Datafolha: 73% dos brasileiros afirmam confiar na urna eletrônica; em março, eram 82%

O levantamento ainda mostrou que 58% enxergam de forma positiva a atuação das Forças Armadas na contagem dos votos nas eleições

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Por Natália Santos
Atualização:

A maioria dos brasileiros afirma confiar nas urnas eletrônicas, mas o índice diminuiu desde março, segundo pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira, 27. Agora, 73% responderam que confiam no sistema eleitoral, ante 82% no levantamento anterior. A pesquisa ainda mostrou que mais da metade da população concorda com a atuação direta das Forças Armadas na contagem dos votos. Nos últimos meses, o presidente Jair Bolsonaro (PL) vem intensificando os questionamentos, sem apresentar provas, sobre a lisura do processo eleitoral e defende apuração paralela.

Segundo o levantamento, 24% dizem que não confiam nas urnas. Antes, eram 17%

A suspeição das urnas e a participação militar nas eleições são dois temas repetidos e defendidos constantemente pelo presidente Jair Bolsonaro (PL). Foto: Sérgio Lima/AFP

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Em fevereiro de 2022, em mais uma tentativa do chefe do Executivo de lançar suspeitas sobre a confiabilidade das urnas eletrônicas, ele afirmou que Exército achou dezenas de vulnerabilidades no sistema de votação eletrônica, mas não mostrou provas. Em resposta, o ministro Luís Roberto Barroso, na época presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), enviou respostas para as Forças Armadas sobre 80 dúvidas apresentadas sobre as urnas eletrônicas.

Na quarta-feira passada, 25, o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos), pré-candidato ao Senado pelo Rio Grande do Sul, afirmou é bobagem questionar a integridade das urnas eletrônicas, como tem sido feito por Bolsonaro e aliados. “Com toda a minha sinceridade, sempre pode ter algum problema. Mas desde que esse processo teve início (votação pela urna eletrônica), não teve fraude”, disse o vice-presidente. “Em um País que não guarda segredo, uma fraude já teria aparecido. É uma bobagem ficar alimentando isso aí.”

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A pesquisa Datafolha ainda mostrou que 58% dos entrevistados concordam com a participação das Forças Armadas na contagem dos votos da eleição - 45% concordam totalmente e 13%, em partes. Para 40% do eleitorado, a participação direta dos militares não é aprovada - 33% discordam totalmente e 7%, em partes. Outros 2% não souberam responder e 1% não concorda e nem discorda.

Em abril, durante cerimônia no Palácio do Planalto para defender o que chamou de “liberdade de expressão”, Bolsonaro pregou a proposta de uma contagem paralela de votos, controlada pelas Forças Armadas.

Em reação a Bolsonaro, o ministro Edson Fachin, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), declarou que “quem trata de eleições são forças desarmadas”. “A contribuição que se pode fazer é de acompanhamento do processo eleitoral. Quem trata de eleições são forças desarmadas e, portanto, as eleições dizem respeito à população civil, que, de maneira livre e consciente, escolhe os seus representantes. Diálogo, sim. Colaboração, sim. Mas, na Justiça Eleitoral, a palavra final é da Justiça Eleitoral”, disse.

Conflito com outros Poderes

As ameaças sobre as eleições e declarações de Bolsonaro contra o TSE e o Supremo Tribunal Federal (STF) devem ser levadas a sério pelas instituições para 56% da população, de acordo com pesquisa Datafolha. A segunda maior parcela, de 36%, afirma que as declarações do presidente não terão consequências e 8% não souberam opinar.

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Desde que assumiu o cargo, Bolsonaro dispara hostilidades aos membros dos outros Poderes da República. Neste mês, o presidente tentou abrir uma investigação contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF e que presidirá o TSE durante a eleição, por abuso de autoridade. Posteriormente, a notícia-crime foi rejeitada pelo ministro Dias Toffoli, que considerou “não haver justa causa” para prosseguir com o pedido.

Moraes é um dos responsáveis por conduzir o inquérito das fake news, em que Bolsonaro é um dos investigados pelos ataques às urnas eletrônicas e ao sistema eleitoral do País.

O presidente Jair Bolsonaro e o deputado Daniel Silveira posam com cópia emoldurada do perdão presidencial, durante ato em defesa da liberdade de expressão no Palácio do Planalto, em Brasília, em 27 de abril de 2022.  Foto: Evaristo Sá/AFP

O ministro também foi o relator da ação contra o ex-deputado bolsonarista Daniel Silveira (PTB-RJ) por ataques a integrantes da Corte e à democracia. Em abril, o Supremo condenou Silveira a 8 anos e 9 meses de prisão pelos ataques. Entretanto, o parlamentar recebeu um perdão presidencial, sancionado, às pressas, por Bolsonaro em menos de 24h após a decisão da Corte.

Nesta sexta-feira, 27, Bolsonaro afirmou que assinou o perdão a Silveira para “dar exemplo” ao STF. “Exerci meu poder para dar exemplo ao Supremo Tribunal Federal, assinando a graça. Devemos respeitar os outros Poderes, mas nunca temer. É com a força de Deus que governamos para mostrar onde podemos ir”, disse Bolsonaro em evento da Assembleia de Deus em Goiânia (GO).

A pesquisa Datafolha foi feita com 2.556 eleitores acima dos 16 anos em 181 cidades de todo o País entre quarta-feira, 25, e quinta-feira, 26. A margem de erro é de dois pontos porcentuais, para mais ou para menos. O levantamento está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número BR-05166/2022.

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