De quem Tabata Amaral tira mais votos? De Ricardo Nunes ou de Guilherme Boulos?

Levantamento mostra potencial de votos em São Paulo e onde os pré-candidatos disputam mais eleitores; ‘fator Tabata’ entra no radar das campanhas

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Foto do author Daniel  Weterman
Atualização:

BRASÍLIA - O potencial de votos da deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP) como candidata a prefeita de São Paulo entrou no radar das principais campanhas na capital paulista. Dirigentes partidários querem saber se Tabata realmente vai se manter candidata e, se for, de quem ela pode tirar mais votos: do atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) ou do deputado Guilherme Boulos (PSOL-SP).

Os pré-candidatos a Prefeitura de São Paulo Tabata Amaral (PSB), Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL). Foto: Werther Santana; Felipe Rau e Pedro Kirilos/Estadão

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Tabata lançou a pré-candidatura no último dia 25. O evento ocorreu na laje da casa onde morou e vive a mãe, na Vila Missionária, bairro da periferia da zona sul de São Paulo. A pré-candidata sustenta que pretende levar seu nome para as urnas, apesar das especulações de que ela poderia desistir para se juntar à candidatura de Boulos, apoiado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Na terça-feira, 30, Lula rechaçou a hipótese de tentar tirar Tabata da disputa, oferecendo um ministério, por exemplo, e a deputada federal agradeceu via redes sociais.

A deputada tem potencial de tirar mais votos de Nunes do que de Boulos, apesar de se identificar como de centro-esquerda, de acordo com análise do cientista de dados e mestre em Políticas Públicas pela Fundação Getulio Vargas (FGV) Wagner Vargas. O estudo foi feito com base no desempenho de vários políticos nas últimas eleições e na influência dos redutos eleitorais de cada um para os resultados, informações extraídas por meio de levantamentos estatísticos.

As zonas eleitorais em que Tabata foi melhor nas eleições de 2018 e 2022 como deputada federal ficam mais na área central do que nos extremos da capital, como Bela Vista, no centro, Perdizes, na zona oeste, e Jardim Paulista, na zona sul. Os locais coincidem com os que votam mais em candidatos situados no centro e na direita, como Bruno Covas (PSDB) em 2020, Andrea Matarazzo (PSD) em 2020 e Kim Kataguiri (União) em 2022.

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A correlação dos votos de Tabata com esses políticos é maior do que 72%, em uma escalada que vai de -100% a 100%. Em relação ao porcentual de votos de Bruno Covas no primeiro turno de 2020, por exemplo, as zonas eleitorais de melhor desempenho são as mesmas de Tabata em 2022. Nessa análise, é como se Tabata fosse a candidata do PSDB.

“A capacidade de Tabata Amaral de manter um apoio substancial em áreas geograficamente relacionadas à direita política é notável e reforça sua posição como uma candidata que pode surpreender nas eleições de 2024. Surpreender não é necessariamente vencer, mas, sim, impactar nos rumos de quem vai vencer”, afirma o analista.

Veja abaixo a comparação de Tabata Amaral com candidatos da centro-direita: as cores mais fortes identificam os bairros em que cada político teve o melhor desempenho e concentrou mais votos, ou seja, marcam os redutos eleitorais de cada um.

Comparação de votos de Tabata Amaral e candidatos de centro e direita. Foto: Reprodução/Wagner Vargas

“Apesar de seu discurso progressista, Tabata manteve e ampliou seus votos entre 2018 e 2022 em regiões em que o voto esperado é mais conservador ou reduto de candidatos próximo ao liberalismo econômico”, diz o cientista.

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Nesse campo, o desempenho do prefeito Ricardo Nunes ainda é uma incógnita para as estatísticas. Os votos dele como vereador em 2016 foram puxados por redutos onde Marta Suplicy, então candidata do MDB, o mesmo partido dele, é bem votada. Em 2020, Nunes foi vice de Bruno Covas (PSDB).

