GENEBRA – As contas de supostos operadores de José Serra na Suíça e offshores ligadas ao esquema suspeito estão sendo alvo de investigações. O Ministério Público Federal já deixou claro que quer a cooperação das autoridades suíças para que congelem os recursos de Ronaldo Cezar Coelho, suspeito de ter sido um dos operadores da campanha de José Serra à presidência em 2010.
Delatores da Odebrecht também denunciaram Coelho por ter sido um dos intermediários do dinheiro que alimentou as contas da campanha de Serra. Um deles, o ex-superintendente da Odebrecht em São Paulo, Carlos Armando Paschoal, afirmou em depoimento que a empreiteira pagou R$ 24,6 milhões em propinas ao PSDB como contrapartida de um acordo no qual a gestão do ex-governador Serra (2007-2010) aceitou ressarcir a construtora em R$ 191,6 milhões em processo judicial referente à construção da Rodovia Carvalho Pinto, no fim da década de 1990.
Outro delator que também confirmou o pagamento foi o ex-executivo da construtora, Pedro Novis. “R$ 23 milhões que foram doados e foram doados de duas formas: a operação foi cuidada e tratada pelo diretor da Odebrecht em São Paulo, Paschoal, e fui procurado, por indicação do Sergio (Guerra) e do ministro Serra, por Ronaldo Cezar Coelho e Marcio Fortes, ambos com a incumbência de receber esses recursos”, disse.
Teria sido Serra quem comunicou que Ronaldo Cezar Coelho e Marcio Fortes seriam is responsáveis por organizar o recebimento do dinheiro. Coelho, na época, era tesoureiro do PSDB, enquanto Marcio Fortes era tesoureiro de Serra.
O assunto das contas de Coelho estava na pauta da reunião que teria de ter ocorrido em janeiro entre o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, e o procurador suíço, Michael Lauber. Mas, diante da morte de Teori Zavascki e do cancelamento do encontro, o assunto foi adiado.
Ainda assim, o Estado apurou que procuradores brasileiros mantiveram o pedido e que o objetivo é o de tentar examinar a relação entre o operador e a campanha do PSDB. Questionados, os suíços se recusaram a dar informações à reportagem se já abriram ou não um inquérito em relação ao operador. “O Escritório do Procurador-Geral da Suíça não está em uma posição de revelar qualquer tipo de informação relacionada a pessoas possivelmente ligadas a processos criminais”, respondeu o MP suíço ao ser questionado sobre Coelho.
O Estado também apurou que os repasses a ele foram feitos em nome de duas offshores. Foram nove pagamentos que totalizam R$ 6,25 milhões para a HTW Energy, com sede na Suíça, e 3,75 milhões de euros para a CDG Energy Trading, com sede nas Ilhas Virgens Britânicas, paraíso fiscal no Caribe. Todas elas operadas pelo setor de propinas da Odebrecht. O ex-executivo da construtora Luiz Eduardo Soares, que comandou o departamento, também confirmou os repasses.
O MP suíço, porém, garante que não tem qualquer investigação aberta em relação ao nome de José Serra. “Podemos informar que, até o presente momento, o escritório do Procurador Geral da Suíça não conduz um processo criminal contra a pessoa mencionada”, indicou.
Ronaldo Cezar Coelho já admitiu que recebeu repasse de dinheiro do PSDB na Suíça. Em Berna, apesar do silêncio oficial do MP, fontes próximas ao caso admitem ao Estado que o financiamento de campanha está no centro das atenções.
A informação do MP é de que o ex-deputado aderiu ao programa de repatriação de recursos, supostamente legalizando o dinheiro que teria no exterior. Assim, Cezar Coelho pagou uma parcela do valor do que declarou. Mas não repatriou o dinheiro, que continuariam em contas na Suíça.
Na avaliação do MP, César Coelho pode ter escapado do crime de sonegação e evasão. Mas não das suspeitas de lavagem de dinheiro. Por isso, procuradores querem agora que a Suíça abra uma investigação e peça aos bancos envolvidos nas contas do operador os extratos para avaliar de quem recebeu e, eventualmente, a quem pagou.
Procurada, a assessoria de Serra respondeu, em nota, que o senador não recebeu vantagens indevidas da Odebrecht, nem tomou medidas que tenham beneficiado a empresa em nenhum dos cargos que ocupou, "como afirmou o seu ex-presidente Pedro Novis em depoimento".
"O obra da ligação entre a Dutra e a Carvalho Pinto foi concluída muito antes de Serra ser governador. Uma decisão judicial fez com que o Estado tivesse que pagar uma indenização à Odebrecht." Ainda de acordo com a nota, "o senador José Serra sempre pautou sua carreira política na austeridade em relação aos gastos públicos. A abertura da investigação é útil para comprovar a lisura de sua conduta.”
O PSDB reforçou que o senador José Serra já havia se manifestado sobre o assunto e informou que não conseguiu contato com o ex-deputado Márcio Fortes. Sobre Cezar Coelho, o partido preferiu não comentar, uma vez que ele não é mais ligado à sigla.
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