‘Coronel Cid’, aliado de Bolsonaro, não deve assumir cargo enquanto houver investigação, diz Múcio

Ajudante de ordens do ex-presidente havia sido designado para a chefia do 1º Batalhão de Ações de Comando do Exército em Goiânia; transações financeiras que militar fazia para chefe do Executivo entra na mira do STF

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BRASÍLIA – O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, afirmou que o tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, conhecido como “coronel Cid”, não deve assumir a chefia do 1º Batalhão de Ações de Comando do Exército em Goiânia enquanto inquérito de sua investigação estiver em andamento. Cid é fiel escudeiro do ex-presidente Jair Bolsonaro e ajudante de ordens do ex-presidente.

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Em entrevista nesta terça-feira, 24, na GloboNews, o ministro foi questionado se, enquanto as investigações estiverem em curso e não for dada uma solução, o coronel Cid não deve tomar posse. “É isso que nós estamos entendendo”, respondeu. De acordo com Múcio, uma reunião com o Alto Comando do Exército será realizada na tarde desta terça-feira, 24.

“Nós também não estamos condenando ninguém por especulação, não cometer uma injustiça. Mas tenham absoluta certeza que, se tiver algum fato comprovado, isso deverá ser adiado, postergado, alguma coisa vai acontecer”, garantiu.

Ministro da Defensa afirmou que o novo comandante do Exército, o general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, pediu a Lula um ‘crédito de confiança para colocar as coisas no lugar’ Foto: Dida Sampaio/Estadão

Reportagem publicada na sexta-feira, 20, pelo site Metrópoles revelou dados de investigações que correm no Supremo Tribunal Federal (STF) envolvendo Cid e transações financeiras – muitas delas em espécie – que o coronel realizava para Bolsonaro e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Como mostrou o Estadão, um dos fatores da demissão do comandante do Exército, general Júlio César de Arruda, foi a resistência dele para exonerar Cid. No sábado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva nomeou para a chefia da Força Terrestre o comandante militar do Sudeste, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva.

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O ministro também classificou que o erro que acarretou as manifestações de 8 de janeiro foi a entrada de pessoas nos acampamentos do Exército. “(O erro) foi ter se permitido foi que as pessoas que vieram nos 130 ônibus para Brasília pudessem entrar no acampamento. Se tivesse ficado do lado de fora, se tivesse sido proibida a entrada de pessoas, se tivesse ficado em uma praça qualquer, o problema era da Polícia e do GDF (Governo do Distrito Federal)”, declarou.

Múcio disse ser preciso investigar e punir as pessoas envolvidas nas manifestações antidemocráticas de 8 de janeiro, porém “que mantenhamos a relação de confiança que as Forças precisam ter por parte do presidente e do presidente por parte das Forças”.

Nova liderança do Exército

Segundo Múcio, o novo comandante do Exército, o general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, teve uma “conversa ótima” com o presidente Lula antes de assumir o posto. O ministro afirmou que o militar pediu, ao petista, um “crédito de confiança para colocar as coisas no lugar”.

A confiança de Lula no novo comandante foi demonstrada durante passagem do petista na Argentina. Durante discurso, o presidente afirmou que Tomás Miguel pensa “exatamente” como ele. “Eu escolhi um comandante do Exército que não foi possível dar certo (Júlio Cesar de Arruda), e escolhi outro comandante. Tive uma boa conversa com o comandante (Ribeiro Paiva), e ele pensa exatamente como tudo que tenho falado sobre a questão das Forças Armadas.”

Desde os ataques do dia 8 de janeiro, uma fragmentação foi vista na relação entre a presidência da República e as Forças Armadas. Lula chegou endurecer o discurso em relação à instituição militar, dizendo que “não são o poder moderador que pensam ser”. Além disso, o petista também declarou ao Estadão que “perdeu confiança” em parte dos militares. “Eu perdi a confiança, simplesmente. Na hora que eu recuperar a confiança, eu volto à normalidade”, admitiu.

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O cenário desconfiado fez com que o governo Lula acelerasse um conjunto de exonerações de militares na última semana. Ao todo, 155 deixaram seus postos. Um levantamento do Estadão, entretanto, mostrou que a maioria dos exonerados são de baixa patente, sem posição na cadeia de comando da segurança institucional.

A situação também tem ocasionado um processo de “desmilitarização” no Gabinete de Segurança Institucional (GSI), pasta que passou a ser a mais questionada no primeiro escalão do governo após o fracasso na proteção da Presidência durante os atos golpistas do dia 8. Para os próximos dias, um pente-fino deve ser feito no ministério para demitir os fardados com vínculos bolsonaristas. . Até o momento, dois nomes de generais já estão na lista de substituição: o secretário executivo, Carlos Penteado, dará lugar ao general Ricardo José Nigri; e o secretário de Coordenação e Segurança Presidencial, Carlos Feitosa, ao general Marcius Cardoso Netto.

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