Dois institutos de pesquisa — Paraná e Datafolha — começaram a apurar nesta semana a intenção dos votos dos eleitores, após o episódio da cadeirada que o candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PRTB, Pablo Marçal, levou do adversário José Luiz Datena (PSDB). Antes mesmo do resultado em números, há uma leitura nas campanhas e entre especialistas de marketing e ciência política de que o figurino de vítima não cabe no ex-coach.
“Marçal está em um momento crucial para sua narrativa. A vitimização exagerada pode fazer com que perca pontos importantes com a torcida que ele mesmo criou como uma pessoa que supera todos os obstáculos. Marçal gravou vídeos demonstrando fragilidade. A tendência é que parte dos eleitores dele veja a inconsistência na narrativa”, avalia Marcelo Vitorino, professor de Marketing Político da ESPM.
Nas redes, Marçal chegou a comparar o episódio com a facada contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e o atentado ao ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O influenciador digital terminou sendo criticado pelos próprios seguidores. “Trump, nesse sentido, mostrou-se mais preparado diante do primeiro atentado que sofreu, mostrando que o incidente não o afetou e que ele manteria a bravura”, completa Vitorino.
Para Mayra Goulart, coordenadora do Laboratório de Partidos, Eleições e Política Comparada da UFRJ, a estratégia de Marçal não poderá ir para a vitimização, e provavelmente ele usará o caso da agressão física para reforçar que é o antissistema que tira o controle dos adversários.
Do outro lado desse episódio, José Luiz Datena, apesar de ser o agressor, passou no tom de sua nota a clareza do entendimento na campanha tucana de que Marçal colheu o que plantou. Ele disse que não se arrependia e que “lavou a alma de milhões. Com o discurso pode até conquistar alguns votos, mas a falta de equilíbrio para o debate público e empurra para fora da política.
Mayra avalia que o episódio da cadeira interdita a transferência de votos entre eles, e isso é o que vai ficar mais claro para o eleitorado. “Embora Datena não tenha força para ir ao segundo turno, a cadeirada é importante porque dá um sinal nítido sobre seu posicionamento que interdita a transferência de votos entre eles”, ressalta.
Para além das campanhas de Datena e Marçal, a avaliação dos postulantes à Prefeitura de São Paulo é verificar o grau de rejeição das pesquisas desta semana, pois será ponto decisivo para o rumo do segundo turno.
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