A mudança brusca na cúpula militar brasileira foi desarticulada. Os atuais comandantes-gerais das Forças Armadas desistiram de antecipar a saída do cargo nos próximos dias e vão transmitir os comandos em cerimônias separadas a partir de janeiro de 2023, após a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A mudança no panorama ocorreu depois de articulação direta do futuro ministro da Defesa, José Múcio Monteiro.
Como mostrou o Estadão, os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica indicaram nos bastidores da caserna o desejo de deixar a função antes da hora e chegaram a avisar os superiores – o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, e o presidente Jair Bolsonaro (PL). Mas o cenário mudou.
O gesto foi visto por aliados do petista como uma hostilidade política a Lula. Mesmo entre os militares da ativa e da reserva, houve uma série de conversas para demovê-los da atitude, que poderia fazê-los “entrar para a história” de forma negativa, vistos como politizados e alinhados à opção de Bolsonaro de não facilitar a transição para Lula, não verbalizar o reconhecimento da derrota e tampouco participar das solenidades de posse. Oficiais chegaram a dizer que os comandantes não transmitem o cargo a um rival político, mas a colegas de farda – e portanto não haveria motivo para “birra”.
Logo depois de apresentado oficialmente por Lula, Múcio disse que iria procurar os comandantes para explicar seus motivos, ouvi-los e pedir que permanecessem até a posse do petista. Ele afirmou que se engajaria pessoalmente na articulação e que a transição deveria ocorrer dentro das tradições. Depois, foi ao encontro do atual ministro da Defesa para levar o pedido.
Nesta semana, Múcio almoçou com o comandante da FAB, o brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior, e com o futuro comandante da Força, o brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno. Almeida Junior explicou que havia planejado passar o comando no dia 23 de dezembro com o objetivo de facilitar a transição. Os três conversaram e decidiram que a melhor data seria no dia 2 de janeiro.
Risco
A desarticulação da mudança antecipada foi provocada por causa do risco de isolamento na Força Aérea. O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos Almeida Baptista Júnior, desmarcou a passagem de comando que já organizava em Brasília para o dia 23 de dezembro. Ele havia inclusive feito convites pessoais a oficiais amigos. A cerimônia foi reagendada para 2 de janeiro.
Os comandantes do Exército, general Freire Gomes, e da Marinha, almirante Almir Garnier, não haviam escolhido uma data, nem confirmavam a decisão. Segundo militares das cúpulas das Forças, porém, a ideia era uma saída em conjunto. O Exército deve decidir nos próximos dias quando será realizada a passagem do comando-geral. A Marinha não se pronunciou.
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Baptista Júnior era o único com data fechada para transmitir o comando ao brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno, seu sucessor. No fim de semana, ele publicou uma foto de ambos juntos nas redes sociais. Disse que a Força Aérea Brasileira terá como comandante “um líder nato, profundo conhecedor de todos os assuntos e com visão gerencial apurada”. “Minha torcida e apoio serão permanentes”, escreveu Baptista Júnior.
Nesta semana, Múcio almoçou com os brigadeiros Baptista Junior e Damasceno. Baptista Junior explicou que havia planejado passar o comando no dia 23 de dezembro com o objetivo de facilitar a transição sem qualquer intenção de causar constrangimento ao novo governo. Os três, então, decidiram que a melhor data seria mesmo no dia 2 de janeiro.
Lula convidou os futuros comandantes selecionados por Múcio para um primeiro encontro nesta sexta-feira, 16. A reunião ocorreria na semana passada, mas foi adiada para gestões da equipe de Lula, liderada por Múcio, junto à atual cúpula militar de Bolsonaro.
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