Damares Alves (Republicanos), ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, e senadora eleita pelo Distrito Federal, afirmou nesta quinta-feira, 13, que as denúncias que fez sobre o tráfico sexual de crianças na Ilha de Marajó foram baseadas em conversas que teve com populares na rua.
Em entrevista à Rádio Bandeirantes, Damares foi questionada sobre um vídeo no qual ela afirma ter conhecimento de casos de abuso sexual contra crianças no Pará. As imagens foram gravadas em uma igreja da Assembleia de Deus, em Goiânia, no último sábado, 8.
No vídeo, ela diz ter visto imagens que mostram crianças com dentes arrancados, o que facilitaria a prática do sexo oral. Ao ser perguntada sobre a veracidade das denúncias, Damares afirmou que os casos já são conhecidos pelo Ministério Público do Pará e pela população do Estado.
“Eu não estou denunciando, eu estou trazendo à luz o que já estava denunciado”, disse ela. “Isso tudo é falado nas ruas do Marajó.”E completou: “Em áreas de fronteiras, escutamos coisas absurdas sobre o tráfico de mulheres e de crianças”.
A senadora ainda citou uma série de documentos e três CPIs que, supostamente, atestam a veracidade de suas falas. Segundo a ex-ministra, ela não pode revelar outras informações para não expor as vítimas.
Quando perguntada se encaminharia tais documentos ao Ministério Público do Pará, ela reiterou: “Eu só quero lembrar que as coisas que chegam na ouvidoria, a ministra não tem acesso. A ouvidoria encaminha diretamente para o Ministério Público, porque são dados sigilosos. O que eu falo no meu vídeo são as conversas que eu tenho com o povo na rua. Eu não tenho acesso aos dados, eles são sigilosos, mas nenhuma denúncia que chegou na ouvidoria deixou de ser encaminhada”.
O Estadão analisou o conteúdo das 2.093 páginas dos relatórios das três CPIs fornecidos pela assessoria da própria Damares como prova da denúncia e não encontrou os fatos que ela diz terem ocorrido na localidade paraense. Ao contrário do que disse a ex-ministra, entretanto, o próprio Ministério Público do Pará cobrou esclarecimentos, assim como a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) determinou que o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos informe detalhadamente todos os casos de denúncias recebidos pela pasta entre 2016 e 2022 que envolvem tráfico de crianças e estupro de vulneráveis.
A senadora eleita ainda afirmou que o tema está sendo politizado pela oposição, que não se importa com as crianças, mas somente com a própria senadora. “O que me incomoda é que ninguém fez nada para investigar essas denúncias, mas estão se mobilizando para calar quem trouxe a denúncia”, reclamou.
Como mostrou a Coluna do Estadão, programa criado na gestão da ex-ministra para atender moradores em situação de vulnerabilidade social em Marajó teve grandes cortes na execução orçamentária.
A política, que assume uma cadeira no Senado Nacional ano que vem, manifestou o interesse em abrir uma CPI sobre o tema. “Sem imunidade parlamentar, eu incomodei. Imagine agora no Senado, com imunidade parlamentar e querendo abrir uma CPI, onde eu terei poder de polícia. Eu serei um incomodo.”
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