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Roseann Kennedy traz os bastidores da política e da economia. Com Eduardo Barretto e Iander Porcella

Posse de presidente do STM lembra drama da ditadura logo na entrada do evento

Na entrada do Teatro Nacional destacou que Claudio Santoro foi exilado pela ditadura militar por uma década; professor que dá nome ao teatro foi demitido da Universidade de Brasília por interventor do regime 

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Foto do author Eduardo Barretto
Atualização:

A nova presidente do Superior Tribunal Militar (STM), ministra Maria Elizabeth Rocha, tomou posse nesta quarta-feira, 12, em solenidade no Teatro Nacional. Na entrada do evento, que contou inclusive com vários militares fardados, a arte fez os convidados lembrarem dramas da ditadura.

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As autoridades que chegavam ao local se deparavam com uma menção a um exilado pela ditadura. No hall de entrada do Teatro Nacional Maestro Claudio Santoro uma placa destacava quando o músico comunista que dá nome ao prédio teve um exílio forçado pela ditadura por uma década.

No hall estavam expostos o piano, um busto e um quadro do maestro Claudio Santoro, que dá nome ao teatro. Na imagem, ele aparece com a filha Sônia. E uma placa informava: “A foto foi tirada em Berlim entre 1966 e 1967, durante seu exílio na ditadura militar no Brasil”.

Santoro foi exilado na Alemanha entre 1968 e 1977, depois de ter sido demitido da Universidade de Brasília (UnB), onde era professor de música. A ordem partiu de um interventor militar do regime instalado na reitoria. O músico era filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). Quando retornou ao Brasil, no fim dos anos 1970, foi sabatinado por duas horas pelo Serviço Nacional de Informações (SNI), órgão da ditadura que monitorava inimigos do governo.

Exposição de itens do maestro Claudio Santoro lembra que ele foi exilado pela ditadura militar Foto: Eduardo Barretto/Estadão

Desenhado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, que também integrou o Partido Comunista Brasileiro, o Teatro Nacional ganhou o nome de Claudio Santoro quando o maestro morreu, em 1989. Santoro fundou e dirigiu a orquestra do teatro por uma década.

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A escolha do teatro como local da posse teve resistência de ministros militares. Os fardados tentaram abortar a ideia, considerada progressista demais para o tribunal mais antigo do País. Geralmente, o evento acontece no próprio STM, pequeno demais para o grande número de convidados.

Um dos discursos na cerimônia foi o do ex-ministro do STM Flavio Bierrenbach, que se lembrou de episódios conturbados da história política nacional e citou “a tentativa de golpe recente. Não foi pouco”. Foi aplaudido pela plateia, mas os ministros militares no palco seguiram sérios e sem reação, olhando para a frente.

A posse da primeira mulher a presidir o STM, nesta quarta-feira, 12, também teve uma referência curiosa em um ambiente com fardados. A pianista que se apresentou no começo da solenidade, Virginia Hogan, se formou na Universidade Karl Marx, na Alemanha, que leva o nome do fundador da ideologia. O currículo foi ressaltado pela mestre de cerimônias.

Solenidade de posse da presidente do Superior Tribunal Militar (STM), ministra Maria Elizabeth Guimarães Teixeira Rocha Foto: Wilton Junior/Estadão