O apresentador José Luiz Datena (PSDB) se apresenta como um candidato independente, sem padrinhos políticos e capaz de superar a polarização representada pelas alianças feitas pelos adversários Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL). “O que está provado aqui em São Paulo é que chega de Lula e chega de Bolsonaro”, disse o jornalista em conversa com o Estadão.
Datena foi filiado ao PT por mais de duas décadas, até 2015, e recentemente disse que os melhores governos foram feitos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ao mesmo tempo, recebeu apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para se candidatar ao Senado em 2022, mas desistiu logo em seguida. Agora, ele afirma que conversar faz parte da política, mas que não poupará críticas aos líderes da polarização brasileira.
“Quem merecer críticas vai ser criticado na mesma proporção, sem problema nenhum. Não tenho preocupação nenhuma disso”, declara. “As pessoas estão cansadas dessa polarização, de tanto ódio. Eu represento o novo. Nesse cenário, eu represento o político que é independente”, continua.
A estratégia é ancorada em pesquisas: 51% dos entrevistados gostariam que o próximo prefeito fosse independente, enquanto 28% preferem um aliado de Lula e 16% um aliado de Bolsonaro, conforme levantamento Genial/Quaest divulgado na terça-feira. O mesmo levantamento aponta um empate triplo: Nunes tem 20% das intenções de voto, Boulos e Datena, 19%. A margem de erro é de três pontos percentuais.
O apresentador diz que fará “política popular” e que, junto com o vice, o ex-deputado José Aníbal (PSDB), e o PSDB, governará para “o povo”. Apesar disso, o plano de governo será elaborado por “notáveis” coordenados pelo vice da chapa. Já foram procurados o infectologista David Uip, ex-secretário no governo João Doria, e o cardiologista Roberto Kalil Filho.
Ele também faz questão de ressaltar que é contra a reeleição, indicando que não tentará um segundo mandato em 2030 caso seja eleito prefeito. Antes de se lançar como candidato, o apresentador declarou diversas vezes que seu objetivo era disputar o Senado em 2026.
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A presença de Datena nas ruas ainda é tímida. Ele fez apenas um evento público de campanha, quando caminhou pelo Mercadão em meados de julho. “Não tive tempo de fazer agenda”, explica o jornalista, acrescentando que terá compromissos externos quando houver necessidade. Aliados dizem que ele se incomoda com a comoção que causa quando chega em lugares públicos pois considera que atrapalha o dia a dia das pessoas.
“Hoje em dia você chega a qualquer lugar de uma cidade, de um país ou do mundo através de vários tipos de comunicação, como a rede social. E o importante não é você estar lá só diretamente com o povo, mas atendê-lo bem quando ele vier a você [para utilizar os serviços públicos]”, afirma Datena.
Embora adversários como Nunes, Boulos e Tabata Amaral (PSB) estejam há meses trabalhando em seus planos de governo, o jornalista afirma que ainda é cedo para tratar do tema.
Ele tem algumas propostas: instalar câmeras corporais nos fiscais da Prefeitura para coibir pedidos de propinas a comerciantes, gravar e transmitir reuniões realizadas no gabinete do prefeito e trabalhar em conjunto com as polícias Militar, Civil e Federal para “asfixiar” o tráfico de drogas em São Paulo.
Datena também promete que as subprefeituras serão comandadas por pessoas que conheçam as respectivas regiões e que haverá ao menos uma unidade básica de saúde funcionando 24 horas por dia em cada uma delas. Outra proposta, como mostrou o Estadão, é o programa “Passando a Limpo”. “Todos os contratos feitos por esse prefeito e por gente dele serão auditados e revistos. Se tiver bandido no meio desses contratos, serão presos e os contratos cancelados imediatamente. Corre o risco até, se ele tiver participação, de ele mesmo [Nunes] ir para a cadeia”, declara Datena.
A realização de obras emergenciais, que dispensam licitação, disparou na atual gestão, de R$ 80 milhões em 2020, quando o prefeito era Bruno Covas (PSDB), para R$ 2,06 bilhões em 2022, já sob Nunes. O Tribunal de Contas do Município apontou no ano passado superfaturamento de R$ 68,1 milhões em 18 obras emergenciais. A Prefeitura rebate a conclusão e nega irregularidades.
Datena também atribui a Nunes a oposição enfrentada por ele no PSDB. A convenção do partido foi marcada por um protesto liderado pelo ex-presidente da sigla em São Paulo, Fernando Alfredo, cuja esposa tem cargo comissionado com salário de R$ 17,5 mil na Companhia Metropolitana de Habitação (Cohab). Alfredo queria que os tucanos apoiassem o atual prefeito sob o argumento que ele representa a continuação da gestão Covas.
“Essa ala do partido que apoia o Ricardo Nunes foi atrás de cargo e de emenda. Tem gente dentro do partido, como esse cidadão, que nem sei direito o nome dele, que armou um verdadeiro circo, uma baderna desorganizada na Assembleia e eu quero saber quem pagou aquilo porque tinha muitos funcionários da Prefeitura lá”, acusa o apresentador.
O prefeito foi procurado, mas não respondeu até o fechamento desta reportagem. Fernando Alfredo afirma que pretende pedir a expulsão de Datena do partido porque o candidato faz ilações sem provas e que é preciso apontar quem da Prefeitura estava na convenção. Ele, no entanto, diz que “não duvida” que houvesse servidores municipais no protesto porque há quadros do PSDB na gestão Nunes.
“Ele não saber quem eu sou, é natural. Ele não sabe quem é quem no partido dele. Pena que ele me mede com a régua dele. Acha que faço político por cargo ou dinheiro. Faço há 28 anos por ideologia. No mesmo partido. Com as mesmas bandeiras. Pena a direção do PSDB não ter investido em formação política dos novos filiados”, declarou Alfredo, acrescentando que “não viu Datena” nas campanhas de Mário Covas, Geraldo Alckmin, José Serra e Bruno Covas.
O PSDB analisa expulsar Alfredo, mas por um comentário considerado homofóbico contra o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), e por ter se recuado a entregar as chaves do diretório quando deixou o comando do partido no final do ano passado.
Datena diz que estaria mais confortável em um transatlântico de luxo passeando pela Europa ou em uma pousada no Ceará do que em seu atual partido. “Claro que eu poderia estar mais confortável, mas não é uma questão de conforto. É questão de lutar pelo direito de ser candidato e representar o povo”, finaliza.
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