Passado não se apaga. Violência doméstica - física e psicológica - jamais pode ser aceita ou normalizada, e tem de ser denunciada. É importante ressaltar que esses pontos são inegociáveis e não podemos admitir recuo.
Cientes dessa premissa, a primeira-dama Janja da Silva, algumas políticas e artistas divulgaram um vídeo a menos de 24 horas do início da votação do segundo turno para “denunciar” um suposto caso de violência doméstica, registrado em boletim de ocorrência pela mulher do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, em 2011.
A tal “bomba” que o adversário de Nunes na corrida pela Prefeitura Guilherme Boulos (PSOL) prometeu ao longo de toda a semana, ao que tudo indica, foi essa gravação. Ou seja, nenhum fato novo. Afinal, o tema já havia aparecido ao longo do primeiro e do segundo turnos e tinha gerado manifestação da primeira-dama de São Paulo. Quando o ex-coach Pablo Marçal expôs o assunto, Regina Nunes divulgou um vídeo para contestar o adversário do marido. “Não, Pablo. Meu marido nunca me bateu”.
Desta fez, a diferença é que o novo vídeo tem potencial para viralizar, e foi disparado na véspera da eleição, sem tempo hábil para reação na campanha de Nunes.
Em nenhum momento há manifestação de qualquer preocupação com a “vítima” que teria sido a mulher de Nunes. Ao contrário disso, ela é exposta ao constrangimento quando as mulheres do movimento de esquerda apoiadoras de Guilherme Boulos dizem não ter nada a ver se houve reconciliação.
O vídeo representa de fato sororidade ou mero oportunismo político?
Se o tema era conhecido ao longo de toda a campanha municipal, por que a união das vozes femininas não ocorreu antes?
O timing escolhido contamina a leitura sobre a real intenção e expõe a cartada final. Soa como tentativa de uma bala de prata na campanha de Boulos para mudar o cenário político apresentado nas pesquisas eleitorais, nas quais ele aparece em grande desvantagem em relação ao prefeito.
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