Ex-comandante do Planalto, general Dutra diz à CPMI que não houve omissão de militares no 8/1; veja

Militar deverá respondeu a perguntas dos parlamentares sobre o motivo de não ter desfeito os acampamentos golpistas em frente ao Quartel General do Exército e a atuação de suas tropas no 8 de janeiro

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Foto do author Weslley Galzo
Atualização:

BRASÍLIA - O general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, ex-chefe do Comando Militar do Planalto (CMP) durante os ataques criminosos às sedes do Três Poderes, disse nesta quinta-feira, 14, à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro que as Forças Armadas agiram para dissuadir os golpistas naquele dia. “Diante dos fatos apresentados, não há como se concluir que houve inércia ou omissão dos militar”, afirmou.

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Dutra foi questionado desde o primeiro momento sobre os motivos de o seu batalhão não ter desfeito os acampamentos golpistas em frente ao Quartel General do Exército em Brasília, assim como a sua motivação para impedir que a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) efetuasse prisões no local na noite da invasão às sedes dos Três Poderes.

A relatora Eliziane Gama (PSD-MA) perguntou a Dutra se houve ação deliberada do seus comandados para impedir a remoção das pessoas acampadas da frente do QG do Exército. O acampamento durou mais de dois meses com apelos por intervenção das Forças Armadas para impedir a posse e o governo do presidente Lula. “Em Nenhum momento nós impedimos (a desmontagem do acampamento). Nós trabalhamos de maneira extremamente sinérgica com os órgão de segurança pública”, respondeu.

Em relação à sua atuação no dia 8 de Janeiro, Dutra disse que o Gabinete de Segurança Institucional (GS) acionou o Comando Militar do Planalto (CMP) às 11h54 solicitando apoio para proteger o Palácio do Planalto. Às 12h30, um pelotão designado pelo então comandante teria chegado à sede do Poder Executivo federal. O general, contudo, não explicou porque o grupamento não impediu a invasão do prédio pelos golpistas.

Em abril, Dutra foi exonerado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) do posto de comandante militar do Planalto. A decisão ocorreu em meio às acusações de que o militar teria sido omisso no combate às invasões do 8 de janeiro, quando golpistas tomaram e depredaram os prédios do Supremo, Planalto e Congresso na Praça dos Três Poderes. Naquele mesmo mês, o general depôs à Polícia Federal junto com outros 80 militares sobre a eventual participação das Forças Armadas nos atos golpistas.

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DUTRA7484 BRASÍLIA DF 14.09.2023 - GENERAL DUTRA/ CPMI 8 DE JANEIRO - NACIONAL - General Gustavo Dutra, ex-comandante do Comando Militar do Planalto, depõe na manhã desta quinta-feira (14) à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro sobre atuação do Comando Militar do Planalto para desmobilizar acampamentos golpistas e no dia da invasão aos prédios dos Três Poderes - A CPMI tem a senadora Eliziane Gama como relatora e o deputado Arthur Maia como presidente. Foto: WILTON JUNIOR/ ESTADÃO Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

Antes de comparecer à CPMI, Dutra depôs à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). Na ocasião, ele relatou ter convencido o presidente Lula a efetuar a operação de prisão contra os golpistas somente no dia seguinte à invasão aos Três Poderes, no dia 9 de janeiro.

Segundo o militar, Lula estava irritado e teria dito a ele que os golpistas são criminosos e todos deveriam ser presos. “Eu disse: ‘Presidente, ninguém tem dúvida disso, estamos todos indignados, serão presos’. Ele repetiu: ‘General, são criminosos, têm que ser todos presos’”, disse Dutra á CPI do DF.

O militar argumentou que as prisões não foram efetuadas na noite do dia 8 de janeiro no Setor Militar Urbano (SMU), onde fica o QG do Exército, para evitar confrontos e eventuais vítimas.

General Gustavo Henrique Dutra de Menezes Foto: Reprodução/Exército Brasileiro

Em sua fala à CPI, Dutra disse que em nenhum momento recebeu ordem judicial para desmontar o acampamento golpista em frente ao QG do Exército até o dia 8 de janeiro. O general tem utilizado o argumento de que a Justiça não solicitou a remoção dos acampados e que, por isso, o Comando Militar do Planalto não poderia desmobilizar a manifestação golpista, sob risco de violar o direito a protestar.

Já na CPMI, Dutra disse que teria acabo com o acampamento se tivesse recebido ordem do então comandante do Exército, general Freire Gomes. A ordem recebida, porém, teria sido no sentido contrário. Dutra disse que recebeu uma ligação de Freire Gomes no dia 29 de dezembro do ano passado com a determinação de que interrompesse a desmobilização do acampamento que era conduzida pela PM do DF.

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O ex-comandante do Planalto ainda argumentou que o local do acampamento estava esvaziado entre os últimos dias do ano passado e no início deste ano.

“Ele (Dutra) se contradiz e não se sustenta a tentativa dele de dar legalidade ao acampamento. O acampamento era ilegal. Havia ali claramente uma tentativa de questionar o processo eleitoral, de forma muito clara, fazia defesa de intervenção militar”, disse a relatora Eliziane.

A relatora defendeu como medida adicional antes da conclusão dos trabalhos da CPMI a realização de acareação entre o general Dutra e coronel da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) Jorge Naime para confrontar as duas versões sobre a tentativa de desmontagem dos acampamentos golpistas em frente ao Quartel General do Exército em Brasília. O policial alega que houve diversas tentativas do governo do DF em desmobilizar o acampamento, mas que todas as operações foram obstruídas pelo Exército.

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