O ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro (União Brasil) foi eleito senador no Paraná na eleição deste domingo, 2. Ele recebeu 1,9 milhão de votos na disputa ao Senado, o equivalente a 33%, e assumirá a cadeira que era de Alvaro Dias (Podemos), que foi derrotado em sua tentativa de reeleição e terminou o pleito no terceiro lugar, com 23%, atrás de Paulo Martins (PL), candidato apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro que obteve 29%.
Dias, que tentava seu quarto mandato como senador, foi padrinho político de Moro e os dois eram aliados antes de serem adversários na disputa ao Senado no Paraná. A relação foi abalada quando o ex-juiz migrou para o União Brasil quatro meses depois de se filiar ao Podemos, de Dias, no qual não encontrou apoio e tinha caixa reduzido. Ambos passaram a campanha trocando acusações.
Moro fica no cargo até 2030 e assume o mandato em fevereiro de 2023. Seus suplentes são Luis Felipe Cunha e Ricardo Guerras, ambos do União Brasil. Em sua campanha, prometeu ser oposição a um eventual governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em debate promovido pela Band, chegou até a fazer acenos a Jair Bolsonaro, com o qual mantém divergências, alegando que ele e o presidente têm “um adversário em comum”, o PT.
Confirmada sua vitória, Moro afirmou nas redes sociais que a Lava Jato “vive” e vai “chacoalhar Brasília novamente”. “Vencemos todo o sistema político contra nós. Poucos aliados políticos, mas valorosos”, comemorou, citando também a eleição de sua mulher, Rosângela Moro, para deputada federal por São Paulo. “O Paraná e o Brasil terão um senador forte e independente em Brasília”.
A eleição para o Senado representa uma vitória para o ex-juiz depois de uma sucessão de derrotas. Ele havia desistido de disputar a Presidência da República e tinha sido impedido pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo (TRE-SP) de concorrer em São Paulo depois que o tribunal rejeitou a transferência de seu domicílio eleitoral em junho passado.
Eleito para seu primeiro cargo político, Moro disse ao Estadão, em sua primeira entrevista como juiz da Lava Jato, em 2016, que jamais entraria para a política. Na ocasião, o então magistrado, acusado principalmente pelo PT de perseguir o partido, declarou também que a Justiça era “questão de prova” e achava “errado tentar medir a Justiça por essa régua ideológica”.
“Sou um homem de Justiça e, sem qualquer demérito, não sou um homem da política. Acho que a política é uma atividade importante, não tem nenhum demérito, muito pelo contrário, existe muito mérito em quem atua na política, mas eu sou um juiz, eu estou em outra realidade, outro tipo de trabalho, outro perfil. Então, não existe jamais esse risco”, dissera.
O paranaense natural de Maringá, nascido em 1º de agosto de 1972, ficou conhecido nacionalmente por sua atuação na 13ª Vara Federal de Curitiba no âmbito da Lava Jato, a maior operação contra a corrupção da história do Brasil, sobretudo pelas decisões que resultaram na prisão de Lula. A grande popularidade fez com que o próprio magistrado fosse cotado como um dos possíveis candidatos a presidente da República nas eleições 2018, o que não se concretizou.
No entanto, a condenação do petista por Moro nos casos do tríplex do Guarujá e do sítio em Atibaia acabou sendo anulada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que entendeu que o julgamento realizado por Moro foi parcial, declarando assim a suspeição do magistrado.
Moro largou o cargo de juiz federal e passou a integrar o governo de Jair Bolsonaro desde seu início, em janeiro de 2019. A pasta da Justiça se fundiu à da Segurança Pública, criando um “superministério”. No entanto, a relação entre presidente e ministro se desgastou ao longo do mandato até que Moro desembarcou do governo em abril do ano passado acusando o presidente de tentar interferir em investigações da Polícia Federal.
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