Um possível pedido de federalização do caso do assassinato de um empresário delator do PCC na área do Aeroporto de Guarulhos, na sexta-feira, 8, entrou em pauta no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O tema é tratado internamente como “muito sensível” politicamente.
A leitura de alguns auxiliares do presidente e de congressistas da base é que a Polícia Federal deve assumir a investigação. Embora a vítima seja um delator de investigação do Ministério Público de São Paulo, haveria elementos para a federalização.
O fato de o crime ter sido no perímetro do maior terminal aeroportuário do País, o impacto causado na dinâmica de funcionamento do aeroporto e a repercussão interestadual das consequências do crime têm sido destacados como argumentos.
Por outro lado, o entendimento predominante é que o crime ocorreu fora de área de jurisdição federal e estaria relacionado a um caso que tramita sob cuidados do Ministério Público estadual.
Os desdobramentos políticos do episódio são tratados como muito sensíveis por governistas. Uma eventual federalização traria para Brasília o ônus de lidar com um problema grave hoje tratado principalmente como responsabilidade de órgãos de São Paulo liderados pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Contudo, autoridades que contabilizam argumentos para a transferência do caso à Polícia Federal veem que a crise poderia sagrar-se como oportunidade para o protagonismo que o governo federal deseja diante dos Estados.
O governador Tarcísio manifestou-se sobre o episódio, nas redes sociais, na noite de sexta-feira, 8. Ele disse que todos os responsáveis serão severamente punidos. “Reforço meu compromisso de seguir combatendo o crime organizado em São Paulo com firmeza e coragem”, frisou.
O Ministério da Justiça não se manifestou sobre possível federalização. Após a publicação da reportagem, a pasta informou que “está acompanhando a a investigação e prestando todo o apoio necessário à Polícia Civil de São Paulo, disponibilizando peritos e equipamentos”.
Questionada se o episódio reforça a importância da PEC apresentada a governadores pelo ministro Ricardo Lewandowski, a pasta respondeu que ela “facilitará a troca de informações sobre facções criminosas, além de propiciar a realização de operações conjuntas das distintas polícias”.
Líder do governo defende que PF assuma o caso
O líder em exercício do governo no Senado, Otto Alencar (PSD-BA), vê margem para que a PF assuma o caso. “Sem dúvida nenhuma (deve federalizar), até porque tem suspeita de participação de policiais militares do Estado de São Paulo. Com todo o respeito que tenho às polícias Civil e Militar, tem que trazer para a Polícia Federal. O que aconteceu me deixa muito preocupado. Caso traz um retrato da influência grande das organizações criminosas ligada ao tráfico de drogas e ao crime de mando”, disse à Coluna.
Deputado da região de Guarulhos, Alencar Santana (PT-SP) também defende que a investigação troque de esfera. “É mais do que correto que a investigação seja feita pela PF. Há suspeita de envolvimento de pessoas da polícia de São Paulo. Não faz sentido que policiais estivessem protegendo, de forma privada, uma pessoa como aquela. Ele tinha direito a uma proteção estatal por causa da delação, mas não usava”, comentou.
A segurança do empresário Antonio Vinicius Lopes Gritzbach, assassinado a tiros por volta das 16h desta sexta-feira, era feita informalmente por policiais militares. A Polícia Civil de São Paulo apreendeu os celulares dos quatro deles incumbidos de fazer a segurança particular da vítima. Os militares são investigados por possível envolvimento com o caso. O aparelho da namorada do empresário também foi apreendido.
O presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Renato Sérgio de Lima, também defende a federalização. “O fato de o crime ter ocorrido em área federal, no aeroporto, permite que o Ministério da Justiça e Segurança Pública determine à PF que investigue o caso. Seria uma forma de contribuir, inclusive, com a investigação sobre as conexões da vítima com o crime organizado e suas formas de lavagem de dinheiro”, afirmou.
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