Peça-chave na investigação de Silvinei Vasques, ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF) preso, nessa quarta-feira, 9, por suposta interferência nas eleições, o corregedor-geral da corporação, Vinícius Behrmann, quer recuperar a sobriedade de uma das forças de segurança mais aparelhadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Para Behrmann, daqui para frente é preciso investigar quem não atua de forma isenta - e punir com o rigor da lei.
“A PRF precisa ser um órgão de Estado, ela não é de governo. A gente atua de acordo com o ordenamento jurídico”, afirma o corregedor, em conversa com a Coluna. Behrmann quer reforçar a capacitação dos policiais para evitar uma nova politização da PRF, mas ressalta que a maioria dos servidores atua de forma isenta.
A corregedoria da PRF teve papel fundamental no cerco a Silvinei Vasques, ao colaborar com documentos da corporação que subsidiaram o pedido da Polícia Federal pela prisão do ex-diretor-geral. Vasques é suspeito de comandar uma operação atípica no dia do segundo turno das eleições do ano passado em redutos do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, hoje presidente.
A seguir, os principais trechos da conversa:
Coluna do Estadão: A atuação de Silvinei Vasques na PRF representa o uso da corporação para fins políticos. Como garantir que isso não volte a acontecer?
Behrmann: A PRF precisa ser um órgão de Estado, ela não é de governo. A gente atua de acordo com o ordenamento jurídico. Precisamos de transparência em nossas ações. A PRF é plural, tem 13 mil policiais. Alguns fatos praticados por poucos têm grande repercussão, e parece que o órgão todo tem essa atuação irregular. Dentro dos 13 mil policiais, a grande maioria atua de forma isenta.
Coluna do Estadão: Mas que medidas práticas podem ser tomadas para manter a PRF como uma instituição de Estado?
Behrmann: A nossa ideia é reforçar a capacitação. Os servidores precisam ter noção de seus atos, a sensação de responsabilidade. É preciso ficar claro que cada conduta irregular pode resultar em punição. E cada conduta irregular terá a punição aplicada. Não pode existir uma sensação de impunidade. O Estado dá um poder muito grande ao policial, que é o uso da arma. E isso traz uma responsabilidade, que precisa ser cobrada. A forma de evitar que fatos assim se repitam é apurar suspeições e prestar contas à sociedade. E punir, se for o caso.
Coluna do Estadão: Silvinei Vasques está na mira do Supremo Tribunal Federal, do Tribunal de Contas da União, da Justiça Eleitoral, da Controladoria-Geral da União. A corregedoria pode cassar a aposentadoria do ex-PRF?
Behrmann: O servidor aposentado, como o Silvinei Vasques, pode responder por atos de quando estava na função. E esses atos podem levar à cassação de aposentadoria, sim. Depende da gravidade e do julgamento.
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