As contradições de Wassef no caso das joias: veja o que o advogado de Jair Bolsonaro já disse

No domingo, o defensor do ex-presidente negou ter participado de negociações sobre itens de luxo; nesta terça, admitiu ter recomprado um Rolex, com ‘recursos próprios’, para devolver ao TCU

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Foto do author Isabella Alonso Panho

O advogado criminalista Frederick Wassef mudou a versão sobre a participação dele no esquema das joias envolvendo aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Em nota divulgada dois dias após a operação da Polícia Federal (PF), ele negou ter conhecimento do caso e ter comprado quaisquer objetos de luxo. Já nesta terça-feira, 15, Wassef admitiu ter recomprado o relógio da marca Rolex vendido no exterior por assessores do ex-chefe do Executivo com o objetivo de devolvê-lo ao Tribunal de Contas da União (TCU).

O advogado foi um dos alvos da Operação Lucas 12:2 e teve um dos seus imóveis, no bairro do Morumbi, em São Paulo, vasculhado na sexta-feira, 11. A corporação investiga a existência de esquema internacional de venda de presentes que Bolsonaro ganhou em agendas oficiais. Wassef teria recuperado o relógio que o ex-presidente ganhou de presente do governo da Arábia Saudita – cravejado com diamantes e platina –, após a Corte determinar a devolução do item.

A PF crê que Wassef tenha participação no esquema de compra e venda de joias que Bolsonaro ganhou durante agendas oficiais  

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De acordo a apuração da PF, que consta na decisão que autorizou a operação, assinada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, Wassef recomprou o relógio no dia 14 de março e o trouxe ao Brasil no dia 29 do mesmo mês. Segundo a PF, o advogado se encontrou com o tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, para entregar o artigo de luxo.

“No dia 2 de abril, Mauro Cid e Frederick Wassef se encontraram na cidade de São Paulo, momento em que a posse do relógio passou para Mauro Cid, que retornou para Brasília na mesma data, entregando o bem para Osmar Crivelatti, assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro”, afirma o documento.

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E-mails aos quais a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro teve acesso mostram que Mauro Cid tentou vender esse mesmo Rolex por US$ 60 mil – o que equivale a quase R$ 300 mil. A PF acredita que o próprio ex-presidente está envolvido no esquema e teria recebido dinheiro em espécie com a venda de joias e artigos de luxo.

‘Total armação’

No domingo, 13, Wassef divulgou uma nota dizendo ser vítima de “uma campanha de fake news e mentiras de todos os tipos”. Ele disse que ficou sabendo da existências das joias “no início deste ano de 2023 pela imprensa” e negou ter participado de negociações. “Nunca vendi nenhuma joia, ofereci ou tive posse. Nunca participei de nenhuma tratativa, nem auxiliei nenhuma venda, nem de forma direta nem indireta. Jamais participei ou ajudei de qualquer forma qualquer pessoa a realizar nenhuma negociação ou venda.”

A nota não menciona e tampouco nega o caso específico do Rolex, objeto por meio do qual a PF vincula o advogado ao esquema. “Fui acusado falsamente de ter um papel central em um suposto esquema de vendas de joias. Isso é calúnia que venho sofrendo e pura mentira. Total armação”, disse.

Para a PF, relógio que Wassef recomprou é o mesmo que Bolsonaro ganhou do governo da Arábia Saudita e que Mauro Cid revendeu Foto: Geraldo Magela/Agencia Senado e Acervo Estadão

Wassef admite a compra, mas não revela a mando de quem

Dois dias depois, na terça-feira, o advogado mudou a narrativa e admitiu a compra do Rolex. Em entrevista coletiva, ele disse que usou recursos próprios e que o gesto teve como objetivo devolver o objeto para o TCU. O recibo da compra, ao qual a PF teve acesso, foi mostrado pelo próprio Wassef na coletiva. O nome dele consta no documento, assim como o valor da transação – US$ 49 mil, equivalente a R$ 243 mil.

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“Eu comprei o relógio. A decisão foi minha. Usei meus recursos. Eu tenho a origem lícita e legal dos meus recursos. Eu tenho conta aberta nos Estados Unidos, em um banco em Miami, e usei o meu dinheiro para pagar o relógio. O meu objetivo, quando eu comprei esse relógio, era exatamente devolvê-lo à União, ao governo federal do Brasil, à Presidência da República”, afirmou na entrevista.

Wassef confirmou que comprou o relógio a pedido, mas não revelou quem orientou essa ação e tentou blindar o ex-presidente. “Quem solicitou não foi Jair Bolsonaro e não foi Coronel Cid. No momento oportuno eu falarei”, disse o advogado. Ele também se negou a mencionar detalhes da compra. “Se quiserem perguntar detalhamentos (qual voo, que horas entrou, para quem você deu), nesse momento não vou poder falar.”

Outro ponto do qual ele tratou na entrevista foi a duração da sua viagem aos Estados Unidos. “Se alguém vai com a missão de fazer um resgate, fica três dias, compra o relógio e volta. Eu já estava com a viagem marcada e já ia para os EUA de qualquer jeito”, disse Wassef na entrevista. De acordo com a PF, a viagem do advogado durou 15 dias.

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