BRASÍLIA - Símbolo de pujança econômica e dos arranha-céus que tapam o sol dos banhistas, Balneário Camboriú vem se firmando como o mais novo polo bolsonarista do País. No fim de semana, a cidade no litoral catarinense será palco de um evento que vai reunir a cúpula da direita radical sul-americana, o CPAC Brasil, organizado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
A conferência terá como palestrantes não somente as principais lideranças da direita nacional, mas o presidente da Argentina, Javier Milei, o candidato derrotado à Presidência do Chile em 2021, José António Kast, e o ministro da Segurança Pública de El Salvador, Gustavo Villatoro, um dos responsáveis pela política de prisões em massa posta em prática pelo autoritário Nayib Bukele.
Depois de ter reunido milhares de pessoas em quatro edições nas grandes metrópoles de São Paulo, Brasília, Campinas e Belo Horizonte, Eduardo decidiu levar o seu evento, inspirado no CPAC americano, para a 12ª maior cidade de Santa Catarina (o décimo Estado mais populoso do país) não à toa.
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O município de 140 mil habitantes ao norte da capital Florianópolis deu 75% dos votos a Jair Bolsonaro na eleição de 2022 e deve ser a “quarta sede” do clã, uma vez que Jair Renan Bolsonaro (PL-SC), quarto filho do ex-presidente, vai se lançar à Câmara Municipal. Enquanto isso, seus irmãos estão vinculados a endereços como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, os principais centros do poder nacional.
O prefeito de Balneário Camboriú, Fabrício Oliveira, também presidente municipal do PL, aposta no “filho 04″ de Bolsonaro como puxador de votos na eleição de outubro, e diz que o alto desempenho do ex-presidente em sua cidade reflete a convergência de ideias na área econômica, principalmente.
“O modelo do PT diverge totalmente de como governamos Balneário. Eu não vejo o PT carregando bandeiras dos investimentos (da iniciativa privada), do combate à criminalidade. Somos uma das cidades mais empreendedoras de Santa Catarina”, afirma Oliveira ao Estadão.
O prefeito diz não ter definido a agenda com o chefe de Estado argentino, mas, se pudesse, o levaria para conhecer “as belezas” da cidade, como as praias, além de visitar a Casa do Autista — projeto para atendimento da população autista infantil que teve a presença de Michelle Bolsonaro na inauguração, na semana passada — e a Casa da Família, um espaço para promoção de interações familiares.
Júlia Zanatta (PL-SC), deputada da tropa de choque de apoio a Bolsonaro na Câmara, diz que pedia há muito tempo para que o CPAC Brasil fosse realizado em seu estado. Seu marido, o empresário Guilherme Colombo, está envolvido na organização do evento com o advogado Sérgio Sant’Ana, diretor do Instituto Conservador-Liberal, que tem como sócio Eduardo Bolsonaro.
Balneário Camboriú foi escolhida por Eduardo como sede da conferência pela infraestrutura da cidade, diz Zanatta. Mas ela vê sentido em trazer a cúpula da direita brasileira para o interior do estado, e não para Florianópolis, onde a esquerda é mais forte. No segundo turno da eleição de 2022, o então presidente teve 53,33% contra Lula na capital catarinense, enquanto marcou 69,27% no estado inteiro.
“O interior é muito mais bolsonarista. A capital é o pior lugar. Foi o único lugar (do estado) em que fui hostilizada entregando santinho”, afirma ela.
Estrela do evento
Javier Milei pisará pela segunda vez no CPAC Brasil. Em junho de 2022, na edição organizada no interior de São Paulo, o argentino — já alçado pela plateia como futuro presidente — participou de uma conferência ao lado de Eduardo e Kast.
Na ocasião, o argentino defendeu temas como a liberdade econômica, o livre mercado irrestrito e o armamento da população civil. Também tirou desinformação da cartola ao atacar o socialismo, ao dizer que regimes de esquerda “mataram 150 milhões de pessoas” no mundo. Assim como o discurso bolsonarista em 2018, Milei se gabou de contrariar a descrença de comentaristas de que ele pudesse se tornar um candidato viável, citando seu crescimento nas pesquisas eleitorais dos meses anteriores. Eduardo chegou a desdenhar o fato de que alguns levantamentos brasileiros apontavam uma eventual vitória de Lula no primeiro turno da eleição que ocorreria em alguns meses — o que acabou quase se concretizando.
Desta vez, a presença de Milei no Brasil terá repercussões mais estrondosas. Primeiro por ter esnobado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao visitar o país sem notificar oficialmente o governo brasileiro — o que é incomum na diplomacia mundial e considerado uma ofensa. Segundo porque, após a viagem ao CPAC Brasil, o argentino deve faltar à cúpula de líderes do Mercosul na segunda-feira, dia 8, em Assunção, no Paraguai.
A secretária do Itamaraty para a América Latina e o Caribe, Gisela Maria Figueiredo Padovan, chamou de “lamentável” a ausência do presidente da Argentina no evento, em declaração feita na quarta-feira, dia 3. Essa seria a primeira cúpula de Milei no bloco, desde sua chegada ao poder, mas ele preferiu ficar marcado como o primeiro presidente argentino ausente, conforme registros do Itamaraty.
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