Com a guinada de Pablo Marçal (PRTB) nas últimas pesquisas de intenção de voto, as campanhas dos demais candidatos à Prefeitura de São Paulo, que viam o ex-coach como alguém sem chances de vencer o pleito, tiveram de recalcular a rota para frear o avanço do empresário sobre o eleitorado da cidade. Alguns se negam a afirmar que eventuais mudanças se deram por conta do crescimento do adversário.
Em situação mais crítica está Ricardo Nunes (MDB). Na pesquisa Datafolha dessa quinta-feira, 22, o atual prefeito viu o influenciador disparar numericamente e tomar o segundo lugar no levantamento. Com isso, pela margem de erro, os dois estão em empate técnico - com vantagem para Marçal. A Coluna do Estadão apurou que Nunes deve calibrar seus perfis nas redes sociais com a finalidade de aumentar o engajamento nessas plataformas e tentar estourar sua bolha de eleitores, antes mesmo das propagandas em TV e rádio - em que o prefeito terá o maior tempo disponível entre todos os candidatos.
À Coluna, a campanha reconheceu que o engajamento do adversário do PRTB é grande, mas reforçou que um maior investimento nas plataformas digitais já estava previsto, e não deve ser feito apenas por conta de Marçal. O conteúdo disparado nessas mídias será focado no que o prefeito realizou durante seu mandato e diz que, por si só, isso desqualificaria outros candidatos – sem precisar realizar ataques diretos. Além disso, Nunes deve estreitar laços com Jair Bolsonaro (PL) na tentativa de recuperar uma parcela de eleitores do ex-presidente que declararam voto no outsider.
O cenário para a candidata do PSB Tabata Amaral também mudou. Se no começo ela estava disposta apenas a “falar da cidade” e apresentar suas propostas ao eleitor, agora, interlocutores da deputada admitiram à Coluna que uma pesquisa interna, na próxima semana, ajudará a traçar a estratégia com a subida de Marçal.
Um eventual endosso de Tabata à polarização vai de encontro ao que ela mesma pregava no começo da pré-campanha. Na época, sua ideia era que as pessoas estariam cansadas desse modelo na política. Por enquanto, porém, seus interlocutores afirmam que a estratégia da deputada segue a mesma: confrontar adversários, sem recuar para nenhum, e apresentar propostas. E garantiram que ela estará presente nos debates.
Já o candidato Guilherme Boulos (PSOL) não deve mudar sua estratégia. Interlocutores da campanha do psolista argumentaram à Coluna que eleitoralmente o candidato do PRTB ‘rouba’ votos de Nunes. O que será feito agora, segundo eles, é reforçar a atuação jurídica contra o ex-coach para denunciar seus ataques contra o candidato apoiado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A campanha também avaliou que o momento é positivo para Boulos, com o bolsonarismo dividido entre as candidaturas de Marçal, Nunes e Marina Helena (Novo).
José Luiz Datena (PSDB) disse que não comenta resultados de pesquisas. Em vídeo divulgado pela campanha, nesta sexta, 23, o apresentador fez ligações de pessoas do partido de Marçal ao Primeiro Comando da Capital (PCC). A campanha reforçou à Coluna que o jornalista foi o primeiro a falar sobre a facção, em ‘coerência’ com sua carreira na televisão, e que continuará a fazer denúncias contra Marçal e qualquer outro candidato que for suspeito de envolvimento com o crime organizado.
Após a publicação da reportagem, a assessoria de Marina Helena disse à Coluna que a campanha não mudará a estratégia, e que ela é a candidata “que mais representa os valores do eleitorado de direita”. Ao longo da semana, interlocutores da candidata do Novo reconheceram que ela tem linhas de pensamento semelhantes às do empresário, mas sem admitir qualquer possibilidade de firmar ‘dobradinha’ com ele.
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