O apresentador de televisão José Luiz Datena (PSDB) disse nesta terça-feira, 16, que sua intenção é ir “até o final” na sua pré-candidatura a prefeito de São Paulo, mas expressou desconfiança em relação aos políticos brasileiros e não descartou desistir pela quinta vez de disputar uma eleição caso “encham seu saco” e o “sacaneiem”. O apresentador de tv e neotucano participou de sua primeira sabatina neste ciclo eleitoral, promovida pelo jornal Folha de São Paulo e pelo portal UOL.
O jornalista negou que esteja usando a política para renegociar seu contrato com a Band e evitou se classificar dentro de um espectro político, como direita ou esquerda. Ele criticou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), assim como o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), a quem classificou como “pior prefeito da história de São Paulo”, e alfinetou o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL). O emedebista e o psolista são seus oponentes e lideram as pesquisas eleitorais neste momento.
Embora tenha brincado que a lembrança de que apoiou o atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na eleição presidencial de 1989 lhe tiraria votos, o apresentador declarou que o governo do petista foi o melhor, sem especificar a qual dos três mandatos do atual presidente se referia.
“A minha desconfiança com político é total. E até que eu faça parte do meio politico e passe a ter confiança nos políticos de forma geral, eu vou continuar na expectativa de ser ou não ser. Eis a questão”, afirmou Datena. “Se alguém me sacanear de hoje até o dia da eleição, vai ficar no meio do caminho também. [...] A minha intenção dessa vez é ir até o fim, desde que alguém não me encha o saco”, continuou.
Como mostrou a Coluna do Estadão, ainda há incerteza no PSDB se o apresentador estará nas urnas. Marconi Perillo, presidente da sigla, quer antecipar a convenção municipal que confirmaria a candidatura de Datena. A avaliação nos bastidores da sigla é que a data inicial, 3 de agosto, daria pouco tempo para negociar uma aliança com outros pré-candidatos caso o apresentador desista.
Datena criticou Nunes, que na segunda-feira, 15, disse na sabatina que a imagem do ex-prefeito Bruno Covas (PSDB), morto em 2021 vítima de um câncer, não deveria ser explorada nesta campanha e que o PSDB deveria apoiá-lo porque tem secretários no primeiro escalão da atual gestão.
“Como não relembrar o Bruno? Ele me convidou para ser o vice dele. O Ricardo disse que é uma injustiça eu ser candidato pelo PSDB. Injustiça é São Paulo ter um prefeito tão ruim como ele”, criticou o jornalista. Ele afirma que foi vice de Covas durante um mês, mas desistiu porque o estavam “sacaneando”.
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Ele também disse que Nunes tem ideias “neofacistas” pelo fato de ter colocado grades na região da Cracolândia e que a medida lembra campos de concentração implantados pelo nazismo na Alemanha. As grades, porém, foram instaladas tanto pela Prefeitura como pelo governo de São Paulo, comandado por Tarcísio de Freitas (Republicanos), e prinicipal fiador da campanha do atual prefeito. Segundo Datena, o governador disse a ele que poderia contar com seu apoio para governar caso assuma o posto.
O jornalista também marcou posição diferente de Nunes ao considerar que tanto o 8 de Janeiro quanto a tentativa de assassinato contra Donald Trump nos EUA são atentados à democracia. Na segunda-feira, Nunes relativizou a importância do ataque aos Três Poderes e afirmou que houve invasão e depredação de prédios públicos, mas que não acreditava que os envolvidos queriam dar um golpe de Estado.
Datena declarou que Boulos precisa acabar com a imagem de invasor devido à sua atuação pregressa no Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST). Questionado se a imagem corresponde à realidade, o apresentador respondeu: “Ele deve ter feito por isso. Não é à toa que dizem que ele gosta de tomar a propriedade dos outros”, acrescentando que o pré-candidato do PSOL é mais ponderado hoje do que no passado.
O pré-candidato do PSDB considera que Bolsonaro cometeu “vários erros” no governo federal, ao mesmo tempo que fez piada quando o apresentador da sabatina citou logo no início do programa que ele foi demitido da Rede Globo em 1989 por subir no palanque do petista na eleição presidencial contra Fernando Collor.
“Tinha que lembrar isso? Vai me tirar voto pra caramba”, disse Datena. Apesar de ter sido filiado ao PT por 23 anos, de 1992 até 2015, o jornalista respondeu ser “constitucionalista” ao ser questionado se era de direita ou de esquerda. “Nos extremos não há nada bom”.
Datena disse que a pré-candidata Tabata Amaral (PSB) pediu que ele se filia-se ao PSDB para ser vice dela em uma articulação para garantir apoio dos tucanos e mais tempo de propaganda eleitoral no rádio e na televisão. Segundo o apresentador, contudo, ele queria permanecer no PSB, mas cedeu aos apelos da então aliada: “Se o PSDB me fez um convite para ser prefeito, o problema é entre a Tabata e o PSDB. Não sou traidor de ninguém”. Ele indicou que o vice de sua chapa será definido pelo partido.
O apresentador também negou incômodo em aparecer na atual campanha ao lado do deputado federal Aécio Neves (PSDB), contra quem pediu prisão preventiva em 2017 pela acusação de ter recebido propina da JBS. De acordo com Datena, a crítica foi merecida diante das provas à época, mas não há constrangimento neste momento porque Aécio foi inocentado em todos os processos que respondia.
O jornalista confirmou as notícias veiculadas na imprensa de que firmou um novo contrato com a Band e aceitou reduzir em seu salário em 70%. Segundo o apresentador, ele trabalhará na emissora por dois anos com a remuneração reduzida caso não seja eleito. Segundo Datena, sua remuneração atualmente gira entre R$ 600 mil a R$ 800 mil, e sobre esse valor haverá a redução.
Apresentador aponta problemas da capital, mas tem dificuldade em apresentar soluções
A primeira sabatina de Datena como pré-candidato lembrou o programa apresentado por ele na televisão. Ele elegeu a segurança urbana como o principal foco de uma eventual gestão, fez duras críticas à situação atual e a influência do Primeiro Comando da Capital (PCC), mas apresentou poucas propostas para lidar com o quadro atual. Ao ser questionado sobre propostas para a educação, por exemplo, disse que sua proposta é investir o máximo possível na área e “pagar bem” o professor.
Em determinado momento, afirmou que nomearia Deus como secretário de Segurança Urbana pois apenas Ele teria condições de resolver o problema do tráfico de drogas e usuários na região da Cracolândia. Em seguida, porém, defendeu uma maior atuação da Polícia Civil em investigações para evitar que drogas cheguem ao Centro da capital paulista e que como prefeito pode atuar como intermediário para organizar uma ação conjunta entre governo do Estado e Ministério Público.
Datena também disse ser contra a tarifa zero aos domingos e feriados no transporte público, citando que duas empresas de ônibus que prestam o serviço em São Paulo são ligadas ao PCC, conforme mostrou a Operação Fim da Linha. O pré-candidato tucano aventou a possibilidade de se construir moradias populares na área do Jockey Club, mas disse ser contrário à construção de mais prédios em “áreas de bacana”, como na região da avenida Engenheiro Luiz Carlos Berrini e na Vila Nova Conceição.
O jornalista também defendeu “raspar o tacho” e gastar todo dinheiro que a Prefeitura tem em caixa para realizar obras e diminuir a desigualdade social, mas ressaltou que não seria irresponsável do ponto de vista fiscal. “Ah, o Datena deu pedalada fiscal. Tá bom. Me mandem embora daqui, me impichem e vão discutir com o povo que recebeu tudo que tinha direito”, declarou.
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