Os servidores do Banco Central aproveitaram as atenções voltadas hoje ao Comitê de Política Monetária (Copom), que deve baixar a taxa básica de juros (Selic), para intensificar a operação-padrão e pressionar o governo Lula a receber a pauta da categoria. Eles dizem que já pediram formalmente reuniões com os ministros da Fazenda, Fernando Haddad, e do Planejamento, Simone Tebet, e não foram atendidos.
Em frente à sede na instituição monetária, em Brasília, representantes da categoria estenderam uma faixa para dizer que não são responsáveis pela política de juros altos. “Alerta: os servidores do BC não definem a taxa de juros. Essa atribuição é do Copom”, diz o texto.
A mensagem é uma forma de tentar quebrar resistência no governo Lula para atendê-los e também busca proteger a imagem do Banco, que na avaliação dos servidores estava sendo chamuscada e respingando no corpo técnico, diante da política de juros altos.
O grupo ressalta que o BC começou a ser muito criticado pelo presidente Lula, por ministros, e até por parte do mercado, por causa dos patamares da taxa Selic.
Operação-padrão completa um mês
Desde o início de julho, os funcionários do Banco Central começaram a fazer paralisações parciais todos os dias e maior lentidão na prestação de serviços.
O corpo técnico do BC avalia que enfrenta assimetrias em relação a outras carreiras da elite do funcionalismo público, como os servidores da Receita Federal, que terão a regulamentação de um bônus de produtividade - algo também demandado pelos funcionários da autoridade monetária.
Os funcionários do banco querem apresentar à equipe econômica do governo propostas para a edição de uma medida provisória ou de um projeto de lei que crie uma retribuição por produtividade, nos moldes do bônus de produtividade dos auditores fiscais da Receita.
No ano passado, a categoria fez o mesmo movimento durante as negociações pela reestruturação da carreira. Ao todo, o corpo técnico do BC tem cerca de 3.300 servidores.
Mobilização afeta serviços oferecidos aos clientes da rede bancária
A operação-padrão dos servidores gera atrasos, interrupções e há serviços realizados no Banco Central que não chegam a ser entregues.
A Coluna teve acesso a uma lista elaborada pelo sindicato da categoria que aponta que problemas já foram detectados. São dez os problemas apontados. Confira abaixo:
1) Atrasos nas atualizações no Manual de Crédito Rural, necessárias em função de mudanças regulatórias;
2) Atrasos nas propostas normativas de regulação de Criptoativos;
3) Atrasos nas propostas normativas de regulação do Open Finance;
4) Interrupção de relatórios internos com informações relevantes sobre o mercado de câmbio;
5) Atraso na divulgação mensal do ranking dos dealers de câmbio;
6) Diminuição do escopo de atendimento do monitoramento do Sistema de Transferência de Reservas (STR):
• Em 2022, o STR movimentou valores equivalentes a 1 PIB a cada 2,2 dias;
7) Diminuição do escopo de atendimento do Sistema de Pagamentos Instantâneos (SPI):
• O SPI processa as operações do PIX. Em dezembro de 2022, a movimentação per-capita da população brasileira foi de 14 PIX por habitante;
8) Atraso no PIX para autorização de adesão de novos participantes e na resolução de disputas;
9) Redução de escopo nas informações enviadas ao FMI relativas aos indicadores de estabilidade financeira;
10) Postergação de novos desenvolvimentos relativos ao monitoramento de juros, inflação implícita, prêmios e estratégias dos participantes de mercado.
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