Condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por ataques à Corte, o deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) recebeu, ontem, a medalha da Ordem do Mérito do Livro, concedida pela Biblioteca Nacional a personalidades que contribuíram com a literatura brasileira. Entregue a nomes como o poeta Carlos Drummond de Andrade, a honraria foi entregue ao bolsonarista por escolha do presidente da instituição, Luiz Carlos Ramiro Junior, em razão do Bicentenário da Independência.
O escritor e poeta Marco Lucchesi seria um dos homenageados pela Biblioteca Nacional, no entanto, decidiu recusar a medalha ao ser informado de que a honraria seria concedida aos aliados do presidente: “Se eu aceitasse a medalha seria referendar Bolsonaro, que disse preferir um clube ou estande de tiro a uma biblioteca. Agradeço, mas não posso aceitar”, diz.
“Esse prêmio, eu não posso receber. Eu estou impedido de receber, porque não posso codividi-lo com o presidente da República, que persegue políticas do livro, destruiu bibliotecas. Eu tenho um compromisso de levar os livros e as bibliotecas nas prisões, nas comunidades indígenas e quilombolas. Além disso, eu não posso receber uma medalha junto com alguém que tem um grande desprezo diante da querida e saudosa vereadora Marielle, que quebrou a placa da vereadora Marielle e que é legitimamente alguém que está rompendo com o que significa Justiça em nosso país”, acrescentou.
Os netos de Drummond, Pedro e Maurício Drummond, divulgaram uma carta em que classificam a homenagem ao deputado bolsonarista como “um verdadeiro deboche”. No texto, os herdeiros do poeta mineiro dizem ainda que Drummond recebeu a medalha da Ordem do Mérito do Livro em uma época em que as autoridades “não nos envergonhavam e não nos apequenavam como nação”.
“Diante desse verdadeiro deboche, a família de Carlos Drummond de Andrade vem a público lembrar que o poeta recebeu a homenagem quando a Biblioteca Nacional era dirigida pela escritora Maria Alice Barroso, nome respeitável que honrou e engrandeceu a Casa que também já teve, como diretores, intelectuais do porte de Josué Montello e Affonso Romano de Sant’Anna. Época em que o Brasil era outro, com autoridades que se faziam merecedoras de respeito pela dignidade, pelo decoro e pela conduta ética, mandatários que, diferentemente de hoje, não nos envergonhavam como povo e não nos apequenavam como nação”, escreveram.
Procurados, Daniel Silveira e o presidente da Biblioteca Nacional, Luiz Carlos Ramiro Junior, não retornaram ao contato.
Aliado do presidente Jair Bolsonaro, Silveira foi condenado a oito anos e nove meses de prisão por ameaças e incitação à violência contra ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Foram dez votos a favor da condenação, oito deles seguindo integralmente o voto do relator Alexandre de Moraes. Apenas Nunes Marques votou pela absolvição do deputado.
Menos de 24 horas depois da decisão, o presidente Jair Bolsonaro saiu em defesa do bolsonarista e editou um inédito decreto concedendo perdão da pena imposta por dez dos 11 ministros da Corte.
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