheiro e projetos parados, a coisa só deve andar após a reforma ministerial e a votação do novo arcabouço fiscal na Câmara. Só que a votação vai ter que esperar mais, após as falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

A conclusão de quem estava no jantar é que Haddad, até então bem avaliado pelo Centrão frente à articulação política falha do Planalto, pisou na bola ao dizer que a Câmara está com “um poder muito grande”. Agora, o compromisso de votar o arcabouço antes de 31 de agosto, prazo para Lula enviar o projeto de Orçamento de 2024, já não vale mais. Resultado: a comida esfriou.

Por volta de meia-noite o restaurante fechou. Na saída, Ciro e os demais parlamentares do Centrão pararam na mesa de Luciano, formaram fila para se despedir, entraram em seus carros oficias e foram embora.

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Reuniões pós-expediente fazem parte da história política do País

As noites de Brasília merecem um capítulo à parte na história da articulação política do País. São em restaurantes espalhados pela capital com suas mesas reservadas que ocorrem muitas discussões que vão decidir o futuro dos brasileiros. Acordos, negociações e até conspirações são selados em restaurantes.

Na época da Constituinte, o então deputado Ulysses Guimarães era acompanhando por uma turma que ia até altas horas tomando licor de pera, falando e fazendo política no mezanino de um estabelecimento que não existe mais, o Piantella. Até fechar as portas em definitivo, em 2020, o local mantinha preservada a mesa preferida do emedebista.

Na gestão Bolsonaro, com oficiais militares em postos civis de comando no Poder Executivo, o hábito noturno foi deixado de lado e a noite brasiliense ficou carente de encontros entre parlamentares e ministros noite a dentro. Com a chegada de Lula, a cidade voltou a se agitar.

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