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Coluna do Estadão

| Por Roseann Kennedy

Roseann Kennedy traz os bastidores da política e da economia. Com Eduardo Barretto e Iander Porcella

Siqueira diz que governo Lula não ouve aliados: ‘ninguém pode dar conselhos a quem não quer ouvir’

Presidente do PSB evita cravar apoio da sigla à reeleição do petista, mas ressalta que está ‘sempre disposto’ a ajudar o Planalto e elogia a condução da economia

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O presidente do PSB, Carlos Siqueira, afirma que o conselho político do governo Lula “nunca funcionou” e que não vê o Palácio do Planalto aberto a sugestões da base aliada. “Ninguém pode dar conselhos a quem não quer ouvir conselhos. Na hora que o presidente achar que deve ouvir alguém, ele chama. É mais importante para ele do que para a gente”, afirmou o correligionário do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), em entrevista ao Broadcast Político/Coluna do Estadão.

Siqueira, porém, ressalta que o PSB está sempre disposto a ajudar o governo e faz elogios à condução da economia. “O [ministro da Fazenda, Fernando] Haddad é uma boa surpresa no governo, tem dado um rumo à economia que muitos duvidavam que ele pudesse dar”, acrescentou.

O presidente do PSB, Carlos Siqueira. Foto: FOTO ARQUIVO/PSB

Veja os principais trechos da entrevista:

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O governo tem enfrentado queda na popularidade. Qual é a causa e o que o Poder Executivo deve mudar para reverter esse cenário?

Acho que o eleitor, seja ele de qual origem, está esperando coisas novas, cria novas expectativas, e o governo do presidente Lula, muito embora eu ache muitas coisas positivas, é uma repetição dos anteriores. Não é um programa propriamente novo, uma mudança que você diga assim: ‘Isso aqui é uma grande novidade’. Embora a reconstrução de vários programas seja importante, não nego isso, mas era preciso pensar um pouco em algo que pudesse ser, digamos, surpreendente para o eleitor.

O sr. avalia que o governo não consegue sair da bolha?

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Muitas coisas mudaram e a forma de fazer política também precisa mudar. Nesse sentido, a esquerda carece de uma atualização muito grande para que ela possa retomar seu protagonismo. O fato de ganhar uma eleição não significa que você está hegemônico na sociedade, até porque a eleição que se ganhou foi de uma frente amplíssima que inclui setores de centro-direita e de direita mesmo e que eram só favoráveis à democracia, que é um termo muito amplo. Mas há diferentes visões desse campo que ganhou as eleições e a esquerda precisa ter sua própria política capaz de mostrar sua identidade, assim como a extrema-direita está mostrando.

Há abertura do governo para sugestões e conselhos do PSB?

Não, o conselho político nunca funcionou. Diferentemente de outros governos em que havia um Conselho Político. Isso não aconteceu. A gente só pode dar conselhos a quem pede. Ninguém pode dar conselhos a quem não quer ouvir conselhos. O PSB está aqui para ajudar e, mais do que dar conselhos, deve fazer as coisas bem feitas, e acho que está fazendo, onde for chamado a colaborar. Na hora que o presidente achar que deve ouvir alguém, ele chama. É mais importante para ele do que para a gente.

No ano passado, com a ida do ministro Flávio Dino para o STF, o PSB perdeu espaço no governo. Caso haja uma nova reforma ministerial, a legenda vai pleitear novos ministérios?

O PSB, diferentemente de outros partidos, não apoia o governo porque tem ministérios. Fizemos todo o esforço possível para garantir a eleição do presidente Lula, fomos o principal partido, depois do PT. Depois da eleição, o presidente decidiu colocar três quadros importantes do PSB nos ministérios. Mas não estamos apoiando por essa razão. Estamos apoiando porque queremos melhorar a qualidade da democracia, queremos ajudar para melhorar a qualidade do governo também, queremos que o governo dê certo. Agora, isso não é uma visão acrítica. Concordamos com algumas coisas e discordamos de outras.

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Ficou uma impressão de que o governo desprestigiou Márcio França, um quadro do PSB, ao remanejá-lo do Ministério de Portos e Aeroportos para a pasta de Micro e Pequena Empresa.

O problema não foi a mudança, foi a forma. Deixamos muito claro. A forma foi, digamos assim, absolutamente incivilizada, porque poderia ter chamado o partido e o próprio ministro para uma conversa e se faria tudo aquilo sem nenhuma rusga. Foi uma forma grosseira, incivilizada e quase inaceitável. Mas não é o fato de ter mudado o ministério, porque a questão das micro e pequenas empresas não é menos importante que os portos. Não achamos que houve um rebaixamento.

Ainda há incômodo do partido com esse episódio?

Não, é uma questão superada.

O PSB vai apoiar a reeleição do Lula em 2026?

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É cedo demais. Hoje, a nossa preocupação deve ser para que o governo melhore, dê certo e seja um sucesso. Qual decisão tomaremos em 2026 só vamos saber lá em 2026 porque dois ou três anos no Brasil em matéria de política é quase uma eternidade.

O governo anunciou mudança na meta fiscal de 2025, de superávit de 0,50% para déficit zero. A gestão está abandonando, aos poucos, a responsabilidade fiscal?

Não diria que está abandonando, está flexibilizando. Isso pode gerar uma certa desconfiança, porque vivemos hoje nessa cobrança permanente de meta. Mas o governo, por outro lado, precisa ter recursos para fazer seus investimentos em infraestrutura. Hoje, o recurso é muito dirigido ao pagamento de juros da dívida pública, que é imensa. O governo também tem suas obrigações, tanto com a manutenção de programas sociais, do sistema de saúde, de educação e a infraestrutura. Acho que esperava uma arrecadação maior do que está tendo com a reforma fiscal. Talvez, por isso, tenha feito essa flexibilização de meta. Mas não me parece comprometer o rumo da economia.

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