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Coluna do Estadão

| Por Roseann Kennedy

Roseann Kennedy traz os bastidores da política e da economia, com Eduardo Gayer

Por que Marçal não é ameaça a Jair Bolsonaro

Especialistas avaliam ser cedo para falar em surgimento do ‘marçalismo’ no País

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Atualização:

O candidato do PRTB à Prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal, avança sobre o bolsonarismo e abala diretamente a campanha à reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB). Entretanto não pode ser visto, até o momento, como uma ameaça ao próprio ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), na visão de especialistas.

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A lavação de roupa suja entre eles, nos últimos dias, ratifica essa tese. “É Marçal quem faz questão de permanecer alinhado e identificado a Bolsonaro, e não o contrário. Ele apela ao pedir o dinheiro, de forma retórica. Depois ressalta que fica satisfeito em ‘manter o nós’. Ou seja, é Pablo Marçal quem depende de Bolsonaro”, avalia o cientista político Leandro Gabiati, diretor da Dominium Consultoria Política & Governamental.

Apesar de os perfis de Bolsonaro e Marçal serem parecidos e atraírem eleitores da extrema direita, alguns fatores mantêm o ex-capitão como principal liderança desse segmento. Ele carrega no currículo mandatos de deputado e presidencial, está vinculado a um dos maiores partidos do País, o PL, e participa das articulações e construção de alianças. “De forma alguma Marçal tem perfil, história e estrutura para ameaçar a figura de Bolsonaro e o que ela representa”, ressalta Gabiati. Há uma avaliação, também, de que a manutenção dessa força dependeria, hoje, exclusivamente do tamanho da reação de Bolsonaro a Marçal.

Para o cientista político e professor de sociologia da ESPM, Paulo Niccoli Ramirez, o fato de Marçal estar numa sigla pequena, permite a ele radicalizar mais no discurso, por outro lado dificulta composições políticas. “Se comparar com o PL, que é um partido de maior relevância, com vários candidatos inclusive em capitais, o PRTB é irrelevante. Isso dá mais margem de licença do palavreado. Mas também rompe possíveis alianças com outros partidos, ainda que fosse eleito”, observa.

Ramirez desconfia que Marçal tenha mais interesse em angariar seguidores nas redes sociais com lacração do que vencer o pleito. “O próprio Marçal perde fôlego sem apoio direto de Bolsonaro. Ele é um outsider, do ponto de vista político e representativo não tem muita relevância. Pode ser uma noite de um sonho de verão, vamos aguardar as próximas pesquisas. É muito cedo. Mas isso abala o espectro da extrema direita”, afirma.

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É cedo para falar em ‘marçalismo’

Uma das principais perguntas na política brasileira é quem ficará com o espólio de votos de Jair Bolsonaro se ele continuar inelegível. Mas é cedo para falar em “marçalismo”, apesar da probabilidade de uma parcela de bolsonaristas abandonar o ex-presidente.

“Marçal tem um ferramental (como ex-coach), uma retórica, que pode levá-lo a se colocar como substituto. Não dá para saber ainda se há o surgimento de um marçalismo. Mas vamos pensar que todos os ‘ismos’ - lulismo, bolsonarismo, marçalismo - trazem à tona a ideia de um líder não raro populista, de caráter messiânico, e salvacionista. É um capítulo que nós já conhecemos, só que agora hipertrofiado e turbinado pelos algorítimos das redes”, alerta Rodrigo Prando, cientista político e professor de sociologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

Com a atual inelegibilidade de Bolsonaro, lança expectativas sobre seu herdeiro político. Surgem nomes para 2026 como a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, os governadores Tarcísio de Freitas (São Paulo), Romeu Zema (Minas), Ratinho Júnior (Paraná) e Ronaldo Caiado (Goiás). E Marçal busca capturar o eleitorado de direita para si desde já.

“Resta saber se o eleitorado de direita vai se deixar levar com Marçal e abandonar Bolsonaro ou se irá criar resistência... De qualquer modo, o conflito está instaurado dentro do campo bolsonarista e esse espólio está em risco”, conclui Giuliano Salvarani, estrategista político e professor de comunicação da ESPM.

Pablo Marçal (PRTB) e Jair Bolsonaro (PL). Foto: Werther Santana/Estadão
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