BRASÍLIA – Seis anos depois do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, a investigação se aproxima de um desfecho, a partir da prisão do deputado federal Chiquinho Brazão e do conselheiro do Tribunal de Contas do Rio Domingos Brazão, suspeitos de serem os mandantes, e do delegado Rivaldo Barbosa, que chefiou a Polícia Civil do Rio e teria atuado para proteger os irmãos.
Nos mais de dois mil dias após assassinato de Marielle e do motorista Anderson Gomes, os mandantes e as motivações do crime eram os principais questionamentos, em uma investigação marcada por outros assassinatos e obstrução de Justiça.
O advogado Ubiratan Guedes, que representa Domingos, e o advogado Alexandre Dumans, que representa Barbosa, negam a participação deles no assassinato da vereadora. A defesa de Chiquinho Brazão foi procurada neste domingo, mas não se manifestou. No último dia 20, em nota, ele se disse “surpreendido por especulações que buscam lhe envolver no crime”.
A prisão dos suspeitos ocorreu após as delações premiadas dos ex-policiais Ronnie Lessa, apontado como responsável pelo disparos que mataram Marielle, e Élcio Queiroz, suspeito de estar dirigindo o carro usado no crime.
Veja a cronologia do caso até o momento.
Marielle Franco e Anderson Gomes são executados
Marielle Franco e Anderson Gomes foram assassinados na noite do dia 14 de março de 2018. O crime ocorreu quando o carro onde estavam foi alvo de disparos de criminosos no cruzamento das Ruas Joaquim Palhares e João Paulo I, na região central do Rio. A assessora da parlamentar, Fernanda Chaves, que também estava no carro, sobreviveu.
As primeiras suspeitas
Em maio de 2018, uma testemunha procurou a polícia para dizer que um policial militar e um ex-policial militar teriam participado do assassinato. A testemunha contou que os policiais estavam em Chevrolet Cobalt prata, que foi utilizado pelos assassinos.
Carro usado no crime foi para desmanche
Lessa e Élcio estavam no Cobalt e tentaram ocultar as provas da execução. O destino do veículo foi um desmanche, que seria de propriedade do dono de ferro-velho Edilson Barbosa dos Santos, conhecido como Orelha.
No final do mês passado, Orelha foi preso em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, após ser denunciado pelo Ministério Público por impedir e embaraçar as investigações do caso.
Suspeitas de obstrução de Justiça dentro da investigação
No início de novembro de 2018, o então ministro da Segurança Pública Raul Jungmann anunciou que a PF passaria a investigar a existência de um grupo criminoso que estava articulado para atrapalhar e impedir as investigações do assassinato de Marielle. O ministro solicitou a instauração de inquérito policial para apurar o envolvimento de agentes públicos, milicianos e contraventores que estariam atuando em conjunto.
General diz que milicianos mataram Marielle por terras
Em dezembro de 2018, o general Richard Nunes, que atuava na equipe que liderou a intervenção federal do Rio, afirmou em uma entrevista ao repórter Marcelo Godoy, do Estadão, que Marielle havia sido morta porque porque milicianos acreditaram que ela podia atrapalhar os negócios ligados à grilagem de terras na zona oeste do Rio. O militar também disse que o crime estava sendo planejado desde 2017.
Ronnie Lessa e Élcio Queiroz são presos
Em março de 2019, os ex-policiais Ronnie Lessa e Élcio Queiroz foram presos pela Polícia Civil do Rio. O delegado Giniton Lages, que então estava à frente do caso, afirmou que os mandantes e as motivações do crime seriam elucidados em breve.
Neste domingo, 24, Giniton também foi alvo de busca e apreensão neste domingo, sendo acusado de obstrução da Justiça. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes também ordenou que ele seja afastado das funções públicas.
Descoberta dos 117 fuzis
Também em março, a Polícia Civil do Rio apreendeu o maior arsenal de fuzis já encontrado no Estado até então. Foram localizadas 117 armas modelo M-16, desmontadas, que estavam na casa de Alexandre Motta Souza, que era amigo de Ronnie Lessa.
PF vê Domingos Brazão como ‘autor intelectual’ dos assassinatos
Em setembro de 2019, um relatório da PF apontou Chiquinho Brazão como o “autor intelectual” do duplo assassinato. Na ocasião, o conselheiro do TCE-RJ também foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por obstrução de Justiça.
