A tempestade e o vendaval que deixaram São Paulo sem luz viraram um dos principais temas deste segundo turno da campanha pela Prefeitura. Se antes o candidato do PSOL, Guilherme Boulos, estava à procura de um assunto diferente para fustigar o prefeito Ricardo Nunes (MDB), seu adversário, a “arma” literalmente caiu do céu.
O apagão que há três dias levou 2,1 milhões de consumidores à escuridão, e até agora não foi solucionado em vários pontos da cidade, marcará o debate desta segunda-feira, 14, entre Nunes e Boulos, promovido pela Band TV. Embora o prefeito sustente que todo o problema é causado pela ineficiência da Enel, uma concessão federal, o candidato do PSOL baterá na tecla do “apagão de planejamento” por parte do atual incumbente.
A expressão foi usada por Antônio Palocci, então ministro da Fazenda no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). À época, Lula e os ministros petistas diziam ter recebido uma “herança maldita” de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que comandara o País de 1995 a 2002.
A disputa de agora expõe com mais força o duelo político entre Lula, que apoia Boulos, e o ex-presidente Jair Bolsonaro, que indicou o vice na chapa de Nunes, embora ainda não tenha entrado na campanha.
“São Paulo hoje não tem prefeito”, afirma Boulos. “Tem mais gente sem luz em São Paulo do que na Flórida, onde passou um furacão.” O deputado tenta colar em Nunes o rótulo de “incompetente”, alguém que deixa a cidade abandonada e não consegue cuidar nem mesmo da poda de árvores. Quando as árvores caem, derrubam os fios de energia elétrica.
Nunes, por sua vez, repete que quem quer renovar o contrato com a Enel é o governo Lula. O prefeito chegou a entrar num bate-boca virtual sobre isso com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que o acusou de estar de olho na “herança eleitoral” do influenciador Pablo Marçal e de ser um “aprendiz de malfeitos”.
Vestido com o colete da Defesa Civil, Nunes diz que a Enel se comporta como “inimiga do povo de São Paulo”, defende a rescisão do contrato com a empresa italiana – que vai até 2028 – e joga a culpa do apagão não só na companhia, mas também em Lula. A Prefeitura alega que as 386 árvores caídas eram “saudáveis” e só foram ao chão por causa do vendaval.
O ministro de Minas e Energia interrompeu as férias e, nesta segunda-feira, 14, tem encontro com representantes da Enel e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), em São Paulo. Ao descrever a sequência de problemas ocorridos com a distribuidora de energia, Silveira apontou o dedo para a Aneel, que, de acordo com ele, falhou na fiscalização. Em novembro do ano passado, por exemplo, a cidade também foi atingida por um apagão.
Nesse cenário de troca de acusações, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, aproveitou para lembrar, nas redes sociais, que a diretoria da Aneel foi nomeada por Bolsonaro, “chefe de Tarcísio e de Ricardo Nunes”.
Antes, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, já havia cobrado que Silveira e a Aneel tomassem “providências imediatas” para romper o contrato da Enel por deixar os consumidores “na mão”.
Como resposta, Silveira disse não ter faltado cobrança à Aneel para punir a distribuidora. Em mais uma estocada, porém, o ministro chamou a agência de “bolsonarista” e observou que sua diretoria foi nomeada pelo governo anterior, do qual, nas suas palavras, Tarcísio foi “destacado integrante”.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.