Debate Estadão/Record: Nunes mira em ‘extremismo’ de Boulos, que vê gestão ‘corrupta e ineficiente’

Candidatos tentaram aumentar rejeição do adversário em encontro que também teve acusações pessoais a uma semana do segundo turno

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Foto do author Pedro Augusto Figueiredo

Os candidatos a prefeito de São Paulo Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) adotaram estratégias distintas para alcançar o mesmo objetivo no debate realizado pelo Estadão e pela TV Record na noite deste sábado, 19. Em busca de aumentar a rejeição ao adversário, ponto central na segunda etapa da eleição, o prefeito da capital paulista tentou pintar Boulos como radical, enquanto o candidato do PSOL sugeriu que a administração de Nunes é corrupta e ineficiente.

A falta de energia elétrica, que dominou o debate da Band no início da semana, também esteve presente, mas sem a predominância anterior. Seguindo o script já conhecido, o candidato do PSOL criticou o prefeito pela falta de poda e manejo das árvores e Nunes responsabilizou o governo federal e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) por não romperem o contrato com a Enel. Ambos defenderam o fim do contrato com a concessionária.

Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB) debatem propostas para São Paulo em evento promovido pelo Estadão e pela TV Record FOTO Werther Santana/Estadao Foto: Werther Santana/Estadao

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Padrinhos políticos, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com quem Boulos fez uma transmissão ao vivo neste sábado, e Jair Bolsonaro (PL), que terá agenda com Nunes na terça-feira, 22, pouco apareceram: o presidente foi citado no caso da Enel e o ex-presidente apenas quando Boulos perguntou a Nunes o que Bolsonaro fez de errado na pandemia de covid-19.

Ao final, Boulos fez acenos a eleitores de Tabata Amaral (PSB) e José Luiz Datena (PSDB), pediu que os eleitores não cedam ao medo e disse que representa a mudança. Nunes citou Bruno Covas, ex-prefeito morto vítima de um câncer em 2021, disse que “fez muita coisa”, mas que ainda há muito a fazer e por isso deve ser reeleito.

O prefeito explorou posições progressistas do adversário e do PSOL sobre segurança pública, drogas e aborto. Boulos se defendeu adotando posições mais moderadas das que já expressou no passado, como vem sendo a tônica na campanha.

“Guilherme Boulos sempre defendeu a liberação de drogas, a Marcha da Maconha, que tem que acabar com a Polícia Militar e a legalização do aborto. E quando teve projeto para aumentar a pena de bandidos na Câmara dos Deputados, ele não apoiou”, disse Nunes.

Em outro aceno à direita, o candidato à reeleição disse que diminuiu impostos e contrapôs a medida à invasão do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), do qual Boulos era coordenador, à Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) em 2016.

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“Você depredou a Fiesp e falou que era pouco. A Fiesp reúne 130 mil empresas que geram 2,5 milhões de empregos. Atraio emprego porque aqui tem segurança jurídica, combate à corrupção e desburocratização. Nunca depredei entidade. Eu converso com o setor para atrair e gerar emprego e renda”, afirmou.

Boulos contra-atacou e lembrou uma declaração do candidato a vice do adversário, Ricardo de Mello Araújo (PL), que disse em 2017 que os policiais deveriam ter postura diferente em ocorrências na periferia e no Jardins, bairro abastado da capital paulista.

Guilherme Boulos criticou gestão Nunes e questionou o prefeito sobre suspeitas que pairam sobre a administração municipal  Foto: Werther Santana/Estadão

“Eu defendo o modelo europeu: polícia armada, dura com o crime, mas que trata os cidadãos de maneira igual. Para vocês, imagino, é chave de braço e porrada no Capão Redondo e ‘bom dia, doutor’ nos Jardins”, disse Boulos. “O que a lei já diz é que quem é autor de crimes violentos não têm direito à saidinha. É isso que eu defendo”, acrescentou.

O candidato do PSOL justificou ainda que defende a separação entre traficante e dependente químico: o primeiro, para ele, tem que ser preso. Já o segundo, tratado e recuperado. Sobre o aborto, afirmou que é favorável ao que está na lei: a interrupção da gravidez é legal em casos de estupro, risco de vida à mãe e quando o feto é anencefálico.

