Se as últimas eleições brasileiras têm enfrentado uma polarização entre direita e esquerda, a concorrência à prefeitura de Fortaleza amplia esse cenário para disputas dentro das próprias linhas de pensamento. Enquanto a esquerda se divide em duas candidaturas, com PDT e PT, a direita se fragmenta em três, com nomes de União Brasil, PL e Novo.
Para a analista política e professora da Universidade Estadual do Ceará (UECE) Monalisa Torres, dentro deste contexto, em que esquerda e direita se encontram fracionadas, a formação de alianças se torna essencial nos próximos passos das eleições municipais.
À frente das pesquisas eleitorais, o pré-candidato Capitão Wagner (União Brasil) tem a seu favor o fato de ser uma figura conhecida da política cearense. Em 2022 ele ficou em 2º lugar nas eleições para governador do Estado e já foi vereador e deputado estadual.
Apesar disso, Wagner afirma que está conversando com o PL e o Novo em busca de apoio. Os partidos têm como pré-candidatos o deputado federal André Fernandes e o senador Eduardo Girão, respectivamente.
Para Wagner, porém, a confirmação dos nomes como candidatos pode ser prejudicial à sua campanha: “Uma candidatura do PL pode tirar alguns pontos percentuais meus. Um apoio do partido, do Novo, seria muito bom, mas só vou realmente definir minha chapa e desistir de qualquer composição após o início das convenções”, afirma Wagner.
O Partido Liberal, porém, não pensa em desistir da candidatura de Fernandes, que é apontado como o terceiro colocado nas pesquisas. Aliados do pré-candidato, inclusive, criticaram Capitão Wagner e Eduardo Girão, alegando falta de reciprocidade e ego dos políticos. O clima bélico dificulta uma possível aliança entre a ala da direita
Apoio da família Gomes e desentendimento na esquerda
O PDT e o PT enfrentam uma disputa à parte, que é o apoio dos irmãos Gomes. O rompimento, que ocorreu em 2022, tem reflexos na atual eleição. Na época, Ciro Gomes teve influência direta na escolha de Roberto Cláudio (PDT) como o candidato do partido à prefeitura de Fortaleza.
A escolha foi na contramão do que esperavam os irmãos Ivo Gomes (antes PDT, atual PSOL) e Cid Gomes (PDT), que apoiavam a então governadora Izolda Cela (atualmente sem partido). Desde então, a família se posiciona de forma separada.
Com grande influência no Estado, o apoio de um dos irmãos pode ser um diferencial na disputa à prefeitura de 2024. Ivo Gomes, agora no PSOL, concorre à prefeitura da cidade de Ouricuri. Já Cid Gomes declarou apoio à Janaína Farias (PT) como candidata a prefeita de Cratéus.
A boa relação com o Partido dos Trabalhadores gera expectativas de que a candidatura do deputado Evandro Leitão vai contar com o apoio do senador: “A construção do nome para disputar a prefeitura, obviamente, já passou por uma interlocução com o senador Cid Gomes, que é um aliado de primeira hora do projeto político que está em curso no Ceará”, afirma Guilherme Sampaio, presidente do PT do Ceará e coordenador de campanha.
Além de Cid Gomes, o PT já formou aliança com outros oito partidos. O quarto lugar de Leitão nas pesquisas eleitorais não é visto como uma preocupação: “O Evandro é disparado aquele candidato que tem o maior potencial de crescimento nessas eleições. Ele compõe a chapa da federação PT, PV, PCdoB, MDB, PSB, PSD, PP, Solidariedade e Republicanos”, afirma Sampaio.
Confirmando a distância entre a família, em abril deste ano, Ciro Gomes chamou Janaína Farias, apoiada por Cid, de “assessora de assuntos de cama”. A senadora o denunciou por violência de gênero. Em relação à prefeitura de Fortaleza, Ciro garantiu apoio ao atual prefeito José Sarto (PDT), que aparece em segundo lugar nas pesquisas eleitorais.
Rejeição do prefeito
O nome de Sarto, porém, ainda não está confirmado pelo PDT. Com a maior rejeição entre os pré-candidatos, o nome de Roberto Cláudio, presidente municipal do PDT, foi ventilado para assumir a candidatura do atual prefeito.
Cláudio, entretanto, garante que o processo natural é a escolha do nome de Sarto para a disputa. Em março deste ano, o presidente municipal do PDT e Ciro Gomes se reuniram para alinhar as chapas que serão formadas.
A coligação já conta com PSDB, Cidadania, Mobiliza, PMB, DC, Avante, PRD, Agir e PRTB, sinalizando que o partido também trabalha nos bastidores para formar alianças fortes durante as eleições.
Polarização entre esquerda e direita
As recentes eleições no Brasil mostram um cenário de divisão entre a esquerda e a direita. O movimento que começou com a disputa presidencial de 2018 ganhou força nos anos subsequentes e os candidatos apoiados pelo presidente Lula e o ex-presidente Jair Bolsonaro ganham destaque.
Nas eleições municipais de Fortaleza o contexto não é diferente. Bolsonaro já declarou de forma pública o seu apoio ao candidato do PL, André Fernandes. Por sua vez, Evandro Leitão, do PT, representa o projeto apoiado pelo presidente Lula.
Para fugir da polarização, Capitão Wagner se coloca como um candidato de terceira via, visando aqueles que estão insatisfeitos com a atual gestão, seja municipal com José Sarto, seja estadual, com Elmano de Freitas (PT), e também dialogando com eleitores que possam estar mais alinhados à direita.
Um olhar para além da prefeitura
Monalisa ressalta que além do posto de prefeito, os partidos também estão se movimentando para montar uma base na câmara de vereadores que torne o mandato possível: “É importante ressaltar que a disputa não olha apenas para a prefeitura, mas faz uma projeção mais à frente. Claro que o cargo é importante, mas a visão dos partidos vai além”, comenta a analista.
Sabendo da relevância do tema, o PT planeja eleger a maior bancada da história na Câmara Municipal. A projeção é de que a federação, PT, PV e PCdoB possa conseguir de seis a oito vereadores.
Já o pré-candidato Capitão Wagner afirma que o partido vai trabalhar para eleger uma boa bancada, mas que a experiência como vereador da cidade o traz confiança de que o diálogo será possível com quaisquer candidatos eleitos.
Confira os pré-candidatos a Fortaleza
- José Sarto (PDT), prefeito
- Capitão Wagner (União), secretário de saúde de Mandacaru
- André Fernandes (PL), deputado federal
- Evandro Leitão (PT), presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará
- Eduardo Girão (Novo), senador
- Técio Nunes (PSOL), presidente do PSOL de Fortaleza
- Zé Batista (PSTU), *não exerceu cargos públicos
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