O ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT), preso no mensalão e hoje advogado de grandes empresas do País, tem aberto as portas de sua residência em Brasília para amigos de longa data. Em almoços reservados, mas periódicos, lideranças da “velha guarda” do PT como os ex-ministros José Dirceu e Fernando Pimentel, hoje à frente da Empresa Gestora de Ativos (Emgea), sentam-se à mesa para analisar a cena política. Entre comentários sobre a atuação do Palácio do Planalto, há uma preocupação geral, ora mais exacerbada, ora mais contida, com os rumos do governo federal e do partido. Procurado, João Paulo Cunha não quis comentar os almoços que tem promovido.
Um encontro recente, há cerca de duas semanas, contou com a participação do ex-ministro Ricardo Berzoini e do prefeito de Araraquara, Edinho Silva. Nessa edição, o grupo deixou claro a Edinho que o apoiará para suceder Gleisi Hoffmann na presidência do PT. Preferido do presidente Lula para comandar o PT a partir de 2025, o ex-ministro da Secom tem evitado comentar a eleição partidária. Focado em eleger a sucessora em Araraquara, Eliana Ronaí, Edinho quer comentar o assunto somente após o pleito municipal.
Em uma recente entrevista ao Estadão, Gleisi Hoffmann indicou que prefere passar o bastão para o líder do governo na Câmara, José Guimarães (CE). “Eu acho justo e natural ter um nome do Nordeste pela importância política da região para o PT”, afirmou a deputada. Apesar do racha interno do PT, há uma percepção clara entre os dois grupos que Lula dará a palavra final sobre quem estará no comando da sigla em 2026, quando ele pretende disputar a reeleição.
Um participante dos almoços na residência de João Paulo Cunha confidenciou à Coluna do Estadão que o grupo vê o governo “acertando no varejo e errando no atacado”. Ou seja, tem uma boa estratégia política, mas peca na atuação diária com deslizes — que, somados, aparentam um governo sem foco. Em mais de uma conversa à mesa dos amigos, o fracasso do leilão do arroz, cancelado após suspeitas de irregularidades reveladas pelo Estadão, foi descrito como um “desastre”.
Os convescotes da velha guarda petista chegaram aos ouvidos dos atuais dirigentes. Dois deles, em conversa reservada com a reportagem, criticaram a atuação dos correligionários e veem uma tentativa de influenciar a composição do governo. Em tom jocoso, um expoente petista desabafou que os “zumbis do PT”, nas palavras desse interlocutor, representam o “atraso” na sigla e se “chamuscaram” em escândalos de corrupção.
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