Comparação dos votos de Tabata Amaral com candidatos da esquerda

A correlação dos votos de Tabata com políticos de esquerda, por outro lado, está abaixo de 19%. Os redutos da deputada não coincidem com as regiões que votaram em Boulos como candidato a deputado em 2022, em Marta Suplicy como candidata a prefeita em 2016 e em Lula como candidato a presidente em 2022.

A a exceção é a comparação com Boulos como candidato a prefeito em 2020, com índice de 57%, mas ainda abaixo do verificado quanto aos candidatos da direita. A explicação é que, neste ano, o candidato do PSOL fez um movimento mais ao centro, o que não precisou em 2022, quando a eleição foi mais polarizada.

Comparação de votos de Tabata Amaral com candidatos de esquerda. Foto: Reprodução/Wagner Vargas

“As correlações entre seus votos e os votos de Guilherme Boulos, Marta e Lula foram baixas, indicando uma relação fraca ou inexistente, o que sugere o fato de que, se o cenário permanecer desta forma, sua ameaça aos candidato de esquerda pode ser menor do que o esperado”, afirma o autor do estudo.

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Em um levantamento do que as pessoas falam nas redes sociais e na imprensa, que também faz parte da análise, Tabata não está associada à esquerda – enquanto Boulos e Marta estão. A pré-candidata do PSB, por outro lado, é vinculada à assistência social, um tema mais identificado com candidatos progressistas.

Outro fator relevante é que, após o lançamento da pré-campanha, Tabata passou a ser vista pelos internautas como candidata a prefeita. Antes, ela era associada mais como deputada federal nos comentários, o que a distanciava do eleitor quando ele pensava na campanha municipal.

Tabata aposta em críticas a Ricardo Nunes e campanha faz acenos a Guilherme Boulos

Articuladores da pré-campanha da deputada acreditam que ela pode tirar votos de Nunes na classe média, entre jovens e moradores de áreas em que o PT não tem bom desempenho de votos, como na região central. Além disso, a pré-candidata do PSB quer atrair apoio de setores do empresariado.

Tabata Amaral e aliados durante lançamento da pré-campanha para a Prefeitura, em 25 de janeiro. Foto: Werther Santana/Estadão

“A cidade não é da polarização. Mesmo os candidatos de esquerda que foram eleitos aqui, dentro dos seus partidos, eram os que estavam mais ao centro”, afirmou Tabata durante o lançamento de sua pré-candidatura. Ao lado dela, o apresentador José Luiz Datena, cotado como candidato a vice, reforçou a oposição a Ricardo Nunes, dizendo que não gosta do atual prefeito, mas que gosta de Boulos e até poderia ser vice do candidato do PSOL.

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A pré-candidata do PSB optou por vestir o figuro “nem de esquerda, nem de direita” para furar a polarização entre Lula e Nunes na capital paulista. “A minha intuição, e às vezes eu acerto, é que quem está em risco aqui em São Paulo é o prefeito, é o Ricardo”, disse o ministro do Empreendedorismo, Márcio França (PSB), durante o lançamento da pré-campanha.

No discurso, porém, a deputada tem criticado mais Nunes e poupado ataques públicos e diretos a Guilherme Boulos. Os dois fazem parte da base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). no Congresso. “É absolutamente normal quem disputa o cargo apontar as falhas de quem está administrando”, disse o deputado Jonas Donizette (PSB-SP) ao Estadão. “É uma eleição de dois turnos e a Tabata preocupa os dois lados”.

No raciocínio de alguns dirigentes partidários que apoiam Ricardo Nunes na eleição, se Tabata se juntasse com Boulos logo no primeiro turno, ela poderia tirar votos do atual prefeito. Com uma candidatura própria, por outro lado, isso ainda pode acontecer, mas é mais provável que a eleição se defina no segundo turno entre os candidatos do MDB e do PSOL.

“Minha preocupação com o Boulos era se ele botasse uma menina como a Tabata de vice. Eu fiquei muito feliz com a Marta como vice de Boulos, porque isso favorece o Ricardo Nunes”, afirmou o presidente do PP, Ciro Nogueira, ao Estadão.

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