O cardápio de acontecimentos na última semana da corrida presidencial foi bastante farto, o que à primeira vista causaria impacto importante na cena eleitoral. A oferta de temas agradava diferentes freguesias; dos temas associados ao debate econômico, passando por discussões relativas à segurança pública e ao Estado democrático de direito. A particularidade da corrida presidencial de 2022 era justamente de combinar o protagonismo do voto econômico com peso crescente do debate moral/costumes.
As pesquisas mais recentes, contudo, apontam oscilações na margem de erro. Dito de outro modo: as mudanças no debate público parecem não afetar as preferências do eleitorado. Notem, leitoras e leitores estamos tratando de discussões relevantes como a política de ajuste do salário mínimo e de um ex-parlamentar que respondeu a autoridade policial com artefatos bélicos.
A resiliência das preferências eleitorais deixa um universo relativamente diminuto para convencer o eleitor a mudar de ideia; basicamente as campanhas tinha espaço realista de diálogo com os indecisos e aqueles que não se sentiram mobilizados a participar da campanha.
O debate às vésperas do segundo turno é a oportunidade que as candidaturas tem de deixar a última marca nesse eleitor indeciso. Esse eleitor angustiado com a polarização, no limite, precisa de algum movimento de união, em linha com o espírito da disputa no segundo turno que é incentivar os candidatos a incorporarem novos discursos, apoios e políticas em eventual governo.
O presidente Jair Bolsonaro, na verdade, trouxe os velhos temas que serviram para reforçar o “risco da esquerda”, em alguns momentos de forma bastante desorganizada, trazendo um novo item do pacote “anti-PT”, o que não deve ser suficiente para dar cabo da tarefa de virar o jogo aos 45 do segundo tempo.
O debate retratou bastante o contexto atual da campanha, ou seja, o presidente Bolsonaro basicamente buscando escapar da armadilha do “salário mínimo” e da incerteza relativa ao valor do Auxílio Brasil, em boa medida o principal dilema da campanha à reeleição foi justamente do seu “posto Ipiranga”, status tão aclamado pelo presidente nos últimos anos.
A sensação de mais do mesmo logo apareceu por meio de acusações de quem seria mais mentiroso em meio às comparações com os governos anteriores, movimento que trouxe dificuldades adicionais ao presidente que possui avaliação positiva muito mais alta do que a atual administração.
Campanha com dois nomes que comandaram governos é basicamente campanha do passado, seja no tocante às características pessoais ou nos programas de governo. Tal comparação foi suficiente para a grande maioria do eleitorado definir seu voto. A minoria que ainda não o fez não encontrou no debate o tal do “fato novo”.
* Sócio da Tendências Consultoria é Doutor em Ciência Política (USP)
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.