BRASÍLIA E SÃO PAULO – O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, disse que os invasores de propriedades rurais no Pontal do Paranapanema (SP) montaram um “exército” com fins políticos, realizaram extorsões e não tinham intenção de fazer o plantio nos territórios ocupados. Ele foi convidado pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Foram 19 propriedades invadidas – todas desmobilizadas – em São Paulo ao longo de fevereiro de 2023. As operações policiais que desmantelaram ações da Frente Nacional de Lutas (FNL) durante o que foi chamado de “carnaval vermelho” observaram que o grupo se aproveitou da concentração das forças policiais durante as festas na capital paulista.
“Era um movimento político. As invasões não eram feitas com grandes quantidades de pessoas. Você não via famílias ocupando essas áreas” afirmou.
Derrite também disse que a investigação policial não encontrou material para plantio e relatou a existência de provas testemunhais que um dos líderes da Frente Nacional de Lutas, Cláudio Ribeiro, exigiu uma propina de R$ 25 mil a proprietários rurais que tiveram seus terrenos invadidos.
Cláudio foi um dos presos, ao lado de José Rainha Júnior, principal referência da FNL, por extorsão, em março. Rainha será ouvido pela comissão nesta quinta-feira, 3.
Os membros do governo na CPI aproveitaram para criticar a condução da pasta na Operação Escudo, realizada pela Polícia Militar de São Paulo, que matou pelo menos 14 pessoas no Guarujá, no litoral do Estado.
Ele elogiou a postura do governo e afirmou que as denúncias de tortura enviadas ao ouvidor das Polícias do Estado de São Paulo, Cláudio Silva, são uma “narrativa”.
“O que existe, pela primeira vez no Estado de São Paulo, é um governador que tem coragem de enfrentar o crime organizado”, disse.
Derrite foi eleito no ano passado para o segundo mandato de deputado federal pelo PL de Jair Bolsonaro, mas se licenciou do cargo para assumir a Secretaria de Segurança Pública da gestão de Tarcísio de Freitas (Republicanos). Em 2018, quando foi escolhido nas urnas pela primeira vez, era filiado ao PP. Derrite é policial militar.
A solicitação para o depoimento do secretário é do deputado Kim Kataguiri (União Brasil-SP). No requerimento, o parlamentar justifica a oitiva como uma “oportunidade para que o público tenha acesso às informações necessárias para uma análise adequada e fundamentada das ações do Estado no enfrentamento das invasões do MST e dos delitos relacionados”.
Em março deste ano, sob a gestão de Derrite, a Polícia Civil de São Paulo fez duas prisões de lideranças do MST no local: José Rainha e Luciano de Lima. Elas ocorreram no bojo de uma investigação que apura supostos atos de extorsão praticados por sem-terra contra proprietários do Pontal. Na época, Derrite parabenizou a polícia pelas prisões.
As prisões são mencionadas no pedido feito por Kataguiri como uma das justificativas para a oitiva do secretário pela CPI.
Outros depoimentos
Além do secretário, estão previstos nesta quarta mais quatro depoimentos. A pedido da deputada Carol de Toni (PL-SC), serão ouvidos João Henrique Wetter Bernardes, auditor da Controladoria-Geral da União (CGU) e Leonir Bampi, servidor do Tribunal de Contas da União (TCU).
A pedido de Ricardo Salles (PL-SP), que foi ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, mais dois servidores da Corte são ouvidos: Cintia Zaira Messias de Lima e Roberto Eiji Sakaguti. Os dois trabalham em áreas ligadas ao controle ambiental do TCU.
‘General Melancia’
A sessão da CPI do MST desta terça-feira, 1º, que inaugurou o retorno das atividades do colegiado, teve o depoimento do general Gonçalves Dias, conhecido como G. Dias, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência no governo Lula. Deputados bolsonaristas levaram uma melancia para hostilizar o general.
Entre militares, a fruta – verde por fora, vermelha por dentro – é usada com mote de chacota aos membros do Exército considerados de esquerda.
Outro conflito foi entre Sâmia Bonfim (PSOL-SP) e Salles. A deputada acionou a Corregedoria da Câmara por causa de elogios que o ex-ministro fez ao Golpe de 1964. Os dois têm um histórico de discussões em sessões da CPI.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.