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Boulos disse que Nunes falha em resolver temas do dia a dia da população, como o apagão, a entrega de remédios nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), a demora no cadastro para obtenção do Bolsa Família e a falta de entrega de novos Centros Educacionais Unificados (CEUs).

Ele questionou o prefeito sobre a Máfia das Creches, esquema de desvio de recursos públicos no qual Nunes é investigado pela Polícia Federal, e sobre o fato de o ex-cunhado de Marcola, chefe do Primeiro Comando da Capital (PCC), trabalhar na Prefeitura – Eduardo Olivatto é chefe de gabinete da Secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras (Siurb).

Segundo Nunes, Olivatto é concursado desde 1988, passou pelas gestões petistas e não está em posição de firmar contratos com a iniciativa privada. “Quando tem focinho de rato, rabo de rato, cara de rato, não é ursinho carinhoso, é rato. A cidade de São Paulo está na mão de esquemas desde a Máfia das Creches até o crime organizado”, afirmou Boulos.

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Ataques pessoais

Em determinado momento, o debate descambou para troca de acusações envolvendo as vidas pessoais dos candidatos. Nunes afirmou que Boulos fugiu da Justiça por seis anos e conseguiu a prescrição de uma ação por dano ao patrimônio público contra ele durante uma operação de reintegração de posse em 2012. Depois, o candidato respondeu que sempre defendeu famílias que estavam sendo despejadas e que trata-se de “dever moral”.

“Setembro de 2017: Boulos está dirigindo, bate o carro. Dá seu número de celular pro motorista e diz que vai pagar o conserto. O cara ligou e ele não atendia. Quem pagou a conta foi o papai. Com 35 anos, um marmanjo, e o papai teve que pagar a conta”, declarou o prefeito.

Nunes disse que adversário não tem experiência e colocou que Boulos é extremista. Foto: Werther Santana/Estadão

Boulos rebateu, disse que bateu o carro, mas nunca bateu em mulher, em referência a um boletim de ocorrência por violência doméstica registrado pela esposa do prefeito em 2011 – Nunes nega qualquer agressão – e que sempre pagou o conserto quando se envolveu em acidentes.

Boulos mencionou uma ocorrência em 1997 quando Nunes foi encaminhado à uma delegacia e denunciado por dar tiros para o alto na porta de uma boate em Embu das Artes. O caso foi encerrado após o prefeito comprar canecas para uma entidade que presta assistência social.

“Por que para você quem luta junto com família sem teto é extremista e quem dá tiro pra cima em porta de boate é moderado e bom cidadão?”, emendou o candidato do PSOL

Neste cenário, as propostas e a discussão sobre São Paulo ficaram em segundo plano. Uma das exceções foi quando Nunes, ao defender medidas que adotou para a segurança pública, como contratação de novos guardas civis municipais e a instalação de câmeras de monitoramento, disse que viu crianças brincando na região da Sé às 22h. “No Centro reduziu em 60% os casos de roubo e furto. Estive outro dia na Praça da Sé, por volta das 22h, tinham crianças brincando”, afirmou.

Boulos debochou da declaração. “Olha a fantasia, a ficção, que ele monta. Ele não respondeu se andaria tranquilo na cidade com o celular. A culpa sobre a cidade estar insegura é do PSOL. A culpa por ele não ter feito poda de árvore é do Lula”, disse.

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Também foram tema a privatização da Sabesp, que o prefeito defendeu e disse que o contrato terá regras rígidas, enquanto Boulos afirmou que pode se tornar a “Enel da água”; a privatização do sistema funerário, que segundo Nunes era tomado pela corrupção e o candidato do PSOL disse que vai reestatizar; e o transporte público, que foi criticado por Boulos pelo aumento de 20% no subsídio e diminuição das viagens realizadas e que, de acordo com o prefeito, pode ter a tarifa de R$ 4,40 mantida no próximo ano.

Sem plateia, os bastidores do debate foram marcados por uma disputa constante pelo direito de resposta. De ambos os lados, assessores orientavam seus candidatos a fazerem a solicitação. No primeiro bloco, assessores de Boulos ficaram irritados após uma negativa e cobraram tanto produtores do debate como o apresentador Eduardo Ribeiro. No total, Nunes pediu cinco direitos de resposta e três foram concedidos; Boulos pediu três direitos de resposta e obteve dois.

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