A maioria dos brasileiros afirma confiar nas urnas eletrônicas, mas o índice diminuiu desde março, segundo pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta-feira, 27. Agora, 73% responderam que confiam no sistema eleitoral, ante 82% no levantamento anterior. A pesquisa ainda mostrou que mais da metade da população concorda com a atuação direta das Forças Armadas na contagem dos votos. Nos últimos meses, o presidente Jair Bolsonaro (PL) vem intensificando os questionamentos, sem apresentar provas, sobre a lisura do processo eleitoral e defende apuração paralela.
Segundo o levantamento, 24% dizem que não confiam nas urnas. Antes, eram 17%
Em fevereiro de 2022, em mais uma tentativa do chefe do Executivo de lançar suspeitas sobre a confiabilidade das urnas eletrônicas, ele afirmou que Exército achou dezenas de vulnerabilidades no sistema de votação eletrônica, mas não mostrou provas. Em resposta, o ministro Luís Roberto Barroso, na época presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), enviou respostas para as Forças Armadas sobre 80 dúvidas apresentadas sobre as urnas eletrônicas.
Na quarta-feira passada, 25, o vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos), pré-candidato ao Senado pelo Rio Grande do Sul, afirmou é bobagem questionar a integridade das urnas eletrônicas, como tem sido feito por Bolsonaro e aliados. “Com toda a minha sinceridade, sempre pode ter algum problema. Mas desde que esse processo teve início (votação pela urna eletrônica), não teve fraude”, disse o vice-presidente. “Em um País que não guarda segredo, uma fraude já teria aparecido. É uma bobagem ficar alimentando isso aí.”
A pesquisa Datafolha ainda mostrou que 58% dos entrevistados concordam com a participação das Forças Armadas na contagem dos votos da eleição - 45% concordam totalmente e 13%, em partes. Para 40% do eleitorado, a participação direta dos militares não é aprovada - 33% discordam totalmente e 7%, em partes. Outros 2% não souberam responder e 1% não concorda e nem discorda.
Em abril, durante cerimônia no Palácio do Planalto para defender o que chamou de “liberdade de expressão”, Bolsonaro pregou a proposta de uma contagem paralela de votos, controlada pelas Forças Armadas.
Em reação a Bolsonaro, o ministro Edson Fachin, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), declarou que “quem trata de eleições são forças desarmadas”. “A contribuição que se pode fazer é de acompanhamento do processo eleitoral. Quem trata de eleições são forças desarmadas e, portanto, as eleições dizem respeito à população civil, que, de maneira livre e consciente, escolhe os seus representantes. Diálogo, sim. Colaboração, sim. Mas, na Justiça Eleitoral, a palavra final é da Justiça Eleitoral”, disse.
Conflito com outros Poderes
As ameaças sobre as eleições e declarações de Bolsonaro contra o TSE e o Supremo Tribunal Federal (STF) devem ser levadas a sério pelas instituições para 56% da população, de acordo com pesquisa Datafolha. A segunda maior parcela, de 36%, afirma que as declarações do presidente não terão consequências e 8% não souberam opinar.
Desde que assumiu o cargo, Bolsonaro dispara hostilidades aos membros dos outros Poderes da República. Neste mês, o presidente tentou abrir uma investigação contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF e que presidirá o TSE durante a eleição, por abuso de autoridade. Posteriormente, a notícia-crime foi rejeitada pelo ministro Dias Toffoli, que considerou “não haver justa causa” para prosseguir com o pedido.
Moraes é um dos responsáveis por conduzir o inquérito das fake news, em que Bolsonaro é um dos investigados pelos ataques às urnas eletrônicas e ao sistema eleitoral do País.
O ministro também foi o relator da ação contra o ex-deputado bolsonarista Daniel Silveira (PTB-RJ) por ataques a integrantes da Corte e à democracia. Em abril, o Supremo condenou Silveira a 8 anos e 9 meses de prisão pelos ataques. Entretanto, o parlamentar recebeu um perdão presidencial, sancionado, às pressas, por Bolsonaro em menos de 24h após a decisão da Corte.
Nesta sexta-feira, 27, Bolsonaro afirmou que assinou o perdão a Silveira para “dar exemplo” ao STF. “Exerci meu poder para dar exemplo ao Supremo Tribunal Federal, assinando a graça. Devemos respeitar os outros Poderes, mas nunca temer. É com a força de Deus que governamos para mostrar onde podemos ir”, disse Bolsonaro em evento da Assembleia de Deus em Goiânia (GO).
A pesquisa Datafolha foi feita com 2.556 eleitores acima dos 16 anos em 181 cidades de todo o País entre quarta-feira, 25, e quinta-feira, 26. A margem de erro é de dois pontos porcentuais, para mais ou para menos. O levantamento está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número BR-05166/2022.
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