Datafolha sem grandes novidades expõe fracasso das ‘balas de prata’ de Bolsonaro; leia análise

Diferença agora é de 14 pontos, o que indica uma segunda etapa confortável ou até mesmo a vitória do ex-presidente no primeiro turno

PUBLICIDADE

PUBLICIDADE

Por Mario Vitor Rodrigues
Atualização:

A poucos dias do pleito, não se pode dizer que Bolsonaro não tentou alavancar votos, diminuir a própria rejeição e aumentar a de Lula, cada vez mais favorito para subir a rampa do Alvorada em 1° de janeiro de 2023. Seja pegando pesado nas falas para galvanizar o antipetismo, solapando o equilíbrio fiscal ou infringindo escancaradamente regras eleitorais, esforço não faltou. O Datafolha divulgado nesta quinta-feira, entretanto, indica que essas tentativas fracassaram.

PUBLICIDADE

O resultado da pesquisa divulgado nesta quinta-feira – a maior até agora, com 6.754 entrevistados, 828 a mais em relação à anterior – novamente posiciona Lula na liderança, com 47%, contra 33% de Bolsonaro. Na consulta realizada semana passada pelo instituto, o petista aparecia com 45% das intenções, contra os mesmos 33% do atual presidente da República. A diferença agora é de 14 pontos, o que indica uma segunda etapa confortável ou até mesmo a vitória do ex-presidente no primeiro turno – probabilidade ainda incerta, a depender das abstenções e das migrações de votos de Ciro e Simone.

A cada dia mais dependente de fatos imprevisíveis para mudar o cenário, resta entender o porquê de as ditas balas de prata de Bolsonaro terem falhado.

Presidente Jair Bolsonaro (PL) participa de cerimônia na Assembleia de Deus Vitória em Cristo  Foto: Mauro Pimentel/AFP

Talvez o fracasso que mais surpreenda seja o da miríade de benefícios econômicos, para além da PEC Kamikaze em si, como o Auxílio Brasil de R$ 600 e malabarismos que resultaram na queda do preço dos combustíveis e da tarifa elétrica.

Não é de hoje que incumbentes lançam mão da máquina durante períodos eleitorais — “podemos fazer o diabo quando é hora da eleição”, disse a então presidente Dilma Rousseff –, mas Bolsonaro extrapolou a prática de tal modo que o favorecimento para sua campanha era dado como certo.

Publicidade

Acontece que a péssima imagem que Jair construiu ao longo do mandato, refletida numa rejeição de mais de 50%, certamente não ajuda. Sobretudo suas retóricas e ações durante a pandemia, enquanto brasileiros morriam feito passarinhos. Provavelmente mora aí a principal razão para esse “efeito teflon” invertido, em que todas as estratégias tentadas agora, de afogadilho, não geram efeito prático em seu favor.

Vale reforçar, contudo, um dos principais fatores, se não o principal, que deve levar Bolsonaro a se tornar o primeiro presidente democraticamente eleito a não conseguir se reeleger: o fato de, ao longo de quatro anos, ter governado virando as costas para os mais necessitados.

De tal forma que até a memória afetiva de um Lula e um Brasil que não existem mais serão suficientes para destroná-lo do poder.

*É JORNALISTA

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.