Integrantes da CPI do MST hostilizam ex-ministro G.Dias em depoimento

Colegiado deve votar a convocação de mais dois ministros de Lula; oposição tenta estender duração da CPI por mais 60 dias

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Atualização:

BRASÍLIA e SÃO PAULO — Integrantes da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST) usaram o depoimento do ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo Lula, o general Marco Edson Gonçalves Dias para hostilizá-lo.

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G. Dias, como é chamado, viu integrantes da oposição ao governo do petista Luiz Inácio Lula da Silva, maioria na CPI, usar até uma fruta para vincular o general da reserva aos partidos de esquerda. Deputados bolsonaristas levaram pedaços de melancia para o plenário da comissão. Era uma referência a maneira com que militares se referiam a colegas que consideravam esquerdistas ao dizer que alguns oficiais eram verdes por fora, mas vermelhos por dentro.

O relator da comissão, deputado Ricardo Salles (PL-SP), também não poupou o ex-ministro de Lula. Resgatou um episódio em que o general teria “colado” na prova da academia militar, em 1975, e ainda disse que ele era uma “traição aos colegas da caserna”.

Salles começou a inquirição perguntando se G. Dias via os acontecimentos de 31 de março de 1964, data do início do golpe como positivo ou negativo. G. Dias limitou-se a dizer que via o que aconteceu naquele momento nem como golpe ou revolução, mas como um “movimento”. “É uma traição aos seus colegas de caserna, dizer que 64 não seja uma boa medida. Não hesite em defender 64. Faça as ressalvas que tenha que fazer, mas defenda”, rebateu Salles.

O episódio rendeu mais outra sequência de conflitos entre deputados. “Ele quer constranger. Isso aqui não é a CPI de 64”, disse Lídice da Mata (PSB-BA). “O senhor é um golpista, e não deveria usar seu tempo de fala para elogiar horrores da ditadura militar”, afirmou Sâmia Bomfim (PSOL-SP).

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Os ataques, ainda assim, continuaram. Os deputados Delegado Éder Mauro (PL-PA) e Messias Donato (Republicanos-ES) expuseram uma melancia à audiência para debochar de G. Dias.

“Quando as pessoas falam ‘G. D.’, elas se envergonham”, disse o deputado Coronel Chrisóstomo (PL-RO), que o saudou anteriormente com uma continência. “Era tão bom caminhar e ouvir aplausos para as Forças Armadas. Hoje, a cipoada é grande. Talvez na imprensa vão falar ‘coronel baixa o chicote no general.’”

Cobrado sobre falta de relatórios da Abin sobre invasões de terra na gestão petista, o general alegou que só ficou com a agência sob seu comando até março. E que no começo do ano não foi informado pela Abin das ações do MST.

A oposição reforçou a associação do general com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante os dois primeiros mandatos e também lembraram um episódio de 2012, quando G. Dias, àquela época comandante de 6ª Região do Exército e responsável pela operação militar na Bahia, ganhou um bolo de aniversário de policiais militares em greve, que ocuparam a Assembleia Legislativa da Bahia.

“Talvez seja do seu caráter tratar com cordialidade quem invade prédios públicos e causa terrorismo”, afirmou Gustavo Gayer (PL-GO).

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A convocação de G. Dias na CPI do MST, dominada por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), reflete uma estratégia da oposição em contornar as barreiras na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro, que tem maior controle do governo.

“Seria interessante se a gente começasse a aprovar requerimentos relacionados a 8 de janeiro, já que lá na CPMI eles não permitem que isso aconteça”, disse Marcos Pollon (PL-MS), em sessão da CPI do MST no mês passado.

Os membros do governo Lula se posicionaram ao lado do ex-ministro. “Eu quero pedir desculpa, General G. Dias. A comissão não deveria ter feito isso com o senhor. Aqui o que nós tivemos foi uma demonstração de desrespeito, covardia, desvio do objeto colocado”, disse Gleisi Hoffmann (PR), presidente nacional do PT.


General Gonçalves Dias é ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo Lula Foto: Wilton Junior/Estadão

A sessão da CPI desta terça-feira ocorre um dia depois de integrantes do MST ocuparem uma área do centro de pesquisas da Embrapa Semiárido, órgão ligado ao Ministério da Agricultura e Pecuária, em Petrolina (PE) nesta segunda-feira, 31. De acordo com o movimento, a decisão foi tomada após o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não cumprir a promessa de destinar áreas para assentar as famílias acampadas na região. A negociação entre o chefe do Executivo e os integrantes do movimento aconteceu em abril deste ano, durante a onda de invasões que fizeram parte do “Abril Vermelho”.

As invasões do MST no primeiro semestre já haviam causado problemas para o governo, afastando representantes do Planalto da Agrishow, maior evento do agronegócio na América Latina, em São Paulo. Na época, ministro da Agricultura e Abastecimento, Carlos Fávaro, chegou a ser “desconvidado” da abertura da feira após ter sido informado pelos organizadores que Bolsonaro estaria presente.

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O deputado Luciano Zucco (Republicanos-RS), presidente da comissão, apresentou requerimento para prorrogar por mais 60 dias o trabalho do grupo Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados

CPI do MST pretende fazer agosto tenso para Lula

Como mostrou o Estadão, a cúpula da CPI do MST já havia prometido um agosto tenso para o governo Lula, mas os ânimos se intensificaram com o último episódio de invasão nas áreas da Embrapa.

Nesta sessão, a CPI aprovou a convocação do ministro da Casa Civil, Rui Costa, também para falar sobre os relatórios da Abin, que foi transferida para a sua pasta. Internamente porém, a oposição pretende usar o desafeto de Rui Costa contra o MST também para constrangê-lo.

Entre as novas demandas do grupo, estão a votação de 11 requerimentos, sendo três deles para convocação do ministros do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, e da Casa Civil, Rui Costa.

O líder do MST, João Pedro Stedile, e o líder da Frente Nacional de Luta, José Rainha Júnior, participarão de audiências e integrantes do atual governo Lula deverão ser ouvidos pelos membros da comissão.

Uma das propostas da cúpula da CPI é estender o trabalho do grupo. O deputado Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS), presidente da comissão, apresentou requerimento para prorrogar o colegiado por mais 60 dias. Inicialmente, funcionaria até 3 de setembro. A base de Lula tem se posicionado de forma contrária à ideia.

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Outro ponto que interessa tanto o relator da comissão, deputado Ricardo Salles, quanto parlamentares da oposição é a votação de requerimentos para realizar oitivas com pessoas ligadas ao MST e que ganharam cargos na estrutura do governo Lula.

MST produz contraofensiva à CPI com ataques a integrantes

O MST vê a produção de conteúdos nas redes como um dos principais focos de defesa. O movimento criou grupos no WhatsApp para divulgar materiais contra a CPI e seus integrantes. “Hoje, dia 01/08, retornam as sessões da CPI contra o MST. Abriremos o grupo a partir das 14h, e enviaremos conteúdos para serem usados nas redes sociais! Vamos juntos e juntas nessa luta #TôComMST. Viu algum infiltrado, avise os admin”, escreveu um administrador de um desses grupos.

Uma outra administradora logo compartilhou, poucos minutos antes de começar a CPI, um vídeo contra parlamentares e o relator, RIcardo Salles.

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