Laudo falso de porteiro que incriminou Bolsonaro
Em outubro de 2019, foi veiculada uma reportagem do Jornal Nacional, da TV Globo, que mostrava que um dos porteiros do condomínio Vivendas da Barra, onde morava Ronnie Lessa, afirmou em depoimento que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que também tem uma residência no condomínio, havia liberado a entrada de Elécio Queiroz no dia da execução.
Posteriomente, o porteiro voltou atrás e disse que havia se enganado ao falar que telefonou para o “seu Jair”. Em novembro, o funcionário foi alvo de uma investigação que concluiu, em fevereiro de 2020, que outro funcionário havia interfonado para Lessa e não o que tentou incriminar Bolsonaro.
Provas atiradas em alto-mar
Em junho de 2020, uma força-tarefa formada pela Polícia Civil do Rio, pelo MPRJ e pela Corregedoria do Corpo de Bombeiros do Estado prendeu um bombeiro acusado de obstruir as investigações dos assassinatos. O cabo Maxwell Simões Correa, conhecido como Suel, teria jogado armas e outras provas em alto-mar assim que os suspeitos pelo crime foram presos. A mulher de Lessa, Elaine Lessa, também foi presa.
O ex-bombeiro foi preso na residência dele no dia 24 de julho de 2023, e transferido para a Penitenciária Federal de Brasília no dia seguinte, dia 25.
Morte de envolvidos no assassinato
Em novembro de 2021, o sargento reformado da PM Edmilson da Silva de Oliveira, mais conhecido como Macalé foi morto a tiros na Zona Oeste do Rio. Segundo a delação de Élcio Queiroz, Macalé foi o responsável por contratar Ronie Lessa para o crime, sendo o intermediador entre os mandantes e o executor do assassinato.
Macalé não foi o único envolvido que foi morto após o crime. Menos de um mês após a morte de Marielle, Lucas do Prado Nascimento da Silva, conhecido como Todynho, foi assassinado em uma emboscada na Avenida Brasil. Ele é apontado como responsável por alterar o documento do veículo utilizado por Lessa e Élcio Queiroz.
Dino diz que investigação sobre o caso Marielle será ‘intensificada’
Em fevereiro de 2023, o então ministro da Justiça e Segurança Pública Flávio Dino afirmou que a PF ia “intensificar” o apoio à investigação sobre a execução de Marielle e Anderson Gomes. Assim que tomou posse na Justiça, Dino, que atualmente é ministro do STF, afirmou que desvendar o assassinato da vereadora era “questão de honra do Estado brasileiro”.
Élcio Queiroz faz delação premiada com a PF
Em julho do ano passado, o ex-policial Élcio Queiroz confessou, em uma delação premiada, que dirigia o veículo usado na execução e que participou do planejamento do crime. Queiroz também citou que Domingos Brazão era o mandante do crime, o que fez com que o caso fosse remetido ao Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Dino diz que caso Marielle está próximo de ser elucidado
Em dezembro, Dino afirmou em uma coletiva onde apresentou um balanço sobre as ações do Ministério da Justiça, que o caso seria “elucidado em breve”. O ministro declarou que o inquérito estava em sua fase final e criticou as investigações anteriores que, segundo ele, haviam desaguado em “apurações paralelas”.
Ronnie Lessa é condenado
No mês passado, a Justiça do Rio condenou Ronnie Lessa a seis anos e oito meses de prisão em regime semiaberto por contrabando de peças e acessórios de armas de fogo. A denúncia do Ministério Público Federal (MPF) indicou que, entre os anos de 2017 e 2018, o ex-policial fez dez importações ilícitas de peças e acessórios bélicos que poderiam ser usados para a montagem de fuzis e armas de airsoft.
Delação de Ronnie Lessa é homologada
Na última terça, 19, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, anunciou que o STF homologou uma delação premiada concedida por Lessa. Na colaboração, o deputado federal Chiquinho Brazão foi citado como um dos mandantes do crime, o que motivou o deslocamento do caso do Superior Tribunal de Justiça (STJ) para o Supremo Tribunal Federal (STF).
Suspeitos de serem os mandantes são presos
Cinco dias após a homologação da delação de Lessa, a PF deflagrou a Operação Murder Inc., que prendeu os três suspeitos de envolvimento no assassinato da vereadora. A ação também cumpriu 12 mandatos de busca e apreensão na capital carioca expedidos pelo STF.
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